As cicatrizes são marcas que não se apagam e revestem-se frequentemente de um significado emocional. Para o médico representam, muitas vezes, a fase final de um tratamento.

Tratar cicatrizes implica um entendimento da componente psicológica e social que lhe está associada. Por isso, o reconciliar com a experiência/acontecimento que esteve na origem daquela marca nem sempre é fácil.

O que é e como se forma uma cicatriz?

Objetivamente, uma cicatriz corresponde à resposta natural do organismo à lesão dos tecidos e é uma tentativa de restaurar a integridade e a força. Apresenta uma estrutura/arquitetura desorganizada com perda dos anexos cutâneos (pelos e pequenas glândulas que normalmente existem na pele). É uma entidade dinâmica, evolutiva, que sofre alterações graduais até estagnar com o aspeto típico de uma cicatriz madura. Nem sempre este processo é linear e por vezes temos desvios à rotina normal da cicatrização. Assim surgem as cicatrizes hipertróficas e os quelóides.

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De facto, a cicatrização é um processo altamente regulado e influenciado pelo meio circundante. Este processo abranda quando ocorre encerramento da ferida e epitelização subsequente. Nos processos anómalos, este abrandamento não ocorre, porque os sinais não são corretamente interpretados e o processo de reparação continua a decorrer. As cicatrizes hipertróficas e os quelóides são doenças fibroproliferativas da cicatrização que cursam com cicatrização excessiva. Há nestes casos uma hiperregulação da síntese, deposição e acumulação de colagénio.

Como podemos minimizar as marcas das cicatrizes?

Numa fase inicial, se estivermos perante uma ferida, é essencial limpar e cuidar os tecidos o melhor possível. A troca regular dos pensos, a utilização da técnica asséptica e os apósitos adequados são as medidas chave para um bom começo do processo cicatricial.

Tratando-se de uma ferida cirúrgica, a técnica atraumática, sem tensão, com uma aposição perfeita e o respeito, sempre que possível, pelas caraterísticas elásticas da pele são os cuidados essenciais. Depois de encerrada a ferida, há que ter atenção à remoção atempada dos pontos, para que não fiquem marcas.

Quando são usados fios absorvíveis este passo é evitável, mas nem sempre estes materiais são os mais indicados.

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Características do doente influenciam processo

Certas caraterísticas inerentes ao paciente também podem influenciar a evolução das cicatrizes.

A diabetes, a obesidade, a malnutrição e exposição a radiação influenciam negativamente o processo cicatricial. A medicação prolongada com corticoides e isotretinoina também não ajudam e não podemos esquecer a influencia da carga genética no resultado final das cicatrizes.

Depois de devidamente estável (ferida fechada e, no caso de uma cicatriz cirúrgica, já sem pontos) é importante não esquecer a proteção solar e a par disso é preciso dar início aos cuidados locais:

  1. Aplicação de silicone em gel ou em placa - previne, acelera a maturação e diminui os sintomas (comichão, picada, ardor);
  2. Pressão e massagem - o estímulo mecânico ajuda à reorganização das fibras de colagénio.
    Quando as medidas básicas não são suficientes, a injeção de corticoide na cicatriz e o tratamento superficial com laser não ablativo são outros recursos a considerar. Em última instância, quando a cicatriz está mal orientada ou evoluiu em condições muito adversas com impacto negativo no resultado final, a revisão cirúrgica deve ser considerada.

Notas sobre cicatrização anómala

Cicatrizes Hipertróficas: são avermelhadas e ficam elevadas, mas não crescem além dos limites da ferida. São dolorosas e pruriginosas. Formam-se em zonas de tensão. O processo patológico é autolimitado e regride com o tempo, contudo, sem intervenção terapêutica essa regressão pode demorar anos.

Quelóides: Os quelóides podem surgir na sequência de uma cirurgia, mas também após situações mais simples e comuns como piercing, tatuagens. O barbear, em pessoas com particular suscetibilidade, pode conduzir à formação de quelóides. Podem surgir no imediato ou passados meses ou anos após a lesão. Os quelóides ultrapassam as margens da ferida que esta na base da cicatriz. Um quelóide não é uma patologia comum e ocorre principalmente na pele mais escura. Áreas corporais com maior tendência: peito, ombros, lóbulos (orelhas) e face (bochecha). Os asiáticos tem também maior tendência.

Os conselhos e explicações são da médica Ana Silva Guerra, especialista em Cirurgia Plástica e Reconstrutiva.