Os dados estatísticos mostram-nos a realidade inegável do envelhecimento da população mundial, contando já o planeta com mais de um bilião de pessoas acima dos 60 anos. E esta é uma realidade acerca da qual devemos, enquanto sociedade, instituições, decisores políticos, especialistas na área do envelhecimento, refletir, pois impacta, direta ou indiretamente, a vida de cada um de nós. Ter uma sociedade demograficamente envelhecida tem consequências a nível económico, social, familiar e até mesmo psicológico.
Felizmente, a evolução, os avanços da ciência, nomeadamente da medicina, bem como a melhoria das condições de vida têm permitido um aumento da esperança média de vida, até mesmo em países menos desenvolvidos. Pelo menos, assim nos dão conta os dados anunciados pela ONU em Agosto deste ano, acerca do aumento de 10 anos, em média, na esperança de vida saudável das populações da região africana.
Mas estarão as sociedades apenas a acrescentar “anos à vida” ou no caminho certo para acrescentar também “vida aos anos”?
Não é por acaso que este ano o tema da comemoração do Dia Internacional do Idoso (1 de Outubro) é a “Resiliência das pessoas idosas num mundo em mudança”. É que realmente nem sempre é fácil ser sénior numa sociedade onde ainda há muito idadismo; onde ainda se privilegia o novo e a busca pela “eterna juventude”; onde nem sempre se encontram as condições necessárias para dar resposta aos vários desafios do envelhecimento.
O mundo está realmente em mudança e também são muitas as mudanças que o envelhecimento traz, mesmo que nos casos saudáveis, não traga doenças mais graves, vai trazendo algumas limitações; traz a saída do mundo laboral e, muitas vezes, mudanças na forma como os outros olham para os seniores, ou como eles próprios se olham (e.g.: “O que eu fui e o que eu sou agora!”, “O que eu era capaz de fazer e o que faço agora!”). Todas estas mudanças, algumas delas normativas, fazem parte do desenvolvimento humano e desta fase específica do ciclo de vida, mas deixam as suas “marcas”, quer a nível físico, social, cognitivo, psicológico. O importante é que sejam acompanhadas de aceitação e de adaptação às mesmas. Não olhemos para as mudanças, nem como boas, nem como más… são o que são. Importante é adaptar-se às mesmas da forma, o mais saudável possível. Mas para isso, realmente muitas vezes é preciso ser Resiliente e é preciso que as sociedades acompanhem essas mudanças recorrendo a uma outra mudança… a de mentalidade.
Já alguma vez se questionou de que forma gostaria de envelhecer? Trata os mais velhos da mesma forma que gostaria de ser tratado um dia? Considera envelhecer como algo negativo, acha a população mais idosa “um fardo” para a sociedade ou pelo contrário, vê no envelhecimento um privilégio e nutre respeito e admiração pelos mais velhos?
O que significa para si “dar vida aos anos”? Que propósito e que objetivos de vida almeja ter quando for mais velho?
Pois é, para além de estruturas, instituições com valências que deem resposta às limitações físicas e às necessidades mais básicas que vão surgindo com o passar dos anos, é necessário também criar valências que pensem na qualidade de vida a nível psicológico, que ajudem os seniores a “conviver” com o seu envelhecimento, a aceitarem mais esta fase de vida e a olharem para ela de forma mais positiva e não como uma “espera” pela morte, mas sim como mais uma oportunidade para celebrar e aproveitar a vida.
Os seniores precisam de desafios, de algo que lhes mostre que são úteis, precisam de não se sentir um fardo na sociedade. Muitos continuam a contribuir e muito para as suas comunidades, apoiando as suas famílias e não só, sendo um exemplo de vida e uma inspiração para os mais novos. E mesmo os que já não contribuem de forma ativa, precisam e merecem ser ouvidos, sentirem-se amados e acarinhados. Precisam continuar a sonhar para continuar a viver não só por mais tempo, mas com mais satisfação, qualidade de vida e bem-estar psicológico.
Para isso, é preciso sensibilizar os mais novos para o importante papel que podem ter nestas mudanças nas sociedades modernas. Valorizar e acarinhar os mais velhos hoje, proporcionando-lhes boas condições de vida, é preparar o nosso próprio envelhecimento.
Eu pelo menos, quero continuar a acreditar numa sociedade que, não só proporciona melhores condições de vida que permitam “acrescentar anos à vida”, mas que também se preocupa em acrescentar VIDA a esses anos.
Pense nisto!
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