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Foi o momento alto da noite quando Marta Leite de Castro anunciou o restaurante Marlene (Lisboa), da Chef Marlene Vieira, que ganhou finalmente a sua primeira estrela Michelin. Falamos de um momento histórico, muito emotivo e com aplausos de pé para aquela que é a primeira mulher a ser agraciada com este prémio no século XXI (na década de 1990, o restaurante Ti' Alice, em Fátima, de Maria Alice Marto, recebeu o galardão).
“Somos um casal cheio de estrelas”, disse a brincar uma emotiva Marlene, em referência a João Sá, do restaurante Sála (Lisboa), que venceu a estrela Michelin no ano passado. A Chef dedicou o prémio à sua equipa, sobretudo a uma das chefs da sua equipa que foi mãe há dois meses. “A todas as mães”, saudou.
Já antes, no momento da passadeira vermelha, em conversa com a Chef Pasteleira Juliana Penteado, Marlene afirmava que "o coração no Porto bombeia mais rápido", talvez denotando uma premonição. "Estou feliz por estar entre amigos. Com ou sem estrela, o importante é quem está ao nosso lado", dizia ainda.
Blind dos Chefs Vítor Matos e Rita Magro (Porto) e Oculto também do Chef Vítor Matos e Hugo Rocha (Vila do Conde), são outros dois restaurantes com uma estrela Michelin.
“Foi um longo caminho até chegar aqui. Foi longo e sofrido, mas finalmente chegámos. Foi mesmo um trabalho de equipa que todos os dias dá o seu melhor”, afirmou a chef Rita Magro, que no ano passado ganhou o prémio Jovem Chef.
Vítor Matos torna-se o chef português a acumular mais estrelas Michelin (cinco no total). “Eu gosto de estar nestes projetos, mas atrás”, assumiu ao receber os prémios, fazendo alusão ao outro projeto partilhado, o 2Monkeys, em Lisboa, que no ano passado foi agraciado com a primeira estrela. O Chef fez ainda referência à importância da família para as equipas que compõem as cozinhas.
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Palatial, do Chef Rui Filipe (Braga), também se juntou ao grupo de restaurantes com uma estrela Michelin. “É uma noite com os sentimentos à flor da pele”, assumiu.
Também Henrique Sá Pessoa, que já tem duas estrelas Michelin no Alma (Lisboa), viu premiado o seu projeto a Norte, Vinha, a par do chef Jonathan Seiller. “Foi uma surpresa”, confessou Sá Pessoa.
YŌSO, do Chef Habner Gomes, fechou o leque de uma estrela. Gomes subiu ao palco visivelmente emocionado, dedicando o prémio à família.
Fica no ar o sentimento de que falta algo mais. Portugal continua a não ter qualquer restaurante com três estrelas Michelin. No capítulo duas estrelas, também não houve nenhuma novidade face a 2024.
Novidade houve sim no que toca à Estrela Verde, galardão que premeia a sustentabilidade nos estabelecimentos. Com a Estrela Verde atribuída este 2025 ao Encanto, em Lisboa, são já seis os estabelecimentos reconhecidos nesta categoria. Liderado pelo chef José Avillez, e situado mesmo ao lado do seu Belcanto, com duas Estrelas, o Encanto está totalmente centrado no trabalho com vegetais orgânicos sazonais, provenientes tanto dos pequenos produtores locais, como da quinta Casa Nossa, no Alentejo.
Prémios especiais em noite de cultura gastronómica
A noite começou com a atribuição dos chamados prémios especiais. O Michelin Sala foi atribuído a Nelson Marreiros, chefe de sala do Ocean (duas estrelas Michelin). “O mais importante é misturar a parte técnica com hospitalidade”, partilhou ao receber o primeiro prémio da noite.
Marco Pinto, do Fifty Seconds (uma estrela Michelin), arrecadou o prémio Sommelier. “Nós sommerliers somos um misto de emoções, de emoções do vinho, e a forma como as fazemos chegar aos consumidores”, afirmou.
