O último ano revelou-nos como as relações laborais de alteram e ajustam em poucos meses. A Pandemia aproximou-nos do teletrabalho e de todo um novo contexto de ligação às empresas, chefias e colegas. Novos rumos para as empresas que também se observam no trabalho presencial. A adoção por várias empresas de “pet policies” trata-se de um novo fenómeno que Miguel Pina e Cunha, professor catedrático na Nova School of Business and Economics, em Carcavelos, analisou, tendo como ponto de partida um estudo onde participaram cinco empresas do sector das agências criativas alemãs. Empresas com diferentes dimensões, entre os seis e os 40 funcionários que, em comum, têm o facto de permitir aos funcionários levar os seus cães para o trabalho.
“Dogs at the Workplace: A Multiple Case Study” examina empiricamente a presença de cães nas organizações e o impacto das políticas das empresas que permitem animais de estimação. Para o efeito, os responsáveis pelo trabalho em questão, entrevistaram os donos de cães e pessoas em cargos de chefia nas mesmas empresas, antes de chegarem a uma teoria que apresentam no estudo.
No que toca aos benefícios referidos pelos donos dos animais face à presença destes nas empresas, Miguel Pina e Cunha sublinha que “com base na análise de dados deste estudo, descobrimos que os membros da organização consideram que os cães podem diminuir o seu stresse, melhorar a comunicação e promover a coesão social quando uma cultura organizacional flexível está em vigor”.
Na prática, do ponto de vista organizacional, “registámos como benefícios o facto dos problemas na empresa serem abordados abertamente; os funcionários terem autonomia de trabalho, com flexibilidade para pausas e haver mais tolerância à falha e aos erros. Também é dado mais espaço para ir ao encontro de soluções”, adianta o docente.
Com base na análise de dados deste estudo, descobrimos que os membros da organização consideram que os cães podem diminuir o seu stresse.
No que toca aos cães enquanto facilitadores da comunicação e das interações, estas, de acordo com o investigador, “podem acontecer até em organizações que ‘adotam’ um animal informalmente. Encontrámos isso, por exemplo, em empresas portuguesas, como explicamos no livro ‘Organizacão’, que escrevi com o meu colega Arménio Rego”.
Estudo que salienta uma maior tolerância à falha e aos erros, decorrente da presença dos animais na empresa, o que resulta de “uma combinação de responsabilidade individual com tolerância e informalidade são fatores de aprendizagem. A presença de animais pode servir para criar esse ambiente de proximidade/informalidade. Mas naturalmente não chega”.
Benefícios que também se percebem, de acordo com o trabalho em questão, numa melhoria da vida pessoal dos funcionários que levam os seus cães para o trabalho e que, de acordo com Miguel Pina e Cunha se prende com o facto de “para alguns dos participantes, trata-se de uma forma de não terem de se preocupar com as horas, bem como com a presença do animal”.
Será necessário garantir que a presença dos animais não é um fator de perturbação. O que significa que nem todos os animais podem ser permitidos.
Não “há bela sem senão” e, adianta o estudo, também há riscos associados à presença dos animais no local de trabalho. “O risco de distração poderá ser o mais presente. Será necessário garantir que a presença dos animais não é um fator de perturbação. O que significa que nem todos os animais podem ser permitidos, nem todos os dias, nem em todos os lugares”, sublinha o docente, completando: “para este contexto os animais devem de estar devidamente treinados. Aliás, a presença de cães treinados é normal nos mais diversos contextos, desde a segurança policial até ao apoio a pessoas com deficiência. Nesses casos, já todos nos habituámos à presença de animais - nomeadamente cães. Trata-se de uma extensão”.
No que toca ao perfil das empresas que encaram como natural a presença dos animais de estimação, nomeadamente, cães “normalmente são as da chamada nova economia. Aquelas onde as pessoas são mais abertas, mais flexíveis e com culturas mais informais. Normalmente estas práticas são adotadas por um grupo relativamente estreito de empresas. Em Portugal começamos a encontrar empresas que criam dias onde é possível levar o cão. E alguns centros comerciais também o permitiam. Veremos se se trata de uma pequena moda ou de uma real mudança”.
Isto porque, ainda de acordo com o docente, “no mundo dos negócios, este tipo de incentivo só leva ao sucesso se a estrutura e a cultura certas estiverem presentes, não podendo ser visto apenas como um instrumento para aumentar o bem-estar dos funcionários”.
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