Quem bem procurar vai encontrar na toponímia de Lisboa seis designações relativas a atividade de Ferreiro, entre ruas, becos e travessas. Hoje, profissão caída para as memórias das artes exercidas na capital, no passado, labor disseminado cidade fora. De tal ordem que lhe ficámos com as menções coladas ao nome das artérias. Uma delas, discreta, a Travessa dos Ferreiros a Belém, é desde maio de 2018 casa que recria certos ambientes também hoje em desuso. Estabelecimento que nos traz à mesa cozinha de sabor caseiro, petisqueiro, com menção e presença de produtos que preenchem os comeres lusos.
A Taberna dos Ferreiros é projeto que nasceu do assomo de três sócios sem experiência anterior nas lides da restauração, mas com paixão pela gastronomia, pelos ditos comeres de ´tasco` nacionais. Isto numa mesa de apresentação cuidada, onde não falta mão de chefe de cozinha, a de Maurilhio Fernandes.
É Maurilhio que, da cozinha aberta para a sala, orquestra e dá corpo às propostas de uma carta de elenco contido e que muda algumas das sugestões de dois em dois meses.
No cardápio, os sempre tão nossos e acarinhados pratos de bacalhau, neste caso a versão à “Ferreiro” (bacalhau crocante com puré de grão de bico e laranja) e a Mediterrânica - ambas a 12,00 euros a dose - ou o Bife “à portuguesa” (12,50 euros), ou mesmo a Perna de pato com arroz cremoso de cogumelos (13,00 euros). Citando dois dos pratos de resistência da carta.
Isto sem que falte a incursão por alguns comeres de pires (em doses generosas), como os Peixinhos da Horta (4,50 euros), o Polvo braseado sobre carpaccio de batata (7,00 euros), o pica-pau (6,00 euros) e as asinhas de frango com molho thai (5,50 euros).
Terá o leitor atentado na referência ao molho thai. É aqui que esta Taberna dos Ferreiros abandona a sua feição assumidamente de comeres portugueses, para uma incursão por sabores de outras partilhas do mundo. Pode até não ser descabida no contexto do território lisboeta onde abre portas esta casa, porto de muitas partidas oceânicas no passado. Contudo, a viagem por ceviches, fondues e roastbeef, poderia ser omitida sem perdas na qualidade de uma carta onde estão os nossos enchidos e queijos, a sopa, a sardinha assada e os vinhos portugueses – tem serviço a copo -, do produtor Cortes de Cima. Exceção do Verde, “Soalheiro”, referência dos Alvarinhos.
A não perder, nos territórios doces, a Mousse de chocolate (3,75 euros) e o Pudim de leite (4,50 euros).
Isto em estabelecimentos com capacidade para 34 comensais que se sentam em ambiente informal e que contou com a intervenção no desenho do espaço do arquiteto Tiago Silva Dias, associado outro projetos na restauração como o Alma, Tapisco, Silk, Jeronymo. Decoração quanto baste de rústica, numa casa onde, antes, funcionou um armazém de eletricidade.
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