O Estabelecimento Prisional de Torres Novas conta, desde o final de maio, com uma horta vertical composta por 40 torres agrícolas modulares, com até três metros de altura, num projeto intitulado Horticultura Vertical, Solidariedade Horizontal, liderado pela ONG nacional Abundant Quotidian Associação (Upfarming), que cria soluções agrícolas sustentáveis em ambientes urbanos. De acordo com os promotores, a iniciativa “deverá ter um impacto direto na vida de mais de uma centena de pessoas: por um lado, a inserção na vida ativa e a capacitação de 41 reclusos em final de pena, que terão formação certificada em agricultura sustentável, além da melhoria da qualidade nutricional das refeições produzidas na cozinha daquela prisão; por outro, 100 famílias carenciadas daquela cidade beneficiarão da distribuição gratuita de cabazes de verduras frescas, plantadas e colhidas pelos reclusos”.

As 40 Towers Farms (da empresa norte americana Agrotonomy) instaladas no Estabelecimento Prisional de Torres Novas assenta num sistema de cultivo aeropónico, cuja técnica de produção acontece sem terra, sendo as plantas alimentadas por uma solução mineral composta por água misturada com nutrientes naturais.

Estas torres são modulares e podem ser instaladas ao ar livre (como vai acontecer no EPTN), dentro de uma estufa, no interior de um edifício (recorrendo a luzes LED) ou num terraço.

Projeto de horticultura vertical na prisão de Torres novas vai apoiar famílias em situação de vulnerabilidade
Gregz

“Têm uma altura máxima de 290 cm de altura, cada uma ocupando um metro quadrado, incluindo o espaço de trabalho, e representam uma poupança de cerca de 95% em água e 90% em espaço, quando comparado com agricultura convencional. A estas vantagens somam-se ainda a versatilidade nas culturas que produzem (frutíferas, folhas verdes, ervas aromáticas e microverdes), a rapidez com que o fazem, e o facto de primarem por instalação e manutenção fáceis”, informa a Abundant Quotidian Associação em comunicado.

Os reclusos beneficiários que participam neste projeto piloto vão receber formação certificada pelo Centro Protocolar da Justiça em “Modos de Produção Agrícola e Agricultura Sustentável”, complementada por três módulos em “Agricultura Vertical”, “Permacultura” e “Compostagem”, lecionados pela Upfarming, além de formação para a manutenção da horta instalada naquele estabelecimento.

Serão, portanto, os reclusos, num trabalho conjunto com os guardas prisionais, que ficarão responsáveis pela gestão da horta vertical, que tem potencial para produzir, aproximadamente, entre 4 a 8 kg por mês, por torre, e até 52 plantas por unidade, tais como alfaces, acelgas, agriões, espinafres ou manjericão. Os alimentos colhidos têm depois dois rumos distintos, mas que se cruzam no seu propósito de combate à pobreza: “dentro do EPTN, vão contribuir para a melhoria direta da qualidade nutricional das dietas de reclusos e funcionários, através da autossuficiência da cozinha do EPTN na produção de hortícolas Km zero; já fora de portas, vão apoiar cerca de cem famílias em situação de vulnerabilidade extrema a residirem naquela cidade (apoiadas pela Cruz Vermelha e pelo CRIT), através da distribuição mensal de cem cabazes hortícolas”, sublinha a Abundant Quotidian Associação.

Projeto de horticultura vertical na prisão de Torres novas vai apoiar famílias em situação de vulnerabilidade
Marta Caras Lindas. créditos: @martacaldasbarreiro

Aumentar a literacia alimentar e ambiental é outro dos objetivos deste projeto, que conta ainda com a colaboração da chef e influencer Marta Caras Lindas. A seu cargo ficará a dinamização de quatro workshops no EPTN, onde ensinará a reclusos e funcionários receitas nutritivas concebidas especialmente a pensar nos produtos cultivados na horta. Aparte disso, também fará a produção conjunta com os reclusos de folhetos informativos com receitas e dicas práticas de alimentação saudável, que serão posteriormente distribuídos com os cabazes, junto da população local mais carenciada que os irá receber em casa.

Além do Prémio BPI Fundação “la Caixa” Solidário 2022 e da Race for Good, esta iniciativa conta com o apoio de outras entidades: a Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais, o Centro Protocolar da Justiça, a Câmara Municipal de Torres Novas, a Start-Up Torres Novas, o Centro de Reabilitação e Integração Torrejano (CRIT), a Cruz Vermelha Torres Novas e Marta Caras Lindas - Revolution Chef.