A bola doce é um dos ícones da doçaria conventual do Planalto Mirandês, confecionada com canela e açúcar às camadas, sendo amassada à mão, cozida num forno tradicional e servida na quadra pascal.

Adília Coelho, doceira de Miranda do Douro contou a agência Lusa que desde muito nova se dedica a confeção da bola doce mirandesa e que esta tradição já está na família há mais de 200 anos, sempre com a mesma receita.

"Há cinco anos que comecei a fazer para fora a bola doce e as pessoas estão a aderir ao produto” que tem “uma receita bem guardada no seio familiar", frisou.

Para confecionar este folar, os ingredientes terão de ser bem selecionados e a massa bem esticada para dar origem a um doce húmido, com camadas muito finas separadas por canela e açúcar.

"A bola doce tem de ser confecionada com calma e seguir à risca a receita para se obter um bom resultado final", observou.

Segundo a tradição mais antiga, esta bola é confecionada com farinha de trigo, ovos, canela, açúcar, fermento padeiro, manteiga, azeite, e sal. A quantidade de ingredientes depende do peso de cada bola.

"Para que a bola doce seja genuína, fina e mais saborosa deve ser confecionada com farinha de trigo serôdio", adianta Adília Coelho que se dedica desde sempre a elaborar este produto.

A bola doce mirandesa deixou de ser um fenómeno sazonal e assumiu o papel de produto regional que já é vendido durante todo o ano em Lisboa, no Porto e em alguns pontos de França e Espanha.

Paula Domingues, que produz aquela iguaria de forma mais industrial no concelho de Miranda do Douro, conta que é fabricada ao longo de todo o ano em forno a lenha, mas teve de haver alterações no processo de fabrico devido à procura do doce, principalmente, no período da Páscoa.

"Atualmente a bola doce é confecionada ao gosto do cliente, com mais ou menos açúcar", enfatiza a produtora para quem aquele folar se deve comer acompanhado de bons vinhos tintos de mesa ou vinho do Porto, em caso de sobremesa.

Segundo o historiador, António Rodrigues Mourinho, a bola doce é uma peça de pastelaria, com origem, pelo menos, em tempos dos descobrimentos portugueses.

"Há registos pelo menos desde 1510 que indicam [esta como] a data mais provável da introdução da bola doce nas mesas dos habitantes do Planalto Mirandês. A tradição foi herdada dos conventos ou de famílias do clero e de gente rica. O povo foi modificando à maneira regional, dando-lhe uma forma e sabor próprio que a distingue da doçaria de outras regiões", afiançou o investigador.

Dadas as suas características, a autarquia deu início o processo de registo da Bola Doce Mirandesa para que seja considerada um "produto genuíno" da região do Planalto Mirandês.

A bola doce tem mesmo um certame que lhe é dedicado e que termina sábado na cidade de Miranda do Douro, numa organização conjunta do município e de uma associação de produtores.