Genuíno, límpido, transparente. Três, entre as muitas entradas que encontramos nos velhinhos (mas sempre tão atuais) dicionários para nos explicar uma palavra curta, mas que tão bem nos soa. Puro é a palavra que aqui buscamos e que se cola como nuvem branca em céu azul. Puro é também de nome e no conceito o restaurante que há uns meses abriu portas na buliçosa Rua Luciano Cordeiro, bem próximo da praça Marquês de Pombal, em Lisboa.
Não foi destituído de contexto que este Puro, liderado na cozinha pelo chefe António Amorim, inaugurou a 16 de outubro de 2018. A data tem anualmente celebração, é o Dia Internacional da Alimentação. Hoje, também, um alerta para a necessidade de olharmos para a forma como comemos, o que comemos e o que deixamos depois de comer.
É de olhos postos nesta tríplice aliança que o Puro nasceu, como explica ao SAPO Lifestyle, António Amorim, homem batido e trabalhado em grandes cozinhas, com percurso em casas com estrela Michelin (Feitoria, do Altis Belém Hotel & Spa, Vila Joia Hotel Restaurant, em Albufeira) e que não enjeitou um percurso militar de dez anos em tropas especiais, com missões de paz na Bósnia e Timor Leste.
“Este Puro era para ter nascido há três anos mas, infelizmente, só nos foi possível abrir em outubro de 2018. Aqui praticamos uma alimentação equilibrada e saudável, pensada para abranger todo o tipo de público, dos vegetarianos, às pessoas com algum cuidado com a alimentação ou os que procuram este tipo de conceito de quando em vez, como forma de equilíbrio”.
Como se corporiza este compromisso com diferentes públicos? Num espaço amplo, com 150 metros quadrados, mais de quatro dezenas de lugares em sala e dez outros numa esplanada. No ambiente, preponderam as matérias-primas naturais, como as cerâmicas, a madeira ou o ferro.
Amorim completa o quadro: “o que procuramos é um conceito que seja rápido, acessível a todos os consumidores e, aqui, também me refiro ao preço”.
Um arriscar no sempre difícil equilíbrio entre qualidade e custo que, no caso do Puro também nos chega com uma aposta na diversificação da oferta. Para além da padaria e pastelaria, com pequenos-almoços, refeições ligeiras e lanches, o espaço conta com uma área de Show Cooking. Ai, não só o comensal pode personalizar a sua salada ou prato de massa, como assiste in loco, à produção da mesma. Para completar, há um elenco interessante de sumos naturais. “Conseguimos ter um leque de oferta diferente, no que toca aos doces e aos salgados. Por exemplo, fazemos pão com massa onde entram leveduras naturais. Nos nossos sumos e smoothies só cabe fruta em estado natural”, remata o nosso interlocutor, homem que se autointitula um “viajante cultural e gastronómico”, com mais de 25 países já visitados e explorados.
Ainda no que aos comestíveis toca, a possibilidade de conciliarmos a cozinha do Puro com a oportunidade de a degustarmos em casa. Ou seja, na área de take away a oferta estende-se às saladas, frutas e sobremesas.
Há, aqui, que fazer uma STOP no rol da oferta alimentar para retomarmos o conceito que nos leva ao estado Puro. Perto de 90% dos bens alimentares disponibilizados na área de take away não viajam para casa à boleia do plástico, antes dos frascos de vidro reutilizáveis.
António Amorim explica-nos o procedimento: “Se as pessoas quiserem levar, acresce o preço do pote de vidro à fatura. Voltando o cliente a trazer o mesmo frasco para o reabastecer com as nossas propostas, é-lhe reembolsado o valor antes despendido na embalagem”.
O chefe de cozinha, também criador da Fábrica de Pastel de Feijão, situada em Alfama, recorda-nos que este princípio da tara, “acontecia antigamente. Só aprimoramos o conceito para este século XXI”.
Uma atenção à sustentabilidade alimentar que é extensível ao papel reciclado dos individuais, guardanapos, às ´palhinhas` produzidas a partir de milho, para dar três exemplos.
Por hora encontramos António Amorim dividido entre os seus dois amores. Se por um lado na frenética Lisboa nova nos dá Puro, com tudo o que implica no estar à mesa, na sempre eterna Alfama, o chefe continua a espicaçar-nos a vertente gulosa na sua Fábrica do Pastel de Feijão. Na dúvida que se cometa o deslize de dente no pastelinho de leguminosa e que se mitigue o subsequente peso de consciência dentro de um frasquinho de comida em estado Puro.
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