A 27 de fevereiro de 2014 saiu um despacho do gabinete do Ministério de Saúde que previa a integração dos Centros de Resposta Integrados na estrutura dos Agrupamentos de Centros de Saúde e das Unidades de Alcoologia e de Desabituação em instituições hospitalares, mas, um ano depois, "ainda não houve a materialização do despacho", denunciou a coordenadora de Patologia Dual do CHUC, Célia Franco.

"Os serviços iriam ser extintos, mas continuam a funcionar", havendo um "vazio grande" na integração das adições nos serviços de psiquiatria, disse à agência Lusa a especialista.

As adições "são uma doença mental e têm de ser tratadas com os mesmos recursos e serviços" que as restantes doenças mentais, defendeu, sublinhando que, "até hoje, a metodologia de tratamento partia do pressuposto que era um problema de comportamento".

Apesar de Célia Franco considerar que "os anteriores serviços fizeram um excelente trabalho", é necessário que as respostas "acompanhem a investigação" e desenvolvimentos científicos para se apresentarem serviços adequados para as adições.

A médica frisou que "50% dos doentes mentais têm problemas aditivos", sublinhando que o seu serviço trata de doentes com adições e problemas psiquiátricos.

Segundo Célia Franco, há também um "grande problema" em encarar-se pessoas com adições como "responsabilidade do assistente social e não dos médicos", alertando ainda para o facto de não haver "grande fiscalização" de instituições privadas de tratamento de toxicodependentes.

"Parece que qualquer pessoa abre uma instituição, sem qualquer controlo estatal", referiu.

A necessidade de integração das adições é um dos temas que será debatido no 2.º Congresso Ibero-Brasileiro de Patologia Dual, que se realiza no Hotel Tryp, em Coimbra, entre hoje e 07 de março, e que conta com 60 a 70 oradores.

O congresso, coordenado por Célia Franco, irá também abordar temas como resistências ao tratamento, violência interpessoal, exclusão social, questões legais ou a integração das adições nos serviços de psiquiatria.

A agência Lusa tentou obter um esclarecimento, sem sucesso, por parte da Administração Central de Sistema de Saúde, que coordena o grupo de trabalho para a integração das adições na saúde mental.