O lábio leporino, ou a fenda lábio-palatina, é uma deformação congénita que consiste numa abertura ou fenda anormal do lábio e/ou do céu da boca (palato). É a deformação congénita (ou seja, que está presente ao nascimento) mais frequente, uma vez que acontece de 1 a cada 700 nascimentos em Portugal e no mundo (aproximadamente).
Embora as causas possam estar associadas a alterações genéticas, costumam ser esporádicas. Hoje sabe-se que o problema subjacente acontece durante o desenvolvimento intrauterino no segundo e terceiro meses de gravidez. Durante este período de desenvolvimento, existe uma fusão dos tecidos que formarão o lábio e o palato do futuro bebé. Se, por predisposição genética ou causa ambiental, houver algum processo que impeça a fusão dos tecidos nessa altura do desenvolvimento, o bebé irá nascer com uma fenda do lábio e/ou do palato. Em muitos casos o defeito fica apenas limitado ao palato.
A maioria dos casos são detetados durante as ecografias realizadas na gravidez. No passado, cerca de 30% das mães consideravam a hipótese de suicídio e não eram raros os casos de interrupção voluntária da gravidez. Estes motivos geraram indignação da sociedade científica, o que motivou a célebre Declaração de Hanoi em 2013, pedindo o fim do aborto em casos de lábio leporino – dado que é uma condição tratável e não passível de aborto.
Tratamento cirúrgico
A cirurgia plástica intervém logo desde o nascimento. O tratamento cirúrgico é habitualmente efetuado em duas oportunidades: num primeiro momento, por volta dos 2 meses, é corrigida a deformidade do lábio e do nariz (a chamada queiloplastia e rinoplastia) e mais tarde por volta dos 9-12 meses é feita a correção da deformidade do céu da boca (palato).
Juntamente com o desenvolvimento da cirurgia plástica, houve uma melhoria dos resultados oferecidos a estas crianças. Hoje em dia é possível corrigir os defeitos estéticos e funcionais destas crianças sem qualquer tipo de limitação no desenvolvimento. Mas não é um trabalho que começa e acaba na cirurgia plástica. Para uma otimização dos resultados, é importante a participação de diversos especialistas como estomatologistas, pediatras, otorrinolaringologistas, terapeutas da fala, psicológicos, entre outros.
Existem alguns desafios inerentes ao nascimento de um bebé. No caso de crianças com fenda lábio palatina é semelhante. Assim numa fase inicial, podem existir dificuldades acrescidas, especialmente com a alimentação. Mais tarde as crianças poderão ter algumas dificuldades na fala, otites e problemas dentários.
Um artigo de Eduardo Matos, Cirurgião Plástico e diretor clínico da Bívar Clinic.
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