Face à urgência em conter o surto de coronavírus em Portugal, o primeiro-ministro António Costa anunciou, na noite de 12 de março, medidas de encerramento ou restritivas para discotecas e similares, assim como a redução para um terço da lotação máxima de cada estabelecimento de restauração”.
No terreno, o número de cancelamentos de reservas e quebra na clientela nos estabelecimentos de restauração é galopante. Nem mesmo casas com as tão almejadas estrelas Michelin escapam à razia, como aqui relata o chefe de cozinha Rui Paula que na sua Casa de Chá da Boa Nova (Leça da Palmeira) acusa quebras de clientela na casa dos 60%. Também os chefes de cozinha Alexandre Silva (Loco) e Ljubomir Stanisic (100 Maneiras) sublinham a agonia do setor, embora reconhecendo o momento muito sensível que atravessamos.
A associação que representa as empresas do setor, a AHRESP, criou na sua página online um guia onde reúne todas as medidas que os estabelecimentos devem tomar para prevenir a expansão do contágio por COVID-19, acrescentando que "estamos em contacto direto e permanente com a Direção-Geral da Saúde sobre este assunto, pelo que sempre que existirem novas orientações e procedimentos, partilharemos de imediato".
Em extremo, milhares de restaurantes optaram por encerrar as suas portas temporariamente, embora não adiantando uma data prevista para reabertura.
A 12 de março o Grupo Amorim Luxury, comunicava o encerramento por tempo indeterminado dos quatro restaurantes lisboetas que detém, nomeadamente os JNcQUOI Avenida, JNcQUOI Ásia, JNcQUOI Club e Ladurée.
Já a 15 de março, o Grupo José Avillez confirmava o encerramento, também temporário, de grande número dos restaurantes em Lisboa e no Porto geridos pelo chefe de cozinha e empresário.
“Face à ameaça crescente de propagação do vírus COVID-19, o Grupo SANA tomou preventivamente a decisão de encerrar temporariamente os espaços de restauração SUD Lisboa, A Pastorinha e Fifty Seconds (com cozinha do chefe Martin Berasategui)”, anunciavam as redes sociais da empresa a 13 de março.
"Apesar de, no momento em que tomamos esta decisão, não haver nenhuma indicação do Governo para o encerramento de restaurantes, o 100 Maneiras e o Bistro 100 Maneiras estarão fechados a partir de amanhã, dia 15.3.2020, sem data prevista para reabertura", assumiu, a 14 de março, o chefe de cozinha Ljubomir Stanisic, acrescentando: "agimos antes que seja tarde demais. Esperamos que as ajudas oficiais cheguem, também, antes que seja demasiado tarde. Queremos continuar a alimentar as mais de 80 famílias que dependem do 100 Maneiras. Temos uma responsabilidade enorme para com elas e é por elas, também, que tomamos esta decisão: de os enviar para casa, para junto dos seus, para que, todos unidos, possamos conter este novo vírus e recuperar as nossas vidas".
Vítor Sobral, o chefe de cozinha que detém restaurantes como Tasca da Esquina, Peixaria da Esquina, Balcão da Esquina, Talho da Esquina e a Padaria da Esquina - Lisboa, anunciou que irá "fechar os restaurantes a partir de 16 de março, mas manter a venda de refeições e produtos à porta ou através da entrega em casa via as plataformas digitais Glovo e noMenu".
Também a administração da Estoril Sol, requereu ao Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos o encerramento temporário do Casino Estoril, do Casino Lisboa e do Casino da Póvoa, a partir 14 de março, o que inclui os diversos restaurantes daqueles espaços.
Ainda a 14 de março o Time Out Market Lisboa veio anunciar que encerra "pelo tempo que for necessário para colaborar no esforço conjunto de cidadania que é a quarentena voluntária”. Medida análoga foi tomada no Mercado de Campo de Ourique, também na capital adiantando que face "o atual panorama de ameaça à saúde pública, decidiu fechar temporariamente as suas atividades de restauração".
