As separações são sempre difíceis, independentemente do motivo ou da pessoa que decide terminar.  Uma separação destrói o paradigma tradicional de família, bem como os pressupostos básicos da identidade familiar. Obriga a reformular, a repensar e a olhar para o mundo de uma forma distinta. Ao longo dos tempos, o divórcio tem sofrido conotações distintas, evoluindo no sentido de uma maior aceitação e de um melhor ajustamento à situação pós-divórcio. Todavia, continua a ser um tema difícil, tanto pelo impacto nos próprios, como naqueles que os rodeiam.

Os motivos para uma separação podem ser vários: conflitos ao longo do tempo, insatisfação, dificuldade na gestão parental, infidelidade, problemas com as famílias de origem, violência ou dificuldade em compatibilizar características individuais.

Terminar uma relação é colocar termo a um projeto de vida, àquilo que um dia se sonhou e idealizou. É interromper um caminho, mudar de direção, reformular o plano e acima de tudo, reajustar. Reajustar ideias, crenças, estilos de vida, rotinas, expectativas, sonhos, modos de vida, etc.

Quando casamos ou nos juntamos com alguém, organizamos a nossa vida em torno dessa mesma relação. As tarefas começam a dividir-se entre os elementos do casal.  Esta divisão não carece de um planeamento formal, mas o casal vai criando o seu próprio “contrato implícito” que regulamenta “as normas de funcionamento”. Quando alguém comunica a intenção de rutura, é como se alguém estivesse a puxar o nosso tapete e a fazer com que caiamos no chão, completamente desamparados. 

O ser humano é um ser de hábitos e, a perda do conforto que esses hábitos acarretam gera uma sensação de desorganização muito grande. Habituar a um novo ritmo, a uma nova rotina, a um novo trajeto de casa para o trabalho, a uma nova casa e até...a um novo sofá. Nesta situação, até os detalhes nos provocam sofrimento e desorganização. É também esta desorganização que faz com que muitos tentem reatar relações, se arrependam e tentem voltar. As zonas de conforto, por mais desconfortáveis que sejam, continuam a ser zonas de conforto. Por vezes preferimos o desconforto daquilo que já conhecemos do que a incerteza do desconhecido. 

Mesmo os melhores divórcios implicam crise, desorganização e recuperação. E todas as crises provocam dor, mas elas são necessárias à mudança e ao crescimento pessoal, e nem toda a crise gera a disrupção.

O divórcio não é um evento isolado, mas sim um processo que envolve vários estádios e transições. A primeira fase ocorre no período de um a dois anos, sendo uma fase de stress, adaptação, mudança e agitação elevada. Passado um ano, pode ser vivenciado mais stress e desânimo do que no início. Quando a raiva se atenua, pode dar lugar a um estado mais depressivo ou de maior apatia. Após os dois anos, tende a ocorrer uma recuperação significativa e decorridos três a quatro anos, a vida retoma a normalidade. A gestão de múltiplas perdas é difícil e avassaladora, embora essas perdas sejam vividas de forma distinta entre aqueles que “deixam” e aqueles que “são deixados”. Estamos habituados a ouvir falar em “luto” quando alguém morre, contudo, toda a perda implica um processo de luto, seja uma morte, a perda de um emprego, a perda de um estado de saúde, a perda de uma relação...Por isso, quando existe uma separação, obrigatoriamente terá que ocorrer um processo de luto, independentemente de quem tomou a decisão.

Um divórcio bem-sucedido é aquele onde existe baixo conflito e facilidade nos acordos. O sucesso implica criar oportunidades para a comunicação, tranquilidade nos processos de tomada de decisão, compreensão e aceitação da separação.

Por seu lado, um divórcio malsucedido é aquele onde se verifica uma conflituosidade elevada e uma comunicação pobre. Por vezes registam-se também situações de violência e infidelidade. A interferência do sistema judicial no processo de divórcio tende a alongar o processo de separação, mantendo os assuntos em aberto e dificultando o retomar de uma vida independente.

Um divórcio bem-sucedido é aquele que culmina na transição do casal conjugal para o casal parental.

Como conduzir um processo de divórcio?

- Limitar a opinião de terceiros sobre a relação: esta é uma decisão do casal;

- Perceber que quando existe violência, não existe amor, sendo a separação a melhor opção;

- As relações não se devem manter pelo argumento da existência de filhos;

- É mais saudável crescer com os pais felizes, mas separados do que juntos, mas infelizes;

- Priorizar a comunicação parental;

- Evitar triangulações: ninguém tem que assumir o papel de “moço de recados”;

- Olhar para os processos legais litigiosos como última opção;

- Evitar encontros hostis;

- Ativar recursos (rede social e familiar, terapia, entre outros);

- Assumir a parte de cada um no término da relação;

- Continuar a ser um casal parental

- Perceber que o luto é um processo difícil e que é preciso tempo para se ajustarem à nova realidade;

- Não interferir na nova vida do outro;

- Não perseguir o outro com mensagens, telefonemas, redes sociais e/ou outros

- O que no início parece um desastre, com o tempo vai-se tornando mais fácil de gerir;

Um artigo da psicóloga clínica Catarina Lucas.

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