Há cinco gerações que a família Vieira de Sousa atua na região demarcada do Douro, como produtora de vinho do Porto, numa marca criada por José Silvério Vieira de Sousa, tetravô de Luísa e Maria Borges, duas irmãs que atualmente lideraram o negócio, com o importante apoio da mãe Maria de Lurdes.

Herdaram um legado que passou pelas fases mais complicadas do Douro, como a filoxera, e o rejuvenescimento da própria região, com novos modos de saber fazer, novas ideias e novos perfis de vinho. O Douro já não é apenas sinónimo de vinho do Porto, apesar de a Vieira de Sousa ter cartas a dar neste segmento devido ao facto de duas gerações se terem focado na produção, envelhecimento e venda de vinho do Porto à pipa: a avó Maria Luísa e a irmã Alice e o pai de Luísa e Maria, António Vieira de Sousa Borges, falecido em 2020.

Foi em 2008 que este paradigma de venda de vinho à pipa mudou graças à iniciativa de Luísa Borges, hoje com 37 anos, mas na altura uma jovem acabada de se licenciar em enologia. Com a orientação dos pais, cria a Vieira de Sousa Vines & Wines, empresa destinada a produzir e a engarrafar vinhos do Porto e do Douro com marca própria. Maria Borges, de 28 anos, junta-se à irmã, em 2017.

Vieira de Sousa, nos Portos e DOC e Alice, uma homenagem à tia-avó, apenas nos DOC Douro, são os vinhos produzidos com uvas próprias, distribuídas em cinco quintas da sub-região do Cima Corgo - Quinta da Água Alta, que junta a Quinta do Bom Dia e a Quinta do Espinhal, Quinta da Fonte, Quinta do Fojo Velho e Quinta do Roncão Pequeno. Há um centro de operações, na zona industrial de Paços, em Sabrosa, com uma adega moderna tecnologicamente e com espaço de produção e armazenamento, apesar de terem adegas mais pequenas e tradicionais em duas das suas quintas. A maior parte das vinhas ficam junto ao rio Douro, em solos de xisto e com idades médias superiores a 40 anos, num trabalho feito em parte por António Borges, entre as décadas de 1970 e 1980.

Vieira de Sousa, uma marca que quer ganhar espaço no Douro, liderada por mulheres
Vieira de Sousa, uma marca que quer ganhar espaço no Douro, liderada por mulheres créditos: Gonçalo Villaverde

Mas o que distingue esta marca das demais é o facto de guardarem um espólio de vinhos do Porto antigos, os chamados Late Bottled Vintage (LBV), que aos poucos começam a ser lançados. Tudo por conta do pai, António Vieira de Sousa Borges, que fez um grande stock de vinho do Porto, numa altura em que estava a ser comercializado a valores abaixo daquilo que considerava um preço justo. Com isso chegaram a ter um milhão de litros, quando muitos profetizavam o fim dos pequenos produtores na região.

A estreia nos vinhos do Douro aconteceu em 2011, com uvas provenientes na sua maioria da Quinta da Água Alta e da Quinta da Fonte, com castas autóctones. Atualmente, o DOC já representa metade das cerca de 120 mil garrafas de produção média anual da empresa.

A aposta no enoturismo

O ano de 2022 foi importante para a Vieira de Sousa pois foi aqui que expandiu o negócio para outras vertentes que não apenas a produção de vinho. O enoturismo foi a aposta natural, com a abertura de um centro de visitas, provas e loja de vinhos. Situado na Quinta da Firveda, junto à foz do rio Corgo, bem perto da Régua, ocupa o espaço de uma das adegas centenárias, onde em tempos se produziram vinhos generosos.

A adega foi restaurada e manteve os antigos lagares e pipas, servindo de ponto de interesse para as visitas guiadas e complemento às provas de vinhos do Douro e Porto.

Para complementar esta oferta está prevista a abertura de um alojamento local, numa das quintas da família, através da recuperação das antigas casas dos caseiros. Estes locais encontram-se em plena vinha, junto ao rio Douro.

