Cada vez mais os restaurantes e hotéis apostam em ter hortas, jardins e pomares nos seus terrenos, respeitando práticas biológicas, a temporada de cada vegetal e fruto, e recorrendo a formas criativas de usar os produtos nas suas cozinhas.

Seja no Algarve, com o Austa, de Almancil, que se orgulha de ter um pomar e jardim com mais de 5000 metros quadrados, em Lisboa, em Paço de Arcos, em que o Madrasta, do Grupo Non Basta, é fornecido pela Semear, que se orgulha de ter também uma componente inclusiva; seja a mais recente Estrela Verde do Alentejo, na Malhadinha Nova, esta lista comprova que o futuro das cozinhas é risonho e, acima de tudo, verde.

Austa

Almancil, Algarve

Aberto desde agosto do ano passado, o Austa tem-se afirmado como um destino gastronómico no Algarve. Projeto desenvolvido por Emma e David Campus, com David Barata a liderar a cozinha, o Austa situa-se numa propriedade que incluía um terreno abandonado recuperado por Emma, David e a família. O resultado é um jardim mediterrânico com 144 metros quadrados, sustentado pelo clima do Algarve. Os procedimentos sustentáveis e o uso reduzido de água usados na horta providenciam os produtos necessários para a cozinha – uma tarefa encabeçada por David Campus através de métodos de permacultura.  Cada época e estação garante o acesso da cozinha a diferentes produtos. Neste momento, os kumquats são usados para um confit de queijo fresco do pequeno-almoço; o poejo para um pesto na sandes de tempura de flores de curgete do almoço e um gin tónico especial; aipo e beterraba para sumos e compotas;  alperces em tartes; flor de laranjeira em gelado, aneto para cocktails; ou acelgas para um prato do menu de jantar com cogumelos. Os restantes produtos da carta provêm de diferentes fornecedores de barlavento a sotavento, uma ode ao Algarve que está igualmente presente na decoração, mobiliário, iluminação e cerâmicas.

Austa
Austa Divulgação

Cantina do Ventozelo

São João da Pesqueira, Douro

Aberta a hóspedes e ao público em geral, a Cantina do Ventozelo, que ocupa precisamente o local onde antigamente eram servidas as refeições dos trabalhadores da Quinta de Ventozelo, tem como matriz a autenticidade da cozinha do Douro e Trás-os-Montes, a par da sazonalidade dos produtos da região. A proposta deste farm-to-table, liderado pelo chef José Guedes, vive os produtos cultivados e produzidos nas hortas e pomares de Ventozelo, alguma caça e também na aposta numa oferta “quilómetro zero”, o que significa trabalhar com fornecedores de proximidade, dando preferência a produtos regionais DOP (como é o caso da Carne Maronesa), e muitas vezes numa base de troca direta de excedentes entre vizinhos – a recuperação de uma prática sustentável ancestral.

Todos os meses, o chef do restaurante de Ventozelo Hotel & Quinta faz ainda uma celebração dos produtos regionais e de época, com menus rotativos especiais que tanto podem elogiar desde o tomate coração de boi à vindima, como a caça ou a apanha da azeitona, entre outros. Com um imenso terraço com vista privilegiada sobre as vinhas em socalcos, o lema desta casa duriense é simples: “O Douro numa quinta”.

Cantina do Ventozelo
Cantina do Ventozelo Divulgação

Casa Velha do Palheiro

Funchal, Madeira

Faz este verão um ano que a Casa Velha do Palheiro, o único hotel na Madeira com a chancela da Relais & Châteaux, inaugurou o seu projeto “Kitchen Garden”: um compromisso com o conceito de garden-to-table, criado pelo chef Gonçalo Bita Bota, com o intuito de cultivar uma experiência única da horta à mesa. Meticulosamente concebida para produzir uma gama diversificada de ervas aromáticas e de flores comestíveis, a horta passou a ser um elemento essencial na gastronomia servida no restaurante de fine dining deste hotel madeirense, que quer, cada vez mais, apostar em sabores locais, fornecimento responsável e sustentabilidade. Charuteiro da Costa Norte com texturas de couve-flor, couscous da Madeira com limão, edamame, espuma kombu e rocha de matcha ou Lentilhas com topinambur da Madeira, funcho da Ponta do Sol a baixa temperatura com açafrão e laranja, shitake e cebola roxa, são dois dos exemplos das iguarias com matriz regional que se pode encontrar na carta do Casa Velha do Palheiro Restaurant.