O Grupo Portugália também encerrou todos os seus restaurantes, sublinhando em mensagem no Facebook que "Em 1925, sabíamos o que era melhor: abrir portas. Na altura, foi um sonho tornado realidade. (…) 95 anos depois, sabemos que fechar portas hoje significa reabri-las daqui a uns tempos, quando a tempestade tiver passado e quando a saúde pública não estiver em risco”.
Também o Grupo SushiCafé avaliou todo o contexto que se vive devido e decidiu "encerrar por tempo indeterminado todos os seus restaurantes, com efeitos a partir de hoje (16 de março)". Uma medida que afeta o funcionamento dos estabelecimentos Avenida SushiCafé, SushiCafé, Este Oeste, SushiCorner, SOI, Mano a Mano e Izanagi, Asian Lab, incluindo as opções de home delivery e takeaway..
“É uma decisão muito difícil mas responsável e acreditamos que não poderia ser de outra forma. Estamos numa fase em que o risco de propagação é crítico pelo que devemos ter como principal prioridade a proteção daqueles que nos rodeiam, seja clientes ou colaboradores. Encerramos por motivos de força maior mas tudo faremos para que o funcionamento dos restaurantes volte ao normal e, por isso, estaremos a acompanhar permanentemente a evolução desta pandemia”, refere Fonte Oficial do Grupo SushiCafé.
Um clássico dos comeres lisboetas, o Solar dos Presuntos, também anunciou o encerramento temporário de portas a partir de 14 de março “sem previsão de abertura”, adiantando que “face à delicada situação vigente, não podemos esperar nem mais um dia. Importa tomar decisões imediatas e, por isso, vamos estar encerrados e, toda a nossa equipa sem exceção, de quarentena”.
Mais a norte, em Matosinhos, o restaurante O Gaveto veio a público dar nota de que “tendo em conta as diretrizes da direção-geral de saúde e o superior interesse dos nossos clientes, colaboradores e população em geral, decidimos, como medida preventiva e face à crescente ameaça do vírus COVID-19, encerrar temporariamente o restaurante”. Isto a partir de 14 de março.
Em Amarante, o restaurante Largo do Paço, com uma estrela Michelin, decidiu "encerrar a sua atividade até ao final do mês de março, altura em que se irá reavaliar a situação", anunciou. Também com uma estrela Michelin, o restaurante A Cozinha, em Bragança, encerrou portas temporariamente.
No Porto, o Restaurante Astória, localizado no Hotel InterContinental Porto - Palácio das Cardosas, encerra a partir de segunda-feira, 16 de março. Uma decisão que considera “a saúde pública e bem-estar de clientes, colaboradores e familiares. Ainda não há data prevista para a reabertura”, informa a equipa daquele espaço histórico.
Também na Invicta, o Euskalduna Studio informou que a partir de 14 de maço estará de portas fechadas, interrompendo a sua atividade por algumas semanas como forma de prevenção. “O mesmo acontecerá com o Semea by Euskalduna a partir deste fim de semana [14 de março]”, lemos em comunicado.
No Alentejo, verdadeira instituição da região, o Restaurante Fialho, em Évora, também anunciou o encerramento temporário, “tendo em conta os interesses públicos superiores de saúde pública e em nome do bem-estar dos seus clientes, colaboradores e suas famílias”.
Mais a sul, no Algarve, o restaurante Noélia, gerido pela chefe de cozinha Noélia, também fechará portas a partir de 16 de março. “Vimos por este meio informar, que iremos encerrar o nosso restaurante até existirem condições para podermos trabalhar em segurança. Pedimos desculpa a todas as pessoas que têm reserva connosco e a todos os frequentam a nossa casa. É tempo de proteger as nossas famílias, amigos e todos os seres humanos que nos rodeiam”, lemos em post do Facebook.
Ainda no Algarve, Henrique Leis que comanda o restaurante de nome homónimo (perdeu em 2019 a estrela Michelin que detinha há duas décadas), tomou a decisão de encerrar portas até 1 de abril.
Última atualização às 17h20 de 16 de março.
Comentários