Na noite em que José Diogo Costa, do William, venceu Jovem Chef, João Rodrigues conquistou o Bib Gourmand (melhor relação qualidade/preço), com o Canalha (Lisboa) assim como Óscar Geadas, com o Contradição (Bragança). Oma, do Chef Luís Moreira (Porto), Pigmeu do Chef Miguel Azevedo Peres (Lisboa) e Terruja do Chef Diogo Caetano (Alvados) fecharam o leque, totalizando cinco novidades.
Nos novos restaurantes recomendados pelo guia, são 35 as adições. Na zona Norte, anunciados por Rui Paula, estão o Bistrô By Vila Foz (Chef Arnaldo Azevedo, Matosinhos), Cibû (Chef Hugo Portela, Leça da Palmeira), Culto do Bacalhau (Chef Américo Peneda, Porto), Esperança Verde (Chef Hugo Sousa, Braga), Flor de Lis by Vila Foz (Chef Arnaldo Azevedo, Matosinhos), Kaigi (Nuno Brás e Vasco Coelho Santos), Le Babachris (Chef Christian Rullán, Guimarães), Mito (Chef Pedro Braga, Porto), Filho da Mãe (Chef Wesley Amorim, Braga), Real by Casa da Calçada (Chef Emiliano Silva, Porto), Seixo By Vasco Coelho Santos (Chef Vasco Coelho Santos, Tabuaço) e Tokkotai (Chef Paulo César Nogueira, Porto).
Henrique Sá Pessoa anunciou os novos restaurantes da zona centro com o Ceia (Chef Renato Bonfim, Lisboa), Conceito (Daniel Estriga, Cascais), Izakaya (Chefs Tiago e Isaac Jorge Penão, Cascais), Las Dos Manos (Chef Kiko Martins, Lisboa), Memórias Santar (Chef Luís Almeida, Santar), Omakase Ri (Chef William Vargas, Lisboa), Oven (Chef Hari Capagain, Lisboa), Prosa (Chefs João Covas e Rui Paula, Aveiro), Safra (Chef Sérgio Silva, Coimbra) e Vibe by Mattia Stanchieri (Chef Mattia Stanchieri, Lisboa).
João Oliveira fez as honras dos restaurantes do Alentejo, Algarve e Ilhas que premiou o Ákua (Chefs Júlio Pereira e Liliana Abreu, Funchal), Atlântico (Chef João Sousa, Porches), Audax, (Chef César Vieira, Funchal), Avista Ásia (Chefs Rui Pinto e Benoît Sithon, Funchal), Cavalariça Évora (Chefs Catalina Viveros e Bruno Caseiro, Évora), Gazebo (Chef Filipe Janeiro e Funchal), Híbrido (Chef João Narigueta, Évora), Legacy Winery (Chef Emanuel Rodriguez, Estremoz), Mapa (Chef David Jesus, Montemor-o-Novo), Oxalis (Chef Gonçalo Bita Bota, Funchal), Restaurante F (Chef Luís Oliveira, Portimão), Sublime Comporta Beach Club (Chef Diogo Gonzaga, Carvalhal) e Vistas Monte Rei (Chef André Simão, Vila Nova da Cacela).
Um guia com 125 anos de história
O Guia Michelin nasceu em 1900, com a ideia original de ajudar motoristas a encontrar serviços úteis como postos de combustível, oficinas e restaurantes, promovendo viagens e a venda de pneus. Inicialmente gratuito, o guia passou a ser cobrado em 1922, com o objetivo de aumentar a sua credibilidade. Em 1926, começou a classificar restaurantes de fine dining, com o sistema de estrelas introduzido em 1931. A atribuição de estrelas é baseada na qualidade da comida, não sendo levados em conta o ambiente ou a decoração dos restaurantes. Com o tempo, o guia expandiu-se internacionalmente, chegando a Portugal em 1910 e passando a distinguir restaurantes com estrelas.
