Este título pode fazer lembrar um refrão de uma música popular muito conhecida na década de 1980, mas retrata um pouco a necessidade que um doente tem, quando está fragilizado, com dores e desorientado, numa maca de hospital. A verdade é que, habituados a estarem na sua “zona de conforto”, as pessoas, sobretudo as mais velhas, têm uma necessidade de garantir a sua permanência equilibrada nos espaços que reconhecem. Como as podemos ajudar?

Pelos cuidados de saúde imediatos, que impelem à necessidade de “segurança” do doente num espaço de saúde, a chegada de uma pessoa idosa implica muitas vezes sair da zona de conforto. Isto é materializado, por exemplo, através de simples coisas: retirar o seu aparelho auditivo, que lhes é essencial para ouvirem o que o mundo lhes diz, e a dentadura ou prótese dentária, que lhes permite uma verbalização mais segura ao mundo que os rodeia, para além das questões de alimentação.

Sem ouvir e com dificuldade em falar, a pessoa recolhe-se numa ansiedade natural, de defesa orgânica e psicológica contra o mundo que lhe é adverso. Tudo isto acontece no hospital iluminado, com ruídos de máquinas e de instruções complexas que muitas vezes não dominam.

Há socorro geral nos cuidados de saúde, aprendido nas escolas de medicina e enfermagem, mas o doente quer mais dessa “experiência”, que muitas vezes é inesquecível. Inesquecível porque vemos tantos comentários e registos de cuidados humanizados e centrados na pessoa, tantas vezes referenciados pelos grandes estudiosos.

Os doentes querem, na verdade, cuidados assentes na sua pessoa, empáticos, compassivos, como referia João Lobo Antunes nas suas dissertações: “Pois, ainda não se encontrou melhor forma de cuidar sem empatia ou compaixão”. Sabemos que os doentes querem que se lhes abra a luz do coração, dos afetos, da conexão social. E sabemos que eles desejam que nos deitemos ao lado deles, para reconhecer o que eles sentem, sofrem e querem nesses momentos mágicos de dar mais vida e saúde. E muitas vezes basta uma conversa assertiva, clara e positiva, que ampare essa pessoa, para a deixar mais confortável e segura para os cuidados que devem ser feitos.

O poder está no lado mais forte da balança. E esse lado é o dos profissionais de saúde, que têm as competências clínicas e cujas competências relacionais e comunicacionais devem ser reforçadas. A literacia em saúde ensina-nos isso, para que o outro — o paciente — sinta essa compreensão, embora com respeito mútuo.

Tudo isto é importante para que o paciente use adequadamente os recursos de saúde, saiba navegar no sistema e aceda facilmente aos serviços biomédicos com componente biopsicossocial que lhes salvam as vidas. A saúde “abre a porta” e deve “acender a luz da compaixão” e “deitar-se ao lado do doente”.