A loja online

Outros dos lançamentos de 2022 foi o lançamento de uma loja online, integrada no site da empresa.

Com entregas em Portugal Continental, ilhas e os vários países no mundo, os portes são pagos e valorados em função do destino. Apesar de a distribuição não cobrir todos os territórios, o desejo de Luísa e Maria Borges é conseguir chegar a um maior número de consumidores, tanto a nível nacional e internacional, com a aposta na venda de packs, de três ou seis garrafas, na sua maioria de multireferências, de forma a proporcionar uma experiência distinta.

As mais recentes novidades da Vieira de Sousa

Se 2023 marca 15 anos desde o surgimento da empresa, seria expectável que o final de 2022 revelasse algumas surpresas com o lançamento de dois vinhos do Porto e três DOC.

Com a autorização do Instituto de Vinhos do Douro e Porto na categoria especial de Vinho do Porto com indicação de idade 50 anos, lançam o Vieira de Sousa Porto Tawny 50 Anos, à qual se junta o primeiro Vieira de Sousa Porto Colheita branco, um single harvest de 2003, que já tinha um homólogo em tinto.

Vieira de Sousa, uma marca que quer ganhar espaço no Douro, liderada por mulheres
Vieira de Sousa, uma marca que quer ganhar espaço no Douro, liderada por mulheres créditos: Gonçalo Villaverde

Podemos considerar o Vieira de Sousa Porto Tawny 50 Anos um vinho excecional, elaborado a partir de vários lotes de vinhos do Porto, com uma idade mínima de 50 anos de estágio em tonéis e pipas. O envelhecimento prolongado confere-lhe uma estabilização natural, obtendo-se um vinho de qualidade superior, com uma cor tawny profunda e uma complexidade de aromas. No copo revela uma cor torrada, dourada, com uma forte aurela verde. No nariz revela-se vivo e delicado. Na boca tem uma boa concentração de café e licor e final longo. O PVP é 234€.

O Vieira de Sousa Porto Colheita branco resulta de uma mistura de castas de Vinhas Velhas, de da Quinta da Fonte, plantada em altitude, a 500 metros, na zona de Celeirós. Trata-se de um lançamento único uma vez que a vinha foi, entretanto, reestruturada. No copo mostra-se um vinho delicado, com complexidade. Tem uma cor oxidada pelo envelhecimento em madeira, acompanhada por uma acidez crocante e prolongada, na boca. O PVP é 48,60€.

Vieira de Sousa, uma marca que quer ganhar espaço no Douro, liderada por mulheres
Vieira de Sousa, uma marca que quer ganhar espaço no Douro, liderada por mulheres créditos: Gonçalo Villaverde

Também da mesma quinta são as uvas usadas noutra das novidades DOC, o Vieira de Sousa Reserva branco 2021. A vinha virada a nascente acaba por ter uma localização privilegiada para a produção de uvas brancas, que se apresentam com frescura e estrutura. As castas usadas são Rabigato e Viosinho, com colheitas feitas no mesmo dia e fermentação em conjunto, em barricas de carvalho francês, onde estagiaram durante 10 meses. O PVP é 17€.

O Vieira de Sousa Reserva tinto 2020 tem uvas de uma única vinha, situada na Quinta da Água Alta, em Gouvinhas, numa cota mais baixa, mas também virada a nascente e num vale fresco. As Tourigas Francesa e Nacional, são as castas usadas neste vinho que estagiou em barricas de carvalho francês, durante 12 meses. Com uma cor avermelhada, revela frutos vermelhos bastante vivos, dominados por um perfil fresco. O PVP é 17€.

O Vieira de Sousa Unoaked tinto 2021 apresenta-se num perfil diferente do anterior. Com as castas Touriga Francesa e Nacional da mesma quinta, mas sem estágio em madeira, como indica o nome. Trata-se de um tinto suave e elegante, com aromas de fruta fresca. Na boca é um vinho equilibrado e fresco. O PVP é 13€.