Pode afirmar-se que praticamente todos os países do mundo produzem sal. Para tanto basta que existam, ou tenham existido, mares, e que se manifeste a acção do vento e do sol, provocando a evapo-transpiração e a salinização (ou concentração de sais). O sal apresenta uma composição variável de sódio, potássio, cálcio, magnésio, cloretos, sulfatos e bicarbonatos. A geologia é a responsável pela sua composição química de base. O meio ambiente e as condições atmosféricas fazem o resto.
A pretexto do sal, podemos dar a volta ao mundo. Comecemos por aqui mesmo, por Portugal, onde produzimos hoje enormes quantidades de um excelente, puríssimo, biológico, certificado e premiado sal marinho tradicional, onde incluímos a sua “nata” – a flor de sal –, o primeiro sal a surgir à tona da água, apanhado diariamente. Com efeito, temos mais do que uma marca reconhecida e premiada a nível mundial e produzimos bom sal desde Aveiro até à Ria Formosa, no Algarve.
Na costa da Bretanha, sobre o solo argiloso onde quebram as ondas, colhe-se e safra-se um sal ao modo celta: nenhum metal pode tocar no sal durante o processo. Nessa zona apanha-se um sal acinzentado, que se desfaz em fino rapidamente e com um aroma atlântico muito forte.
Na Sicília, da combinação do mar mediterrâneo azul, do calor siciliano e dos fortes ventos africanos resulta um sal muito rico em magnésio e pouco metálico em sabor. Aqui, uma empresa inovadora inventou recentemente as pastilhas de sal – uma pastilha, um litro de água – pensadas para aqueles que têm dificuldade em calcular as quantidades de sal nas tarefas culinárias.
O sal do Rio Murray, na Austrália, naturalmente rosado, é um sal cujos cristais têm a forma piramidal.
É muito sedoso e com um aroma suave, fantástico para temperar peixe, batatas acabadas de assar ou saladas. Igualmente rosado, existe um antiquíssimo sal no
Peru, a 2.300 metros de altitude, apanhado manualmente desde há 2.000 anos, que apresenta um forte sabor, sendo excelente para condimentar cozinhados complexos.
Na ilha Molokai, no Pacífico Sul, é apanhado o sal Alaea – a presença da homónima argila vulcânica sagrada confere-lhe uma cor rosa ferrosa inconfundível, com um sabor onde se evidenciam as notas de avelã tostadas. Também proveniente das longínquas paragens do Havai, mas de tonalidade negra, consequência da acção vulcânica que lhe juntou carvão activado, existe o sal negro havaiano, a que os nativos chamam Hiwa Kai.
Dos Himalaias, deliciosamente crocante, o sal grosso de cristais grandes, cúbicos e fósseis impressiona pela sua idade, que ascenderá a 200 milhões de anos, e pelo local onde é colhido – nas minas existentes onde se deu a junção das placas Indo-australiana e Eurásia que fizeram desaparecer o mar Tétis.
Refira-se também o sal que serve praticamente toda a gastronomia da Nova Zelândia, de cor branca amarelada, proveniente das profundas águas do sul do Pacífico que passam depois no
Estreito de Cook. Ou o sal Kala Namk (sal negro, como lhe chamam), um sal mineral com origem na Índia, que na verdade é um sal cinzento e tem um sabor um pouco sulfuroso, sugestivo para chutneys, raitas ou caris.
Mas poderíamos referir também o sal preto de Chipre ou o sal de La Baleine, na costa mediterrânica de Camargue, em França (que já era colhido tradicionalmente antes da ocupação romana).
Passando para o outro hemisfério, impõe-se falar do Salish – nome dos índios que primeiro habitaram a zona Nordeste do Pacífico e que baptizou também o sal grosso das ilhas do Novo
Mundo, fumado pelo fogo de madeiras nativas e especialmente saboroso em carnes grelhadas ou assadas – ou do sal da Bolívia. Este, de cor levemente rosada-alaranjada, devido ao facto de os depósitos de sal terem sido cobertos pela lava vulcânica das montanhas dos Andes, é altamente mineralizado e supostamente protegido da poluição, dada a altitude a que é apanhado.
Comentários