Nos presente, o Guia Michelin continua a ser um símbolo de excelência gastronómica, com países como França e Japão a liderarem a lista de restaurantes premiados. A Michelin também introduziu o prémio Bib Gourmand, que destaca restaurantes com boa comida a preços moderados. O trabalho dos inspetores, responsáveis pela avaliação dos restaurantes, é altamente discreto e rigoroso, com critérios secretos que apenas focam a qualidade da gastronomia.
Desde 2024 que o Guia Michelin tem a sua versão portuguesa, depois de ter estado durante anos numa edição conjunta com Espanha, num guia ibérico. Maria Paz Robina, Diretora Geral da Michelin Espanha e Portugal, sublinhou ser uma “honra representar a Michelin nesta gala. Estamos a celebrar este momento na bela cidade do Porto, conhecida pelo seu património, com um centro histórico classificado como Património Mundial da UNESCO. Aqui, é uma delícia celebrar com um copo de vinho frente ao rio Douro. Hoje também celebramos os produtos locais. É uma noite de reconhecimento a todos os intervenientes do setor”.
Carlos Abade, Presidente do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, classificou o Porto como uma cidade “mágica” e referiu-se ao presente momento como “um dia especial, em que celebramos a dimensão da gastronomia, que une povos e histórias. Também celebramos a riqueza da gastronomia portuguesa, que acrescenta valor à experiência turística. Se hoje conseguimos atingir os números recorde no Turismo, tal também se deve à gastronomia. É um valor ativo, que diversifica o destino Portugal. Por este motivo, estamos todos de parabéns. Há um compromisso inabalável do Turismo de Portugal no crescimento da gastronomia. Fazemo-lo em eventos como este, nos fóruns mundiais onde nos dirigimos, nas escolas de hotelaria e turismo. Deixo uma palavra aos chefs, mas também a todas as equipas e pessoas individuais que cooperam no setor”.
Gwendal Poullenec, Diretor Geral do guia Michelin, iniciou a sua intervenção, previamente gravada, por referir-se ao Porto como uma “maravilhosa cidade”. Continuou a enaltecer “a seleção de restaurantes que os nossos inspetores visitaram. A alguns regressaram, outros foram novas experiências. Em Portugal, encontrámos um panorama gastronómico que continua a cativar-nos, com a criatividade dos chefs e das suas equipas. O Guia Michelin enaltece este talento. Cada reconhecimento é um testemunho de instituições que operam no setor desde longa data, mas também estabelecimentos emergentes”. Gwendal Poullenec acrescentou, ainda, que "Portugal está numa linha de crescimento, e, pouco a pouco, a tornar-se num destino gastronómico de referência para os amantes da alta cozinha de todo o mundo. O compromisso dos chefs com o território é absoluto, revelando, no Norte, um maior apego ao receituário tradicional do que no Sul, onde podemos falar de um maravilhoso encontro entre os sabores lusitanos regionais e os de gosto mais internacional. Por outro lado, a sustentabilidade continua a ganhar terreno, não só no sentido local, mas também em termos de excelência, aquela que procura sempre descobrir para o comensal viajante as melhores matérias-primas das diferentes regiões do país".
Pedro Machado, Secretário de Estado do Turismo, salientou que “a frescura, a autenticidade, a criatividade e a sustentabilidade deram o mote à campanha de promoção da gastronomia portuguesa que o Turismo de Portugal lançou. Creio que a melhor forma de o fazer é com chefs como vós que trabalham os nossos produtos. A gastronomia está bem enraizada na cultura portuguesa. Eça de Queirós dizia que a forma como se faz um assado em Portugal demonstra o nosso ADN, mais do que a sua própria literatura”.
A noite contou ainda com a atuação do grupo Expresso Atlântico.
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