Em 2018, a arménia Karine Sarkisyan, quis trazer para a capital portuguesa um pouco da mesa do seu país natal. Há alguns anos a viver em terras Lusas, a empreendedora já nos havia habituado a casa com a sua assinatura, também em Lisboa, o restaurante D. Afonso o Gordo. Com o Ararate, Karine remontou às suas origens, distantes geograficamente, à Arménia. No nome do seu segundo restaurante, Karine trouxe para Portugal menção à montanha sagrada para os arménios. Nela, tal como o SAPO Lifestyle documentou nesta reportagem, crê a tradição judaico-cristã, terá repousado a Arca de Noé. Também nela repousam os olhos os arménios que, a partir da sua capital, Erevã, avistam os contornos da montanha mítica, símbolo de identidade nacional e representada no brasão de armas deste país da região euroasiática.
Encruzilhada de territórios, a Arménia faz síntese na sua cozinha das permutas com regiões próximas. Do Oriente adotou os temperos exóticos; da Ásia Central ficou a conhecer o grão; dos Turcos aprendeu a técnica de grelhar carne em carvão e introduziu o kebab na sua alimentação. Já a Europa contribuiu com os legumes e verduras.
Volvido o primeiro ciclo de outono e inverno à mesa do Ararate, a carta do restaurante instalado nas Avenidas Novas, não muito longe da “casa” de um outro ilustre arménio, Calouste Gulbenkian - a Fundação dista poucas dezenas de metros - , apresenta um novo elenco para este verão.
Uma ementa mais fresca, como pede a estação, embora sem desmerecer a linha de sabores que já apresentava na estação fria. Mantém-se uma parte substancial dos irrecusáveis da casa, como o Lavash (pão), o Dolmá (folhas de videira recheadas com carne de vitela), o Chackapuli (borrego estufado em ervas aromáticas das montanhas), o Khinkali (massa recheada de carne picada e com um caldo suculento).
Antes de descortinarmos que comeres arménios são estes os do estio, olhemos para o território, ou melhor, para os humores atmosféricos nos meses de verão nesta região do Cáucaso. Depois de um inverno duro, gelado e com a visita na neve, o verão na Arménia é seco e quente. Valem, aos habitantes locais, as praias fluviais num país que, inclusivamente, dedica um festival à água, o Vardavar, celebrado 94 dias após a Páscoa. Celebração em que se lançam baldes de água fresca entre os participantes. Uma prática que assenta numa crença local, a de que Noé ao sair da Arca, no Monte Ararate, ordenou aos seus filhos que jogassem água uns sobre os outros.
Voltemos no tempo e recentremos a atenção na carta do Ararate e um possível caminho de escolha numa ementa que nos traz mais de uma dezena de novidades. Pratos que pedem uma mesa com tempo para degustar, embora também lhes encontremos feição petisqueira. Em ambos os casos, com o verão, o restaurante disponibiliza uma esplanada com 36 lugares.
A não desmerecer, porque peça importante nesta mesa, o já referido Lavash, pão que tão bem acompanha molhos. Num primeiro momento, pode o leitor deleitar-se com um Khachapuri (8,5 euros), um robusto pastel de feijão vermelho e ervas. Vai pensar, “feijão e verão talvez não combinem”. Sim, mas neste caso, espevite as suas papilas gustativas, tem um Tan a acompanhar. Ou seja, uma fresca bebida à base de leite fermentado, com pepino, sal e salsa. Uma prova de destreza para o nosso palato, obrigando-o a viajar por outras dimensões de sabor.
Ainda para dizer “não” ao calor, prove-se a Spass (4,5 euros), uma sopa de iogurte com dzavar (variedade de trigo da montanha) e manteiga, servida com coentros ou hortelã. Se o leitor não resistir, mesmo em tempo de canícula, ao aconchego de uma sopa reconfortante, tem um caldo de abóbora com mel e hortelã (4,50 euros), com um travo guloso, a pedir repetição na dose.
Sim, vamos falar de peixe. Verão chama o mar para as nossas mesas. A Arménia não é um país de costa marítima. Mas tem rios e com eles o esturjão. No Ararate podemos degustar este peixe de bom porte (quando ai o deixam chegar) numa tábua em diferentes modalidades, fumado, maturado, marinado com ervas aromáticas ou com laranja (12,00 euros).
No que toca às carnes, opte-se, por exemplo, por um Khurdjin, borrego assado no forno em trouxa de lavash (videira) com legumes estufados em cerveja (17,00 euros).
Se os apetites estiverem mais virados para opções vegetarianas, a nova carta traz-nos a Curgete tenra com azeite aromatizado com ervas aromáticas e folhas de espinafres salteadas na hora (12,00 euros). Ainda nas saladas, mas aqui com um toque cárnico, a de Carne de vitela frita, tomate, cogumelos, alface, tomate cherry, folhas tenras de aipo, molho de cogumelos e azeite (9,50 euros), fazendo bem a vez de prato principal.
A fechar, do duo de sobremesas propostas na nova carta, optamos pela proposta menos óbvia embora com alguma segurança naquilo que nos podem oferecer a doçura de uns figos fresco grelhados, macios e contrastando com um merengue estaladiço (7,50 euros).
Quem procurar variedade na fruta, pode contar com a dita, assim como bagas da época, acompanhadas com merengue de caramelo (6,50 euros).
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