Em setembro celebra-se o dia mundial da prevenção do suicídio. Por muito que se celebre este dia no sentido de prevenir e sensibilizar, os números do suicídio em Portugal continuam elevados e este continua ser uma claro problema de saúde pública, nomeadamente, quando falamos de jovens adultos.
Sejam quais forem as causas que levam ao suicídio — problemas familiares, dificuldades económicas, isolamento, dependências, entre outros — nunca nos podemos esquecer que o suicídio se dá sempre na sequência de um grande sofrimento interno.
A questão que se coloca é porque se chega ao estado de sofrimento tão profundo que implica a vontade de morrer? A verdade é que o suicídio é sempre uma solução última em que, com a percepção da ideia de morrer, vem também a ideia de finalmente se ficar em paz, de finalmente se ter a liberdade e de finalmente se abandonar o estado de sofrimento profundo.
E é, a maior parte das vezes, com esta premissa e com este desejo que o suicídio se dá. Com o suicídio de uma pessoa, dá-se sempre não só uma perda de uma vida, mas também uma contaminação da saúde mental das pessoas que estavam à sua volta, seja do seu contexto social, seja do contexto familiar. Esta contaminação acontece de diversas formas, mas destaca-se a forma como surge a culpa, como as pessoas sentem que falharam ou como se vêem inundados no sofrimento de uma perda significativa.
Tendo em consideração tudo isto, precisamos de agir e de levar até essas pessoas a percepção que a saída pode existir por outra via que não exclusivamente a morte. Só com a atribuição da percepção de esperança, da percepção de que há caminhos alternativos à morte para ultrapassar o sofrimento, o suicídio pode ser evitado nas circunstâncias limite. Mas, atribuir esta sensação de esperança implica um trabalho clínico minucioso e uma grande estrutura de retaguarda de todos aqueles que estão ao redor da pessoa em sofrimento.
De qualquer forma, a prevenção do suicídio tem de começar muito antes do limite do sofrimento, tem de começar com promoção da saúde mental, com educação emocional desde cedo e com a desmitificação dos pedidos de ajuda psicológica. Só quando formos capazes de agir de forma sistemática e preventiva podemos desejar a diminuição dos números de suicídio e, por consequência, a diminuição do sofrimento de todos os que estão envolvidos neste penoso processo.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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