Esta temporada do programa de talento culinário MasterChef Portugal contou com um grupo muito forte de concorrentes, o que tornou a dinâmica de jogo um bocadinho mais difícil de prever. A imprevisibilidade continua até este sábado à noite, quando vamos ficar a saber qual dos quatro finalistas se sagra vencedor.

A corrida parece muito renhida, mas nem assim parece ter havido mais drama que em edições anteriores (a fasquia estava alta, depois da volubilidade do Alexandre na temporada de 2023). É uma das vantagens de um concurso televisivo que é perito em deixar entrever rivalidades e antipatias, inevitáveis onde há talentos (e egos) em disputa, sem lhes dar demasiado protagonismo.

Para compensar o drama, houve o humor inglesado do João António, um gestor de comunicação que brilhou nos comentários espontâneos que ia oferecendo entre provas. Notou-se que a produção se divertiu com as suas tiradas e é possível que acabe por ser o concorrente mais marcante da temporada, mesmo sem ter chegado à final. De resto, foi mais uma edição marcada pelo icónico “Tragam o pão!” da chef Noélia Jerónimo, cuja empatia e ética de trabalho voltaram a ser a maior força do programa (como pude comprovar ao vivo no seu restaurante em Cabanas de Tavira).

O programa também teve os seus deslizes, a começar por uma invulgar, e mal explicada, nomeação direta para eliminatória (um episódio insólito que ainda incluiu um pedido de desculpas por parte do chef Miguel Rocha Vieira) e uma saída exterior num cruzeiro que pareceu algo atabalhoada e fez pouco uso dos sítios por onde passou. Vale a pena ainda deixar um reparo à produção por não atribuir as receitas inventadas sob pressão pelos concorrentes aos seus respetivos autores na página do programa, e à RTP, por ter deixado de disponibilizar todos os episódios da temporada na RTP Play.

Bárbara

A sua paixão pela pastelaria ficou logo evidente, sobretudo nas várias provas de grupo, onde se tornou a concorrente mais requisitada para preparar sobremesas, tipicamente o momento da refeição mais difícil de preparar sob pressão e no exterior. O seu percurso foi feito de altos e baixos, com o feedback dos jurados a não ser sempre doce, mas soube mostrar que o seu talento não se esgota na pastelaria e que tem vontade de aprender e fazer mais. Isso garantiu-lhe um lugar merecido na final.

Bruna

Impressionou logo à partida a Chef Noélia, mas levou algum tempo a destacar-se do grupo com a sua cozinha à base de plantas. A sua paixão e inventividade culinária ficou bem à mostra na maneira como parecia apreciar os desafios mais complicados, em que os concorrentes são obrigados a trabalhar com ingredientes menos conhecidos ou mais limitados. Protagonizou também aquele que foi um dos momentos competitivos mais afiados desta temporada, quando foi obrigada a escolher um elemento da própria equipa (que vencera o anterior desafio de grupos, mas sem convencer totalmente os jurados) para ir à prova de eliminação. É uma daquelas situações em que não há respostas certas e a concorrente de Torres Novas pareceu intui-lo, porque não esteve com rodeios ou paninhos quentes na forma como anunciou e justificou a escolha.

Na semana passada, foi a última concorrente a subir à varanda dos finalistas, mas nem isso diminui o seu estatuto de favorita para ganhar a competição. Além de privilegiar uma alimentação mais sustentável e rica em combinações (tipicamente, um fator diferenciador aos olhos dos jurados), está à vista que aprecia um bom desafio. Isso dá-lhe toda a vantagem numa final que deverá ser, seguramente, bem desafiante.

Isabel

É provavelmente a participante que superou mais provas de eliminação desta edição e só isso já a torna uma das mais empenhadas e sérias concorrentes a triunfar no sábado. Isto é, se conseguir desligar o “complicómetro” que pareceu jogar contra si ao longo do seu percurso no programa. É a cozinheira mais experiente dos quatro finalistas e a sua vocação profissional como gestora ficou patente nas provas de grupo iniciais, onde há sempre mais egos em jogo. Pareceu sempre imune às inevitáveis quezílias que se acendiam aqui e ali, concentrada nos sabores e na forma de dar a volta aos contratempos culinários. É possível que seja uma das concorrentes com mais preparação e surpresas na manga para dar luta à Bruna na conquista pelo primeiro lugar da competição.

Rui

A sua primeira apresentação aos jurados podia ter sido em código, pela forma como juntou nervosismo e um pouco de informação a mais, mas aos poucos, o Rui foi deixando os seus pratos falarem por si e encontraram bons ouvintes nos chefs. O meu momento favorito do seu desempenho no programa foi quando abordou outro concorrente, fora do alcance das câmaras, para lhe puxar as orelhas por ter retirado um ingrediente principal à sua equipa (um pequeno contratempo que, na verdade, viria a favorecê-los). A atitude foi desvalorizada por alguns dos jurados, mas foi reveladora da sua conduta ao longo do programa: mais focado em aprender e divertir-se do que propriamente cozinhar para ganhar. Além disso, foi o autor de alguns dos pratos desta temporada com que fiquei mais curioso para provar. Só não lhe dou a vitória porque já teve direito a um duelo (que perdeu) com a Bruna, numa recente prova de grupos, e isso acaba por retirar algum clímax a um novo encontro entre os dois concorrentes amigos na final.

Estes são apenas palpites de um espetador grato pelas horas de bom entretenimento (baseadas na criatividade) e receitas novas do MasterChef. Já não falta muito para ficarmos a saber se estão certos ou errados. Sábado à noite, a resposta é dada na RTP1.