Luisiana Zappa, 36 anos, italiana e mãe de três filhos, sempre viveu rodeada pelos aromas e sabores da cozinha. Em criança, ajudava e aprendia com a mãe e a avó no restaurante de família, onde descobriu que pôr as mãos na massa era tanto um ato de conforto como de criatividade. O gosto pela culinária levou-a a aprofundar conhecimentos na escola Gambero Rosso, em Itália, onde teve a oportunidade de aprender com chefs e de experimentar a dinâmica de uma cozinha profissional.

Em 2019, a sua paixão trouxe-a até Portugal, onde rapidamente se encantou pela gastronomia lusa. Desde então, tem explorado a fusão entre a cozinha italiana e a portuguesa, criando pratos que unem dois universos culinários. A sua presença na edição 2023/24 do MasterChef Portugal conquistou o público, valendo-lhe um quinto lugar. Mais recentemente, em janeiro de 2025, arrecadou o primeiro prémio no concurso A Mesa dos Portugueses – Edição Sabores do Mundo, organizado pela Auchan em parceria com as Edições do Gosto. Luisiana conquistou o concurso com a sua tradicional Parmigiana.

Com uma vontade incessante de partilhar conhecimento, Luisiana dedica-se a workshops culinários onde promove o diálogo e a troca de experiências. Em outubro de 2024, expandiu a sua presença digital com o lançamento de um canal de YouTube, onde ensina receitas italianas e partilha dicas valiosas, reforçando a sua ligação com o público para além das redes sociais.

Da advocacia para a cozinha: o que levou a Luisiana Zappa a trocar a advocacia pelo mundo da gastronomia? Foi uma decisão repentina ou um amor antigo que finalmente se impôs?

É um lapso comum que já vi divulgado em vários meios, mas nunca exerci advocacia.  Fiz sim a licenciatura em Direito e, mais tarde, um mestrado em Relações Internacionais. Anos depois, decidi frequentar a escola Gambero Rosso, em Roma, onde aprendi a base da culinária.

A gastronomia é algo que me acompanha desde pequenina, porque cresci no meio de tachos, panelas e no restaurante dos meus avós, e mais tarde com a minha mãe. Portanto, diria que foi um caminho natural.

Como refere, cresceu em contacto próximo com os tachos, com a sua mãe a gerir um restaurante. Que memórias culinárias da infância moldaram a sua identidade como chef?

Em primeiro lugar, não me considero chef. Um chef é alguém que, além de criar e cozinhar, conhece todo o processo relacionado com a gestão de uma cozinha. Pessoalmente, sou uma apaixonada e curiosa pela culinária.

Isto vem desde que via a minha avó a cozinhar na sua trattoria. Ela preocupava-se em fazer com que a sua comida não apenas alimentasse a fome das pessoas, mas também aquecesse a sua alma. Ainda hoje, há velhos clientes que se recordam de determinados pratos porque lhes ficaram eternamente gravados na memória sensorial. Para mim, isto é que é cozinha: alimentar a felicidade dos outros.

Portugal conquistou-a pelo paladar e pelo coração. Como descreve a sua relação com a cozinha portuguesa? Existe um prato que a surpreendeu e que nunca imaginou gostar?

A minha relação com a cozinha portuguesa tem sido muito boa e ainda tenho muito para descobrir. Alguns dos pratos que me surpreenderam foram as migas, em ambas as variantes, ou seja, as alentejanas e as beiras, e o arroz de cabidela, pois em Itália não é permitido comprar sangue para cozinhar.

A cozinha italiana tem regras quase sagradas. Do que conhece da cozinha italiana fora do seu país natal, quais são os piores "sacrilégios" a que já assistiu?

Por onde começar? As carbonaras feitas com bacon e natas, a pasta cozinhada demais ou antes da água ferver, pizza com ananás... Mamma mia, podia ficar aqui muito tempo. Mas, desde que estou em Portugal, tenho ficado mais aberta à experimentação e não me preocupo tanto em olhar para os "sacrilégios".

Se tivesse de escolher três ingredientes que definem a sua cozinha, quais seriam e porquê?

Tomate, manjericão e pasta. Porque um bom prato de pasta não precisa de mais nada.

A fusão entre a cozinha portuguesa e italiana é um dos seus traços distintivos. Tendo de criar um prato que represente essa mescla de culturas, o que serviria?

Tento sempre criar pratos que unam as duas culturas, mas que consigam encontrar um equilíbrio, o que nem sempre é fácil. Se tivesse de eleger um, seria o ravioli de bacalhau e batata.

Venceu recentemente o concurso "A Mesa dos Portugueses" com o seu prato de Parmigiana. Que trunfos apresenta este prato para conquistar o júri?

Na verdade, o meu trunfo foi levar um prato que já tinha cozinhado muitas vezes e que todos os meus amigos insistiam que eu devia dar a conhecer a mais pessoas. Então, decidi participar com este.

Foi muito bom ter o feedback de um júri tão distinto, frisando a consistência e o sabor do prato como sendo aconchegante. Independentemente da vitória, que me deu uma enorme alegria, foi ainda uma experiência muito enriquecedora a nível pessoal.

Muitas vezes, os reality shows de cozinha são descritos como emocionantes para o público, mas stressantes para os concorrentes. O que é que nunca vemos na televisão e que faz toda a diferença nos bastidores?

Sinceramente, vejo muito poucos programas no formato de reality show, porque retiram o foco da comida e da criatividade para se focar noutros temas secundários e sem interesse.

Para mim, é muito mais interessante quando, além de mostrarem como se faz uma receita, o chef ou cozinheiro transmite o seu conhecimento e o seu cunho pessoal. É isto que tenho tentado fazer, ainda que muito em "passos de bebé", no meu canal de YouTube, onde ensino receitas italianas e originais enquanto dou dicas úteis que possam ser usadas em toda a cozinha.

No presente, a gastronomia é um palco para modas e tendências. Existe alguma tendência atual na cozinha que a irrita ou que considera despropositada?

Ver muitas pessoas a fazer conteúdos culinários, como receitas, dicas,entre outros, sem nenhuma base científica nem estudo, apenas para obter rapidamente likes e seguidores em redes sociais. Acaba por se criar muito ruído e diminui o valor de quem faz da cozinha a sua profissão.

Qual é o próximo passo de Luisiana Zappa na sua relação com a cozinha?

Continuar a trabalhar para atingir o meu sonho: conseguir um programa ou série de televisão onde possa mostrar e ensinar a cozinha italiana, porque há muitos pratos além da pasta e da pizza.