O tendão de Aquiles deve o seu nome ao herói da antiguidade morto por uma flecha no calcanhar. É o tendão mais espesso do corpo humano, ligando os músculos da barriga da perna (gémeos e soleus) ao osso do calcanhar (calcâneo). Quando estes músculos se contraem, puxam o tendão de Aquiles, o que faz o pé mover-se de cima para baixo, empurrando o solo. É, portanto, fundamental para a nossa capacidade de caminhar, correr ou saltar.

Causas de rotura do tendão de Aquiles

Uma rotura do tendão de Aquiles ocorre tipicamente no desportista de fim-de-semana, entre os 30 e 50 anos de idade. Com o aumento da prática desportiva na população geral, tem-se assistido a um aumento do número de roturas, que ocorrem também em pessoas mais velhas ou mais novas. Apesar do tendão apresentar alterações degenerativas, em muitos casos a rotura ocorre sem aviso, em tendões até então assintomáticos.

Sintomas e diagnóstico

Tipicamente, sente-se uma dor súbita e aguda atrás do tornozelo. Por vezes ouve-se até um estalo. Muitas vezes olha-se para trás à procura de algo ou de alguém que nos tenha atingido. A rotura ocorre muitas vezes depois de uma contração súbita, como um salto ou o arranque para uma corrida. Depois da rotura a dor pode não ser intensa mas a falta de força para empurrar o solo é evidente.

Se compararmos os dois tornozelos nos primeiros dias, é notória a ausência do tendão no lado da rotura. A história clínica e o exame objetivo realizado nesta fase facilitam o diagnóstico. No entanto, este “buraco” tende a desaparecer com o passar do tempo. Exames de imagem, como uma ecografia ou ressonância magnética, podem confirmar o diagnóstico.

Por vezes, esta lesão é confundida com um traumatismo direto ou mesmo com uma entorse do tornozelo. O diagnóstico torna-se ainda mais difícil quando uma pancada ou um entorse ocorrem de facto em simultâneo com a rotura, pelo que é importante estar alerta.

Tratamento

O tratamento de uma rotura do tendão de Aquiles pode variar, dependendo da extensão da lesão e das necessidades individuais de cada um. As duas opções mais comuns são:

Tratamento conservador (não cirúrgico): A imobilização temporária com gesso ou bota ortopédica seguida de fisioterapia pode ser a opção adequada, sobretudo em casos em que o risco cirúrgico, devido a doenças concomitantes, é considerável ou em que as exigências físicas sejam baixas - por exemplo, uma pessoa idosa, diabética e sedentária.

Tratamento cirúrgico: É a opção mais utilizada, já que tem a maior probabilidade de recuperar o comprimento do tendão (fulcral para a recuperação da força) e é o método mais fiável de evitar re-roturas. As técnicas mais recentes permitem uma abordagem menos invasiva, com menores taxas de complicações, como a infeção pós operatória. A reabilitação após a cirurgia é crucial para a recuperação completa.

Prognóstico

O tendão ficará mais espesso, independentemente do tipo de tratamento, mas sobretudo se for operado.

Independentemente da opção tomada, o tempo de recuperação é muitas vezes superior a um ano. É frequente, anos mais tarde, manter-se uma assimetria no perímetro da perna ao nível dos gémeos.

Para os que praticam desporto de competição este pode ser um evento catastrófico, com muitos atletas a terminarem a sua carreira por não conseguirem retomar os níveis de rendimento pré-lesão. Este facto é mais evidente nos desportos que dependem de saltos e arranques, como o basquete ou o atletismo.

Prevenção

Para evitar a rotura do tendão de Aquiles:

  • Crie uma rotina de alongamento e aquecimento antes do exercício.
  • Alongue e fortaleça os músculos das cadeias posteriores (músculos posteriores da coxa, gémeos, soleus).
  • Evite o excesso de treino e aumente gradualmente a sua intensidade

O tendão de Aquiles tem um papel fundamental na nossa mobilidade diária e é essencial para a prática da maioria dos desportos. A sua rotura vai implicar um processo de recuperação lento, muitas vezes incompleto, pelo que mais vale prevenir a lesão.
Ortopedistas especializados em patologia de Pé e Tornozelo terão maior experiência no tratamento desta patologia e dar-lhe-ão o melhor acompanhamento e as melhores opções terapêuticas.

Um artigo do médico Daniel Mendes, ortopedista na Unidade do Pé e Tornozelo do Hospital CUF Tejo.