O cancro da próstata é, a nível europeu, o cancro mais frequente nos homens com mais de 45 anos (com mais de 1.400.000 diagnósticos) e a segunda causa de mortalidade por cancro nesta população (cerca de 450.000 mortes anualmente). Em Portugal, são diagnosticados cerca de 6.000 novos casos anualmente, com aproximadamente 1.800 a 2.000 mortes.

Os principais fatores de risco para o aparecimento do cancro da próstata são a idade e a história familiar. Quanto à idade, quanto mais avançada maior o risco de aparecimento da doença. No entanto, quando diagnosticado em idades mais avançadas, normalmente não é causa de mortalidade por apresentar um perfil menos agressivo. Por outro lado, quando diagnosticado em idades jovens (<65 anos), o risco de se tratar de uma doença mais agressiva é maior. Quanto à história familiar, quanto maior o número de familiares com cancro da próstata, quanto maior a proximidade desses familiares e quanto menor a idade dos mesmos na altura do diagnóstico, maior o risco de desenvolver um cancro da próstata.

Uma vez que os principais fatores de risco não são modificáveis, não existe atualmente evidência de qualquer estratégia que permita prevenir o aparecimento de cancro da próstata. Por este motivo, o diagnóstico precoce é o fator mais importante, não só para conseguir tratar o cancro da próstata com sucesso, mas também para permitir realizar tratamentos minimamente invasivos e com pouco impacto na qualidade de vida. Infelizmente, a grande maioria dos cancros da próstata não apresenta sintomas nas fases iniciais, o que significa que não podemos confiar no seu aparecimento para detetar a doença, uma vez que estes só aparecem nas fases mais avançadas.

Perante isto, o rastreio do cancro da próstata apresenta-se como a estratégia mais importante para mudar a história natural da doença. Efetivamente, de acordo com estudos multicêntricos com mais de 150.000 homens e com um follow-up de mais de 15 anos, está provado que o rastreio populacional aumenta o número de diagnósticos, diminui o risco de diagnósticos e fase avançada e reduz a mortalidade por cancro da próstata. Por esse motivo, o rastreio populacional do cancro da próstata está atualmente recomendado, não só pela Associação Europeia de Urologia, como pela Comissão Europeia.

Em Portugal, o rastreio populacional do cancro da próstata é recomendado pela Associação Portuguesa de Urologia e pela Associação Portuguesa de Doentes da Próstata, estando atualmente em análise pelo Ministério da Saúde qual a melhor forma de o implementar.

Apesar de não estar ainda em vigor no nosso país um programa de rastreio populacional de cancro da próstata, as recomendações internacionais apoiam o seu início aos 50 anos de idade (ou aos 45 anos, se história familiar), devendo ser mantido enquanto a esperança expectável de vida seja superior a 10 anos. Quanto ao protocolo de rastreio propriamente dito, o mesmo ainda se encontra em discussão, mas a evidência aponta para que seja feito recurso ao PSA, ao toque retal e à ressonância magnética. A análise destes parâmetros irá determinar quais os homens com suspeita de cancro da próstata (com indicação para realização de uma biópsia prostática) e os homens que não apresentam no momento essa suspeita mas que se mantêm em risco de tal ocorrer no futuro (com indicação para reavaliação periódica, de acordo com o risco).

Conforme demonstrado pelos estudos realizados, a implementação dos programas populacionais de rastreio do cancro da próstata conduz ao aumento do número de diagnósticos, tanto de doença agressiva como de doença indolente. Enquanto que, nos casos mais agressivos, está claramente recomendado o tratamento ativo (com cirurgia ou radioterapia), nos casos mais iniciais existe atualmente uma outra alternativa possível: a vigilância ativa.

No caso dos diagnósticos em fase inicial, nos quais a doença é muito indolente, a vigilância ativa é efetuada com o objetivo de monitorizar a doença de forma apertada, para confirmar que a mesma se mantém estacionária. Para isso, é utilizado regularmente o PSA, o toque retal, a ressonância magnética e as biópsias de repetição. Se, em qualquer momento, se identificar uma progressão da doença, é possível então avançar para uma das opções de tratamento ativo. Esta abordagem permite evitar ou adiar tratamentos desnecessários e os efeitos adversos possíveis dos mesmos, reservando o tratamento ativo para os casos que efetivamente beneficiam dele.