Mas, apesar deste trajeto positivo, o setor tem de afirmar-se mais nas exportações e valorizar preços, defende à agência Lusa Francisco Mateus presidente da Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA).
“A vitivinicultura tem peso na região, no contexto do agroalimentar, e tem vindo a crescer”, afirma o responsável do organismo que certifica, controla e protege os vinhos com Denominação de Origem Controlada (DOC) Alentejo e Regional Alentejano.
Desde há 30 anos, quando “a região vitivinícola foi delimitada” – em 1988, a CVRA foi criada no ano seguinte – o setor “está hoje muito mais profissionalizado” e “houve um grande trabalho em termos de investigação e de melhores práticas”, o que “marcou os vinhos” desta zona de Portugal.
“A forma como os consumidores aceitaram os Vinhos do Alentejo nos primeiros anos da década de 90 teve a ver já com alguma revolução tecnológica” da região e “o Alentejo, em 30 anos, quase que se rejuvenesceu”, diz.
Para esta área “entraram pessoas com uma visão muito profissional e jovens com formação e experiência noutros locais do mundo”, assinala.
“Há muita gente que trabalha hoje no Alentejo, mas que estudou fora de Portugal ou teve experiências profissionais fora do país e, portanto, vêm com mais ‘mundo’ e isso é bom. Estamos mais abertos a inovar”, argumenta.
O Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), iniciativa pioneira em Portugal promovida pela CVRA (apesar de existir noutras partes do mundo) é um dos exemplos da inovação que marca a região.
Lançado em 2015, o programa começou “com 94 membros” e, hoje, já tem “386”, conta à Lusa João Barroso, gestor do PSVA, que é dirigido a produtores de uva e de vinho da região, mas trabalha também em rede com instituições de investigação, de ensino superior, organismos regionais e nacionais, entre outros.
O PSVA, de adesão voluntária, incentiva as boas práticas ambientais e sustentáveis nas vinhas e adegas e, recentemente, foi um dos 15 vencedores do Concurso Europeu de Inovação Rural 2019, do Projeto LIAISON, que faz parte da Parceria Europeia de Inovação para a Produtividade Agrícola e a Sustentabilidade (EIP-AGRI), da Comissão Europeia.
Os produtores alentejanos também têm estado atentos à União Europeia e aproveitam os apoios comunitários para melhorar as suas instalações e o seu produto.
“Tem havido investimento na modernização de adegas e têm sido importantes” os fundos europeus, diz Francisco Mateus, exemplificando que as ajudas têm sido aproveitadas “para o 'marketing'” e “promoção no estrangeiro”, ajudando as adegas a “estarem nos mercados e a irem a feiras”.
Já o Programa VITIS, de reestruturação da vinha, tem sido “um marco importantíssimo”. Entre 2000 e 2017, foi aprovada uma ajuda global comunitária “de 137 milhões de euros” para o Alentejo, correspondendo “a uns 200 milhões de euros investidos na terra”, destaca, aludindo que a área de vinha aprovada para reestruturar foi de “cerca de 17 mil hectares, desde 2000 e até à campanha de 2017/2018”.
O Alentejo, em 2018, produziu “107 milhões de litros de vinho”, registando “um ano melhor do que o anterior”, já que “2017 foi o culminar de três anos de quebra sucessiva de produção”, devido à seca. Este ano, a produção não deve “chegar perto desse valor”, pela falta de chuva, admite, embora confiante na qualidade: “Os produtores relatam que vamos ter um excelente ano”.
Dos 24.544 hectares de vinha no Alentejo, segundo dados de 2018 do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), quase 21.962 hectares estão cadastrados na CVRA. Há 30 anos, essa diferença era muito maior: “À medida que o tempo foi avançando, tornou-se uma mais-valia poder usar a designação Alentejo”.
A região “lidera, há muitos anos, a quota de mercado” em Portugal, o principal destino dos seus vinhos: “Temos perto de 40% da quota de mercado dos vinhos certificados, o que é muito bom” e, em 2018, o preço médio foi “superior à média nacional”.
Nas exportações, o Alentejo “tem estado relativamente estável” e, em média, entre 2015 e 2018, vendeu quase 20 milhões de litros de vinho para o estrangeiro, com 62,3 milhões de euros de faturação média.
A Europa, “no conjunto, é o principal destino” externo da região, mas, “país a país”, os primeiros lugares do “ranking” são ocupados por Angola, Brasil, Estados Unidos e Suíça, acrescenta.
O que falta ainda ao Alentejo é “gerar mais valor monetário” com o seu vinho e “dar o ‘salto’ para conseguir ter mais vinho para exportação, diversificando o conjunto de países para onde vende o produto”, defende.
E a ambição da CVRA, frisa Francisco Mateus, que reconhece que “é um trabalho que nunca acaba”, passa por “tornar o Alentejo numa região vitivinícola reconhecida na Europa e a nível mundial”.
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