O punk está vivo e de boa saúde no desfile de Valentim Quaresma. O designer português regressou até às décadas dos anos 1970 e 1980 e resgatou aquela que é uma das referências que mais o apaixona: o estilo punk.

“Quis trazer o punk para esta coleção porque acho que a nossa sociedade está a precisar de uma geração nova de punk pelo que está a acontecer na sociedade e na política”, disse o criador de moda em entrevista ao SAPO Lifestyle sobre esta necessidade de mudança que acredita ser urgente em pleno século XXI. “Eu abri o desfile com a Ariel, que é transgénero, e acho que isso marca bastante o desfile. Acho-a uma mulher incrível.”

Este movimento de cariz reivindicativo perante o status quo, que esteve desde sempre muito presente na música e na moda, volta a renascer nas criações outono/inverno 2025/26 que Valentim Quaresma apresentou na 64º edição da Moda Lisboa.

Rebeldia e ousadia são os dois adjetivos que melhor definem esta estética que tem como cor dominante o preto e que, ao longo das décadas, surgiu em conjunto com o icónico tartan. E foi isso mesmo que vimos em cima da passerelle. O famoso padrão escocês surge numa versão amarela, que vemos aplicada em saias, tops, vestidos ou casacos, e combinada com propostas de calçado como botas biker e militares.

Valentim Quaresma, que é conhecido por incorporar a técnica de upcycling no seu trabalho, explica que esta coleção é maioritariamente feita a partir de materiais e tecidos deadstock - também conhecidos como excedentes têxteis - que depois "foram todos manipulados".

“Eram os vestidos que usámos nos anos 1980 e que era muito característico. As calças de tartan amarelas eu também trouxe para esta coleção exatamente por causa disso”, explica. Entre os looks apresentados para ele e para ela, também é possível ver toques de castanho chocolate, verde tropa, peças em pelo ou com franjas compridas.

A cor negra estende-se à maquilhagem para um efeito ainda mais dramático e ousado, onde a makeup artist Antónia Rosa usou e abusou do eyeliner, do esfumado e de batom preto com acabamento brilhante. A hairstylist Helena Vaz Pereira esteve encarregue de recriar o famoso penteado mohawk - conhecido como moicano - que é um dos símbolos deste movimento em diferentes modelos e que intercalou com cabelos lisos ou penteados com gel.

O look sombrio que domina a coleção é quebrado quer através da arte do bodypainting quer de vários adereços statement, como é o caso de máscaras e armaduras decoradas com pedraria vermelha e prateada que adquirem um significado importante neste contexto de mudança proposta pelo criador. “A coleção tem um ar muito deep e gótica, mesmo pela maquilhagem, então para o final eu quis trazer luz para o desfile”, conclui.