A Medicina Estética é uma arte, que se traduz numa aliança entre a ciência, os conhecimentos médico-científicos e técnicos, e o design, o realce da beleza e a harmonia das formas. É uma ciência de detalhes.

O objetivo da Medicina Estética não é travar o envelhecimento nem modificar as formas humanas. O último fim será prevenir e retardar o envelhecimento, envelhecer de forma saudável e com qualidade e restaurar o volume perdido com o passar do tempo. Por outro lado, é possível aprimorar alguns traços com os quais não nos sentimos bem ou corrigir desequilíbrios naturais.

Não existe um padrão de beleza. A beleza é relativa, aquilo que é belo para mim pode não ser belo para o paciente. Não queremos produzir resultados iguais e estereotipados. Devemos, sempre, respeitar as linhas naturais do paciente.
Infelizmente, esta nova era e as redes sociais, trouxeram consigo os filtros e os ideais de beleza, inatingíveis, exagerados e desproporcionais, que distorceram a verdadeira essência da Medicina Estética. O objetivo dos injetáveis é produzir resultados subtis e naturais, impercetíveis a olhos inexperientes, isto é, as pessoas notam um aspeto mais saudável e rejuvenescido, tecem elogios, mas não conseguem apontar exatamente e concretamente a causa da mudança.

É necessária uma visão holística do paciente que temos à nossa frente. Nem sempre aquilo que incomoda o paciente é o que eu vejo ou o que acho necessário melhorar. Saber gerir a vontade do doente, desmistificar crenças ou expectativas irrealistas, e dizer “não” quando não concordamos ou não achamos adequado determinado procedimento. Uma avaliação criteriosa é o caminho certo para obtenção dos resultados desejados, ou para a falta deles.

A avaliação permite fazer diagnósticos e delinear um protocolo, que será, sempre, individualizado, de tratamentos. O planeamento, é talvez, uma das fases essenciais.

Ainda assim, é possível vermos alguns casos de excesso de preenchimento, proporções exageradas, que criam resultados artificiais. Para além disso, nota-se uma crescente demanda de resultados imediatos. E isso não é compatível com a medicina estética. Os resultados naturais requerem tempo e acomodação da pele. Nenhum resultado incrível se consegue de uma semana para a outra.

A medicina estética é uma subespecialidade médica. Sofremos, atualmente, de um grande mal que é o intrusismo e a apropriação de funções. Não basta conhecer a complexidade da anatomia facial. O primeiro e principal alicerce da nossa arte deve ser a segurança. São procedimentos extremamente minuciosos. É essencial dominar as contraindicações para cada um dos procedimentos, conhecer o historial clínico do doente e adequar e conciliar com a nossa atuação. É, importante, saber que, naturalmente, poderão haver complicações. O que diferencia um profissional habilitado para a prática desta especialidade, dos restantes, é a capacidade para as resolver. Fico estupefacta perante a coragem das pessoas em colocar a sua face, ou o seu corpo em pessoas não habilitadas, porque cobram um preço mais barato ou pelas consultas de avaliação gratuitas. O barato sai caro. Há erros que são incorrigíveis.

O que mudou com a pandemia? Em primeiro lugar, passamos mais tempo em frente aos ecrãs e, aspetos que anteriormente, apesar de não gostarmos, desvalorizávamos, agora, somos confrontados com eles diariamente e a todo o momento. Por outro lado, o uso das máscaras é o exemplo perfeito de como o olhar é importantíssimo numa face. E com o olhar, reparamos mais no terço superior da face, nas rugas, na qualidade da pele. Daí surgiu um aumento da procura dos nossos serviços. Para além disto, a recuperação dos procedimentos ficou muito mais facilitada com o teletrabalho e o próprio uso de máscaras que pode esconder os hematomas ou o edema (inchaço) que advém dos mesmos, e que as pessoas não gostam de mostrar.

O que nos reserva o futuro? Eu penso que haverá uma procura crescente pela Medicina Estética. A esperança média de vida está a aumentar, os cuidados de saúde melhoraram drasticamente, e, se podemos envelhecer bem e melhor, com mais qualidade, porque não?