O convidado apresentou a sua experiência no âmbito do Centro Nacional de Coleção de Dados em Cardiologia, que há 14 anos faz o registo contínuo de dados em pacientes cardíacos, e considerou que "os registos são uma mais-valia fantástica, porque mostram novas necessidades, permitem avaliar benefícios terapêuticos, detetar efeitos secundários, avaliar custos e a qualidade do desempenho".

Para Lino Gonçalves, os registos funcionam como "instrumentos de medição para avaliar a performance dos clínicos e das instituições, e, por refletirem o mundo real, permitem avaliar até que ponto os ensaios clínicos podem ser transferidos para a população real (que não é selecionada)".

"Ter dados concretos das populações reais é um poder de análise e estatístico muito grande, é extremamente valioso em termos científicos. Registos clínicos são seguramente fundamentais na investigação biomédica atual", concluiu. Opinião partilhada por João Morais, diretor do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Leiria e coordenador do Centro de Investigação do CHL: "a big data tem uma dimensão importantíssima em saúde nomeadamente na investigação".

Com recurso a registos em saúde é possível determinar características dos pacientes, prevalência de patologias, tratamentos aplicados, entre muitos outros parâmetros, explicou Lino Gonçalves. "Podemos dar resposta a muitas questões que levantamos, por exemplo nos ensaios clínicos, ou podemos encontrar associações e daí criar hipóteses que depois vamos investigar em ensaios clínicos". Para Lino Gonçalves ambas as ferramentas, registos e ensaios clínicos, "são claramente complementares". "Sem registos clínicos não é possível avaliar a qualidade dos cuidados prestados e melhorar, não é possível adequar as orientações clínicas", acrescentou ainda o especialista.

Mas para haver investigação, tem de haver condições: "os jovens investigadores que estamos a formar agora, a dotar ao mais alto nível podem vir a mudar a qualidade do panorama nacional", defendeu o professor, que é também codiretor do Programa da Harvard Medical School em Portugal, alertando ainda para a necessidade urgente de haver tempo protegido para os clínicos fazerem investigação, que considera ser essencial.

Para João Morais "a investigação tem de ser mais valorizada também a nível curricular, para que os jovens clínicos tenham interesse em questionar-se e em procurar respostas, para que o esforço seja devidamente recompensado e estimulante".

A este nível, "a figura do médico cientista já está prevista na lei, mas sem efeitos práticos", destacou Lino Gonçalves, "é preciso ultrapassar isto e colocar os jovens brilhantes que estamos a formar a trabalhar cá, sob pena de saírem do país mais tarde", e se perder todo o investimento na sua formação e se atrasar ainda mais a revolução na saúde.