Quem lhe conhece a feição sabe como a Lourinhã é concelho com traço assumidamente rural, grande produtor de abóbora, de couve, de batata, da única aguardente nacional com Denominação de Origem Controlada (DOC), mas também um território na região Oeste que explora para o turismo um recurso que a geologia tratou de deixar como legado, um dos mais ricos campos de fósseis de toda a Europa. Uma mais-valia que já este 2018 se traduziu na inauguração do Dino Parque Lourinhã, estrutura que até ao momento recebeu 100 mil visitantes e que recria à escala real 120 réplicas de dinossauros.

Um território que, com 12 quilómetros de linha costeira, também tira dividendos da denominada economia do mar, nomeadamente de atividades de lazer e desporto como o surf, mas também de traços que marcam a identidade pretérita do lugar.

Mostra disto mesmo, entre 24 de maio e domingo, 3 de junho, o convite da autarquia e da restauração da Lourinhã não exige esforço físico nos areais batidos pelo mar agreste da região, nem a caminhada de mais de dois quilómetros de exploração do Dino Parque. Antes, alguma resistência digestiva e muito apetite para vencer, à mesa, a prova gastronómica em 21 estabelecimentos do concelho [ver lista completa aqui].

Pelo décimo ano decorre a “Quinzena Gastronómica do Polvo”, uma iniciativa que recai sobre este produto com tradição na economia familiar e na pesca local e que em 2017 atraiu às mesas da região mais de seis mil comensais, de acordo com a autarquia.

Lourinhã: Na terra da Aguardente DOC e do Dino Parque o polvo tem direito a festival
Polvo panado com arroz de feijão.

O polvo é espécie ainda hoje capturada nas rochas da linha costeira do concelho, acompanhando a baixa-mar e que se faz, tradicionalmente, com três instrumentos principais, a “vara”, o “camaroeiro” e o “peixeiro”. Um molusco que também é alvo de pesca ao largo, com recurso ao uso de potes e gaiolas. Um acepipe à mesa que nestas jornadas de sabores regionais, é apreciado em pratos encostados à memória, em arrozes, à lagareiro, em salada; mas também com aproximação à cozinha de outros quadrantes gustativos, como o Carpaccio de polvo e a Bruschetta com o mesmo.

Pode o comensal que participa nestas jornadas atrever mesmo o palato em propostas com rasgos de inovação, extensíveis às sobremesas, como o pudim de povo e a queijada tendo como ingrediente o molusco marinho. Neste último caso uma sobremesa.

Em jeito de prova e de degustação de um entre os 80 pratos que chegarão à mesa no decurso das jornadas gastronómicas, sentamo-nos no Foz Restaurante, a poucos metros da praia batida pela inevitável brisa atlântica e sob um céu tecido a neblina, elemento que também marca o carisma desta costa da região Oeste.

Ao prato, depois das inevitáveis, entradas com o queijinho, o presunto finamente cortado e uma azeitonas de boa têmpera, chega uma das propostas, uma mariscada de polvo, do trio sugerido pelo Foz Restaurante para a quinzena de comeres (e que inclui Polvo à Bulhão, um panado da mesma espécie acompanhado de arroz de feijão).

Lourinhã: Na terra da Aguardente DOC e do Dino Parque o polvo tem direito a festival
Polvo à Bulhão.

Acompanha-nos nesta degustação João Serra, o vereador com o pelouro do Turismo e Competitividade da Câmara Municipal da Lourinhã que nos recorda que eventos como esta quinzena gastronómica, “são importantes dinamizadores da restauração local e uma porta de entrada para outras valências do concelho”.

Assim como o é, ao longo do ano, todo um conjunto de atividades que acompanham o calendário de eventos da região. “Há milhares de pessoas a visitar a Lourinhã ao longo de todo o ano. O exemplo mais marcante, o Dino Parque que nestes três meses de funcionamento já atraiu perto de 100 mil visitantes, metade do que apontávamos para todo o ano de 2018”.

Num concelho marcadamente rural, há a destacar algumas produções com peso local e nacional. "Temos uma batata ótima que se presta a todos os tipos de confeção, assim como uma exploração da abóbora que supre uma grande fatia da procura nacional e que é exportada, por exemplo, para Inglaterra”, salienta o vereador. Acresce neste rol de produtos, a couve, também ela com uma forte componente exportação, na casa dos 80%.

No que respeita ao calendário de eventos com grande capacidade de atração local e nacional, João Serra salienta a anual recriação histórica da Batalha do Vimeiro [21 de agosto de 1808], “este ano a decorrer entre 13 a 15 de julho, com centenas de recriadores de várias nacionalidades. Na altura também vamos ter a reconstituição de um mercado oitocentista”.

Lourinhã: Na terra da Aguardente DOC e do Dino Parque o polvo tem direito a festival
Polvo com amêijoas.

Ainda no elenco das festividades em torno dos comeres locais, setembro regressa à mesa com a festa do marisco. Um dos produtos mais arreigados à tradição piscatória da Lourinhã, nomeadamente a lagosta suada, mas também o arroz e a feijoada de marisco. “Uma mesa que hoje em dia encontra algum acolhimento na restauração local, embora pratos como o peixe seco com batata, estejam hoje praticamente extintos”.

Uma carta gastronómica que ganhou, igualmente, com as migrações internas no nosso território. Historicamente, a chegada de populações provenientes de comunidade mais a Norte, trouxe consigo os pratos de cabrito, de borrego e o sarrabulho (sangue de porco temperado e cozido acompanhado por batatas).

De regresso ao polvo, de acordo com o vereador do município da Lourinhã, estamos perante um produto que ocupa a quarta posição no pescado à escala nacional. Em Peniche, na região Oeste, de acordo com dados de 2016, ronda 22% das capturas. Ainda para João Serra uma das preocupações camarárias prende-se com a sustentabilidade do recurso dada a “pesca desportiva ilegal, com capturas de espécimes de peso inferior a 500 gramas, o que põe em causa a reprodução deste recurso”.

Também recursos, alguns dos traços da identidade local que, a prazo, a edilidade gostaria de ver explorados, “associados às oito freguesias do concelho. No fundo, trata-se de associar roteiros de visita a características de cada um destes territórios”, sublinha o vereador, acrescentando, “Em Vimeiro, temos o cariz militar, em Moledo, a narrativa de Pedro e Inês, na Moita, os moinhos e todo o ciclo do pão, na Lourinhã, a sua aguardente DOC, em Santa Bárbara, a cal, de um tempo anterior à pintura com tintas, em Marteleira, a agricultura, em Reguengo, a natureza e, finalmente, em Ribamar, a pesca”.

Certo, por agora, as muitas dezenas de petiscos nesta Quinzena Gastronómica do Polvo. Uma mesa posta nos seguintes estabelecimentos: Adega do Careca, Areal Beach Bistrot by Chakall, Barracão do Petisco, Braga, Carlos dos Leitões, Casa Saloia, Castelo, Chafariz, Chico Neto, Dom Lourenço, Dom Sebastião, Foz Restaurante, Jardim Cervejaria, O Moleiro, O Pão Saloio, Pizza & Companhia, Kizomba, Sports Bar – Restaurante e Hamburgueria, Vista Mar By Noiva do Mar, Viveiro e Zambujo