Casa Velha do Palheiro
Casa Velha do Palheiro Divulgação

Emme

Immerso, Ericeira

Se todo o peixe que chega ao prato no Emme vem dos mares da costa onde se localiza — a equipa vai regularmente à lota de Peniche abastecer, valorizando sempre a frescura e a qualidade —, os verdes vêm de ainda mais perto. Construída aquando da abertura do Immerso, a horta que a equipa do restaurante mantem dentro do hotel abastece a cozinha com muitos dos legumes que brilham nos pratos do restaurante, nos menus servidos diariamente e nas várias ações gastronómicas que a equipa tem desenvolvido, como os jantares a 4 mãos com outros chefs ou em parcerias com produtores de bebidas locais. O que não têm na horta procuram junto dos pequenos produtores do Oeste com quem têm desenvolvido relações próximas, e que garantem sabores autênticos e regionais à cozinha de Alexandre Silva no primeiro hotel de 5* da região.

Emme
Emme créditos: Francisco Nogueira

Madrasta

Paço d’Arcos, Lisboa

O conceito farm-to-table ganha uma nova dimensão no restaurante Madrasta, o mais recente empreendimento do Grupo Non Basta. Situado no pitoresco Jardim Municipal de Paço de Arcos, este restaurante dedica-se a práticas sustentáveis e inclusivas. Longe dos pesticidas e inseticidas, a cozinha do Madrasta é abastecida diretamente da sua própria horta, fruto de uma colaboração com a associação Semear. Esta parceria promove a inclusão social de crianças, jovens e adultos com dificuldades intelectuais e de desenvolvimento, assegurando que os produtos utilizados são frescos e cultivados com carinho e respeito pelo meio ambiente. Assim, os produtos que chegam à mesa do Madrasta têm um sabor fresco, como se da horta da nossa mãe ou avó se tratasse.

Madrasta
Madrasta Divulgação

Herdade da Malhadinha Nova

Beja, Alentejo

Na Malhadinha Nova, um hotel Relais & Châteaux, pratica-se uma cozinha que utiliza, em grande parte, produtos da Herdade em modo biológico e privilegiando produtores locais, sempre inspirados na tradição gastronómica alentejana e na cultura da região. A produção biológica e autossuficiente é hoje uma realidade nos 610 hectares da propriedade. São servidos no restaurante os vinhos, o azeite e o mel, cereais variados tais como trigo duro e barbela, aveia, centeio, cevada, a vaca alentejana, a ovelha Merina branca e preta e o porco preto todos com denominação de origem protegida DOP e os legumes e frutas das hortas e pomares recuperados na propriedade. A aposta em produtores locais e em relações sólidas de longa data, de que são exemplo a Padaria Inácio, em Entradas, o Arroz Ronaldo, de Alcácer do Sal - uma espécie em extinção e recuperada - o Açafrão do Lagar do Clavijo em Nisa, a Queijaria Soares, em Albernoa, ou ainda o Sal Marinho, de Castro Marim, são apenas alguns exemplos da nossa aposta em produtos de alta qualidade e de proximidade. O trabalho desenvolvido nos últimos anos garantiu a chegada de uma Estrela Verde do Guia Michelin em fevereiro de 2024.

Herdade da Malhadinha Nova
Herdade da Malhadinha Nova Divulgação

Santa Bárbara

São Miguel, Açores

No Santa Bárbara cada prato homenageia os ingredientes locais. Se a carne tenra dos prados verdejantes dos Açores e o peixe e marisco do Atlântico marcam uma forte presença nos menus do restaurante, os produtos hortícolas, ervas aromáticas e frutas provêm agora quase na totalidade da quinta de agricultura biológica instalada dentro da propriedade deste eco-resort açoriano. Com o objetivo de garantir uma oferta quilómetro zero, num verdadeiro conceito farm-to-table sustentável, aqui privilegiam-se sempre opções artesanais e produtores de proximidade: é o caso do leite usado nos doces e sorvetes, que é pasteurizado localmente, ou do pão de fermentação natural servido ao pequeno-almoço e da manteiga regional, das compotas caseiras, dos queijos e dos sumos do dia. De resto, com a chegada do Vítor Sobral como chefe consultor do grupo Singular Properties, o Santa Bárbara passa a ser reconhecido também pela cozinha de autor, que presta tributo aos Açores em toda a sua essência. Uma das grandes referências da gastronomia nacional e pelo seu compromisso com a autenticidade da cozinha portuguesa, o chef imprime a sua marca em todas as cartas, realçando os produtos locais e sazonais e elevando a experiência gastronómica a novos patamares.

Santa Bárbara
Santa Bárbara Divulgação