Os Lomi lomi Kahuna, das Ilhas Havaianas, eram mestres na manipulação do corpo e na massagem curadora. Praticavam esta antiga arte com uma forte ligação à natureza, cercados por brisas oceânicas, coloridos pôr do sol e vulcões imprevisíveis. Eram sacerdotes que praticavam a arte de curar com muita reverência, amor e espiritualidade.
Os primeiros visitantes das belas Ilhas Havaianas foram recebidos por pessoas felizes e descontraídas que os saudaram com o agora tão familiar "Aloha" e o colar de flores. Esta afável cultura é baseada nas antigas tradições espirituais que têm sido conservadas de geração em geração por cantos havaianos e história oral, e pela sagrada dança do hula.
Os mais honrados eram os Kahuna, peritos na profissão escolhida. Os Kahuna especializaram- se em áreas que variam desde a contemplação estrelar à construção de canoas; preferências escolhidas na infância e aperfeiçoadas pelo treino. Os Lomi lomi Kahuna eram mestres na massagem curadora, e acreditavam que o desconforto físico e a doença eram o resultado de emoções reprimidas, perturbações mentais ou falta de harmonia espiritual.
Os primeiros visitantes do Havai notaram o modo de vida e comentaram esta arte curadora. Em 1803, Archibald Menzies escreveu, "alguns nativos colocaram- se à nossa volta para Lomi lomi e para nos beliscar os membros, uma operação que achámos, nessa ocasião, muito relaxante e agradável quando executada suavemente." Em 1819, o Sr. Frecient escreveu, "duas mulheres aproximadamente com 40 anos de idade ajoelharam-se uma de cada lado, comprimindo e massajando os meus membros com todo o seu poder.
Todas as partes do corpo foram pressionadas entre as mãos, indo dos braços às pernas e das coxas aos ombros. Aqui, este procedimento é usado para fazer as pessoas adormecerem." No princípio de 1820, os primeiros missionários chegaram às ilhas havaianas e acharam que os curandeiros nativos eram muito exatos nos seus diagnósticos, tratamentos das doenças, e ossos partidos.
Consideraram os havaianos seres pagãos, no entanto, e em 1893, após anos de convulsões políticas, o novo governo proibiu todas as tradições espirituais, incluindo as artes curatórias, o estudo da linguagem havaiana, e a dança do hula.
Mas as tradições sagradas não morreram; foram escondidas e praticadas em segredo, sendo passadas aos sucessores só dentro da comunidade havaiana (ohana), por "iki maka lihilihi a maka alawa", que significa fazer por observação e introspeção.
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Esta tradição foi registada num boletim de saúde em 1896, pelo médico Charles Peterson, (M.D), que escreveu, "a prática de Kahunas neste distrito é uma realidade, estou certo. Os havaianos não denunciarão os praticantes, e a investigação só obterá falsidades e afirmações de ignorância. Quase todos os grupos têm o seu Kahuna na família, e de Honolulu vêm os mais sábios quando a ocasião o exige.
Encontrei, frequentemente, evidências da presença destes trabalhadores misteriosos e no círculo da cama do doente era facilmente notado quem detinha o poder. Contudo, sob nenhuma persuasão estes nativos irão admitir qualquer conhecimento de tal assunto.
A crença no poder do Kahuna, embora negada, é partilhada por todas as classes de havaianos, estou certo disso, e mesmo por alguns brancos, acredito mesmo que permitem esta prática no seio das suas famílias. O havaiano aceitará qualquer coisa proposta pelo estrangeiro e, ao mesmo tempo, manterá a crença no seu Shunt e nos seus antigos deuses."
Só em 1970 é que as leis foram mudadas e os havaianos ficaram livres para poderem continuar a prática da sua herança nativa e tradições espirituais, sem o temor de castigos. Esta liberdade reavivou a chama no coração de muitos nativos, levando a um interessante ressurgimento da sua herança cultural.
Anciões havaianos foram procurados e interrogados sobre o seu conhecimento e sobre as redes populares que existiam ao seu redor. Em 1973, Auntie Margaret Machado, uma respeitada anciã da Ilha Grande, decidiu partilhar o seu conhecimento familiar a quem mostrasse um sincero desejo de aprender, fosse havaiano ou não. Ela sentiu que tinha chegado o momento das antigas técnicas do Lomi lomi serem sentidas em todo o mundo.
Enquanto Auntie Margaret Machado foi criticada por muitos na comunidade havaiana por revelar os segredos do Lomi lomi, foi através destes seus esforços que o Lomi lomi se transformou na vanguarda do ressurgimento de interesse na cura havaiana nativa.
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O "Dicionário Havaiano de Bolso" define o Lomi lomi como um método, "esfregar, pressionar, esmagar, massajar, eliminar; trabalhar de e para fora, como garras de um gato contente". Outra tradução é, "quebrar em pedaços pequenos".
Em 1900 Lomi lomi foi classificada como "massagem havaiana" pelo sistema legal. A verdade profunda do Lomi lomi era praticamente ilimitada no que diz respeito à sua capacidade de oferecer um potencial de cura a cada paciente; no entanto, o governo de então teve que designá-la, "colocou-a numa categoria, que não é a do meio havaiano", diz Yates.
"É correto dizer que Lomi lomi é uma massagem, mas não está limitado a esta. Os nativos Havaianos dizem que a definição verdadeira de Lomi lomi é a ligação do corpo com o espírito".
