Em entrevista à Lusa depois de apresentar esta tarde 40 coordenados da nova coleção, “Um inverno em África”, que deve chegar às lojas a partir de 15 de agosto, o criador assume que o Governo e os empresários portugueses deveriam apoiar mais os ‘designers’, porque Portugal não é um país com tradição na moda.

“Sensibilizar os empresários, criar cotas para haver produto português e tentar fazer uma grande campanha para se consumir aquilo que é português e para os industriais também perceberem que “têm de ajudar os ‘designers'”, foram algumas medidas elencadas esta tarde por Miguel Vieira, que celebrou em 2018 18 anos de carreira e apresentou este sábado pela quinta vez consecutiva as suas coleções na semana da moda masculina em Milão.

Segundo aquele criador, os ‘designers’ não estão a ter oportunidade, porque ao quererem fazer uma peça básica numa fábrica, essa mesma fábrica diz que têm de se fazer dez mil peças ou três mil peças”, e se os criadores quiserem fazer uma peça só com um detalhe ou com um colarinho ao contrário então é uma “guerra gigante”.

“No fundo, ao fazer os desfiles cá fora somos um bocadinho os que montamos a tenda, fazemos o circo, fazemos tudo, para os industriais depois venderem. E eles é que têm os milhões e os biliões e nós [criadores] estamos constantemente a investir dinheiro” para fazer as coleções.

Miguel Vieira teve este sábado uma “descarga de emoção” no fim do desfile, porque, explicou à Lusa, foi especialmente complicado apresentar a coleção outono-inverno/2020, pois as fábricas estiveram fechadas no período do Natal e só reabriram no dia 07 de janeiro.

“As fábricas começaram a trabalhar esta semana, dia 07, e, portanto, tive de ter uma coleção quase pronta em novembro e novembro é uma corrida muito grande, porque Portugal, Espanha e Itália, que são três países em que dependemos de tecido, sapatos, peles, etc e tudo estava fechado”.

O ‘designer’ reiterou o pedido ao Governo de António Costa para olhar para Portugal e perceber que se “faz moda e que se conseguem encher salas e que o produto tem qualidade para irem a Portugal fabricar”.

A coleção de Miguel Vieira foi este sábado vista por cerca de 500 pessoas na Via Tortona 54 de Milão e o desfile abriu ao som de ‘Do I Wanna Know?’, da banda britânica Artic Monkeys, com o modelo português Francisco Henriques, 23 anos, que também desfilou para a marca Dolce & Gabbana, num fato de calça e casaco cor azul céu.

Com um inverno menos rigoroso do que o inverno na Europa, Miguel Vieira explicou à Lusa que a nova coleção traduz também a forma como se vive hoje em dia, em que as pessoas passam muito tempo em locais climatizados e não precisam de abrigos tão pesados como outrora.

As cores habituais de Miguel Vieira continuam a ser o preto e o branco, mas o criador, apesar de manter essa tradição no seu trabalho, apresentou este sábado coordenados em tons diferentes como “bege bronze, laranja ocre, amarelo caril, azul celeste, castanho tabaco e o azul-marinho”, um “azul céu” e um “bege da areia” como base para as outras cores que, em conjunto, contam a história do continente.

Elementos geométricos que lembram estampados étnicos e as cores, veludos, bombazines, lantejoulas e tecidos acolchoados são as apostas na coleção “Inverno em África”, que promete apresentar também acessórios distintos que vão desde as botas de montanha, passando por sapatilhas com bota meia até chegar aos sacos de compras em pele a imitar sacos de plástico.

A próxima paragem internacional do Portugal Fashion é no dia 16 de janeiro para a semana da moda masculina de Paris (França), onde o ‘designer’ Hugo Costa vai apresentar pela sexta vez consecutiva as suas peças de vestuário, numa coleção intitulada de ‘Maybe we’ll be together again”.

O Portugal Fashion é cofinanciado pelo Portugal 2020, no âmbito do Compete 2020 — Programa Operacional da Competitividade e Internacionalização, com fundos provenientes do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

Em setembro de 2018, e depois de mais de 20 anos a trabalhar com estratégias individuais, o Portugal Fashion e a ModaLisboa assinaram um protocolo de “união de esforços na promoção da moda portuguesa”, numa cerimónia presidida pelo primeiro-ministro, António Costa, na cidade do Porto.

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