A Madeira antecipa debate sobre a Solidão com embate na saúde.

A Associação Portuguesa de Engenharia e Gestão da Saúde (APEGSAUDE), mediante a sua iniciativa Global Thinking for Health, em parceria com Centro Cultural e de Investigação do Funchal, realizou um seminário, no dia 19 de março, dedicado ao tema: a Solidão pode Matar, colocando o debate em torno de questões como: será a “SOLIDÃO” a pandemia silenciosa do sec. XXI? A desestruturação progressiva da Família enquanto apoio das gerações mais velhas não será um fator de agravamento para a “solidão do idoso”? Uma longevidade crescente irá exigir um novo modelo social mais solidário, mais integrador e menos individualista?

Pela importância do tema, a Direção Regional para as Políticas Públicas Integradas e Longevidade (DRPPIL) acedeu ao chamamento da APEGSAUDE, e, entrosou-se no debate, com o compromisso público que a questão exige.

A preocupação com a solidão tem vindo a ganhar escala internacional, ao ponto de, em novembro 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar uma nova Comissão Internacional para a Conexão Social, com o objetivo de abordar a solidão como uma ameaça premente para a saúde, promover a conexão social como uma prioridade e acelerar a expansão de soluções em todos os países.

A Comissão prima pela composição multiestatal e pela participação ao mais alto nível ministerial, destacando-se a presença de Ayuko Kato, ministra responsável pelas medidas contra a solidão e o isolamento no Japão, vincando, desta forma, que a solidão está a ser encarada, pelas instituições internacionais como uma ameaça premente para a saúde global, exigindo uma abordagem integrada de saúde pública, a exemplo do que acontece com outros fatores de risco para a saúde, como a obesidade, tabagismo, inatividade física ou consumo excessivo de bebidas alcoólicas.

O reconhecimento da solidão não desejada como um problema de saúde pública, invocado com potencial epidémico, conforme evidencia o relatório: “Our Epidemic of Loneliness and Isolation: The U.S. Surgeon General’s Advisory on the Healing Effects of Social Connection and Community, Office of the Surgeon General (OSG).Washington (DC): US Department of Health and Human Services; 2023, determina que se conheça a carga da doença ou do impacto no individuo, a extensão de incapacidade, dor e desconforto, o custo do tratamento, o impacto na família do indivíduo e o impacto na sociedade, nomeadamente, mortalidade, morbidade e custos do tratamento.

O relatório supramencionado, identifica alguns riscos para a saúde, com impacto ao nível individual, relacionados com a solidão, equiparando a sua gravidade, em termos de morte prematura, ao risco associado a fumar até 15 cigarros por dia. Uma síntese dos dados de 16 estudos longitudinais, independentes demonstra que o isolamento social e a solidão não desejada, estão associados a um aumento de 29% do risco de doença cardíaca e a um aumento de 32% do risco de Acidente Vascular Cerebral. Outros achados de evidência científica relacionam a solidão crónica e o isolamento social com o desenvolvimento de demência, em cerca de 50% dos adultos mais velhos.

A solidão não desejada é um problema que não conhece fronteiras, nem idades. Vivek H. Murthy, Surgeon General of the United States, afirma que um, em cada quatro idosos, está em isolamento social, e que entre 5 a 15% dos adolescentes enfrentam a solidão, tratando-se de um cenário comum, em todas as regiões do mundo.

O reconhecimento do impacto na saúde da solidão não desejada e do isolamento social, cria, por outro lado, a oportunidade de admitir a urgência de uma estratégia que promova as interações sociais, e, o compromisso público de investir e tomar medidas que estabeleçam e favoreçam a nossa conexão com os outros.

A conexão social é um eixo basilar de uma política pública que visa a longevidade saudável, tal como o valor da saúde relacional é basilar, como instrumento de eficiência para o sistema de saúde, no contexto da prestação de cuidados de saúde.

Uma estratégia, seja ela nacional ou regional, focada na promoção da conexão social, deverá ser alicerçada em; reforço das infraestruturas sociais nas comunidades locais; liderança interdepartamental da promoção da conexão social, a todos os níveis do governo; mobilização do sector da saúde na formação dos profissionais e expansão da saúde pública face à epidemiologia do envelhecimento, reforma dos ambientes digitais e desenvolvimento de tecnologias pró-conexão social, agenda específica de conhecimento e investigação pró-conexão social.