A sessão tradicional de cura de Lomi lomi começa com uma investigação completa sobre a natureza da disfunção, assim como orações e várias sessões de vapores. Uma vez identificado o desiquilibrio, o tratamento começa frequentemente com pedras aquecidas e cataplasmas herbáceos. Então, o Kahuna inicia a massagem e usa técnicas específicas de Lomi lomi aplicáveis ao indivíduo.
Uma das similaridades comuns entre os antigos sábios que praticavam o Lomi lomi era o poder e o conhecimento que eles detinham, isto é, "a sua capacidade de chegar profundamente aos ossos dos pacientes através do seu toque no corpo da outra pessoa, não de uma forma agressiva e invasora, mas ligando tudo com o espírito", diz Yates de Maka'ala, um terapeuta especialista havaiano.
A técnica de Lomi lomi está focada para encontrar áreas congestionadas no corpo e descomprimi-las, movendo as palmas das mãos, os polegares, os pulsos e os antebraços em movimentos rítmicos, como uma dança. No âmbito de curar, o Kahuna utiliza a oração (pule), a respiração (ha) e a energia (mana).
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A prática de Lomi lomi era comum dentro de cada comunidade havaiana, tendo contribuído para uma sociedade vibrante e saudável. "Pacientes de um tratamento de Lomi lomi sentem frequentemente a libertação de ansiedades, preocupações, medos e outros padrões negativos".
Enquanto que o Lomi lomi é frequentemente referido como uma massagem espiritual, a técnica é também prática e específica. É, por exemplo, eficaz para eliminar depósitos de cálcio e acumulação de ácido láctico. Isto é realizado com uma variedade de movimentos, tais como golpes circulares do polegar que são aplicados num ritmo de um, dois e três, diretamente sobre a área lesionada.
Os golpes dos nós dos dedos são usados em músculos mais densos e maiores ao mesmo ritmo, seguidos de suaves golpes do antebraço. De acordo com Auntie Margaret, o Lomi lomi tem um efeito profundo na saúde e desenvolvimento dos músculos, e também na atividade sanguínea e nervos associados.
Dilata vasos sanguíneos, melhorando assim a circulação e ajudando a prevenir embolias. Alivia espasmos musculares e aumenta o índice de nutrientes trazido aos músculos pelo sangue, sem aumentar a produção de ácido láctico.
Estimula o sistema linfático a libertar produtos tóxicos, e é útil para lesões ou ruturas de ligamentos e tendões, por diminuir o edema. Também restaura vitalidade e aumenta o metabolismo.
Além dos benefícios físicos que o Lomi lomi proporciona, há a considerar as libertações emotivas sentidas durante e depois de cada sessão. As pessoas que recebem um tratamento de Lomi lomi sentem frequentemente a libertação de ansiedades, preocupações, temores e medos, ou de outros padrões negativos.
Esta libertação apenas ocorre quando o terapeuta está ciente da sua responsabilidade para com o cliente. "É um processo que permite ao cliente encontrar-se com o terapeuta a meio caminho da sua crise e então a cura pode acontecer", diz Yates. "É da responsabilidade do terapeuta de Lomi lomi guiar e tratar cada pessoa da forma mais correta usando o protocolo mais adequado, de acordo com a sua perceção.
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A finalidade do Lomi lomi é trazer o alinhamento de volta entre o corpo do indivíduo e a sua mente e espírito". Durante uma sessão genuína de Lomi lomi, o terapeuta está alinhado com a energia divina, e mantém o seu coração e mente abertos para que a energia se possa mover através dele como uma conduta de energia que cura.
Respiração adequada e pensamentos puros são importantes. De acordo com o pensamento havaiano, os pensamentos contêm mana ou energia. Quando os pensamentos são combinados com o toque e a respiração são transferidos ao recetor. Portanto, os pensamentos do terapeuta devem ser focalizados em amor e cura.
Se ocorrer algo que interfere com a capacidade que o terapeuta tem em controlar os seus pensamentos, então a Hoóponopono é praticada. Uma oração de perdão para fazer com que as coisas sejam corretas, deve ser praticada se tivermos prejudicado outra pessoa ou a nós próprios por palavras, atos ou ações.
De acordo com Mary Golden, instrutora de Lomi lomi no Colorado, a Hoóponopono é "uma prática espiritual para ficarmos bem connosco próprios e com todos os outros perante Deus. A pessoa que pratica verdadeiramente a Hoóponopono fará um inventário diário dos seus pensamentos.
Quaisquer tentativas para prejudicar, atitudes conscientes ou inconscientes de malícia, ciúme, ou ódio, devem ser desenraizadas e substituídas pelo aloha. O aloha é o reconhecimento divino em cada ser vivo". De acordo com Dane Silva, um nativo terapeuta curador havaiano das artes, "a Hoóponopono também é usada quando alguém sofreu uma perda séria, causando trauma emotivo nos órgãos internos.
Isto afeta o espírito, e leva a desiquilíbrios internos e a disfunções do sistema. A menos que sejam corrigidos e colocados de novo no sítio certo, os pensamentos, sentimentos e comportamentos podem ser negativamente afetados.
A Hoóponopono restaura o equilíbrio e função dentro do indivíduo, dentro da família, dentro da comunidade e dentro do ambiente (aina). Baseada em valores culturais tradicionais e conceitos, a Hoóponopono foi adaptado para funcionar dentro do tecido da sociedade moderna, em que cada participante observa um protocolo específico. Abrindo cada coração e mente no grupo de suporte, dirigido por um ancião respeitado ou médico local, a prática de cura interior começa.
Agradecimentos: Tâmara Mondragon, terapeuta de Lomi lomi
Fotografias: Herb Irle
Modelo: Suzi Ko
Revisão: Raquel Freches, fisioterapeuta
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