Praticar, praticar, praticar, este é o melhor conselho para quem se quer lançar na arte de apreciar um whisky, a “água da vida” (do gaélico escocês uisge-beatha), como também é conhecido historicamente. Pede paciência esta bebida que remonta ao século XV e que tem na matéria-prima, proveniência, produção, estágio, entre outros factores, notas importantes nas diferenças de carácter.

Um whisky altera-se e evolui com os anos, torna-se, por regra, mais rico, complexo e saboroso, adquire a tonalidade do barril, novo ou usado, onde estagiou e que pode ter recebido anteriormente outras bebidas, como xerez ou vinho do Porto.

Um bom whisky velho terá para lá de 15 anos. A sua cor será vivaz, o aroma com personalidade e o sabor bem marcado.

Ao whisky, encontra-o no mercado em diferentes formulações, entre elas, os single malt (uma mistura de whiskies de malte de uma mesma destilaria) ou blended (produzido com base na mistura de single malt e whiskies de grãos, por exemplo milho).

Não se prenda apenas aos whiskies escoceses (ou, preferindo, os Scotch). A Irlanda (que não usa apenas cevada maltada e opta pelo carvão, em detrimento da turfa, para ferver a cevada), o Japão, os Estados Unidos (por exemplo o Bourbon Whiskey, à base de milho), o Canadá, a Alemanha, a Suécia, a Índia e Taiwan também os produzem com qualidade.

Também não fique confundido se ler whisky ou whiskey. Os produtores irlandeses, americanos e japoneses optam por esta última grafia. Já os escoceses e canadianos preferem a primeira.

Vamos à prova:

1- Escolha o copo ideal.

Não há grande segredo envolvendo este passo. Aliás, encontra no comércio copos próprios para degustar whisky. O copo, de vidro, para não alterar o sabor da bebida, deve de ser baixo e largo, com uma base alta onde vamos segurar. Impede que o calor da mão altere a qualidade do whisky. O ideal tem o formato de túlipa e de vidro fino, sem rebordo. O formato em túlipa vai concentrar os vapores do whisky perto do bordo (mais estreito). Não vai encher o copo com o whisky que escolher, antes verter uma pequena quantidade, até 50 ml (a altura do dedo indicador encostado à base do copo).

8 passos para nos iniciarmos na degustação do whisky, “a água da vida”

2- Numa primeira prova não acrescente nem água, nem gelo ao whisky

Tenha em consideração que o deve servir a uma temperatura entre os 18 e os 22 ºC. Com as mãos, vai inclinar ligeiramente o copo, girando-o. Faça um círculo completo para distribuir bem a bebida, o que aumenta a superfície de oxidação (contacto com o ar) e realçar aromas que estão no fundo do copo.

3- Prove o whisky puro para lhe tomar o aroma e o sabor

É uma boa forma de avaliar se lhe quer acrescentar os dois elementos indicados. Numa prova, estão envolvidos vários sentidos, o palato é apenas um deles e não é, neste caso, o primeiro a tocar na bebida. Antes, aprecie o odor do whisky. Faça-o inspirando-o um duo ou trio de vezes. Não se esqueça, o copo é largo. Coloque o nariz para lá do bordo e inspire. Faça-o mais de uma vez para captar os aromas da bebida para lá do odor do álcool, que pode sobrepor-se a outros aromas (madeira, baunilha e outras especiarias, caramelo, café) na primeira inalação. Mantenha a boca ligeiramente aberta enquanto inala. Os dois sentidos estão intimamente ligados.

8 passos para nos iniciarmos na degustação do whisky, “a água da vida”

4- Dependendo do whisky, vai experimentar aromas primários

No whisky perceberá os chamados aromas primários, associados à cevada e ao milho (este último designado “de grão”). Os aromas secundários, provenientes da fermentação e destilação, podem apresentar-se de levedura, metálicos e leitosos. Para fechar, os aromas terciários já se prendem ao envelhecimento, nomeadamente aos cascos de madeira.

5- Cheirou? Não, ainda não vai beber o seu whisky. Primeiro vai bochechar

Comece por ingerir uma pequena quantidade, sem engoli-la. Antes, vai “jogar” com esse líquido dentro da boca, bochechando-o ligeiramente, sentindo-o sobre a língua. “Mastigue-o”, simulando o ato. Vai ajudar a bebida a envolver toda a cavidade bocal. Engula, então, sentido o whisky a descer pelo esófago e inale simultaneamente. Resista à tentação de levar nova quantidade de bebida à boca. Tente perceber que notas de ingredientes sente para além do álcool.

8 passos para nos iniciarmos na degustação do whisky, “a água da vida”

6- Partindo do whisky puro, vai, agora, acrescentar-lhe água.

Crê-se que esta traz à superfície alguns dos elementos mais agradáveis e subtis constantes de um whisky, “abrindo-o”. Não vai, naturalmente, verter uma grande quantidade de água. Antes, algumas gotas de água mineral, fresca que pode adicionar usando uma pipeta. Agite o whisky. Acrescente a água aos poucos, até sentir o paladar que mais lhe agrada.

7- Um grande apreciador de whisky provavelmente não irá aprovar a ideia de lhe acrescentar um cubo de gelo.

“On the rocks, não, por favor”, dirá. Tenha, contudo, em consideração que o gelo vai diluir-se em contacto com a bebida alterando-lhe o sabor. Escolha gelo de boa água e cubos grandes, pois levarão mais tempo a derreter. Considere, ainda, que poderá perder algumas das características mais subtis do whisky, dado que ficará com as papilas gustativas dormentes.

8 passos para nos iniciarmos na degustação do whisky, “a água da vida”

8- Finalmente, o whisky não é para beber num trago.

Vai degustá-lo pausadamente, sentindo-lhe a evolução à medida que os minutos passam. Guarde tempo para beber o seu whisky, entre 30 a 60 minutos. Faça-o enquanto convive, lê, ouve música mas, importante, concentre a sua atenção no momento em que entrega o seu whisky aos sentidos.

Finalmente, a paleta de whiskies é quase tão vasta como o universo. Visite uma garrafeira e não veja problema em entregar nas mãos de um profissional a sua viagem primeira pela "água da vida". Não precisará de um investimento astronómico para adquirir os seus primeiros whiskies. Há os, inclusivamente, em garrafas miniatura. Compare-os, anote-lhes as diferenças e, na próxima visita à garrafeira, partilhe-as com quem lhe aconselhou as bebidas.