Criar a nossa melhor versão pode soar a cliché de coach motivacional do século XXI, mas há um motivo para existirem frases feitas: é que elas estão certas. Criada há sete anos, a marca que começou por dar os primeiros passos através das redes sociais foi ganhando terreno, uma comunidade, o apreço dos experts e aterrou numa passerelle que é hoje um dos seus momentos de maior força de expressão. Depois de ter atravessado o oceano, a Buzina volta a assentar os pés na terra e, sem chegar a uma crise de identidade, sentiu necessidade de olhar para trás antes de seguir numa nova direção. Com um trabalho vincado que a posicionou na linha da frente do empoderamento feminino através da Moda, roupas que já foram comparadas a sacos de batatas e um toque de desafio e humor espelhado em todas as suas campanhas, a marca chega agora à passerelle da ModaLisboa Core com aquilo que tem de mais precioso: a sua identidade.

Com coleções passadas com estéticas distintas à partida, no seu ADN correm características que a tornam inimitável, não em forma mas em conteúdo. Seja com inspiração nos anos 1950, como no caso de Burnish, a coleção apresentada na São Paulo Fashion Week, Whim, um hino às divas, ou Safe Place, uma viagem pelos astros, a Buzina ecoa uma mensagem clara e em bom som. “Eu prefiro arriscar e fazer diferente, mesmo que falhe, do que manter-me num caminho mais seguro e aborrecido”, diz a fundadora, Vera Fernandes. “Mas as minhas clientes dizem que a Buzina sabe sempre o limite, sabe sempre onde parar.” Com uma imagética que mistura de maneira equilibrada uma vertente comercial com a da moda de autor, Vera Fernandes percorre as inspirações mais diversas e transforma-as em peças que poderão ser consideradas exageradas, austeras ou fora do comum. Tudo, menos óbvias. Ou não seriam Buzina.

SPLICE 23 ou "Onde é que já vi isto?"

‘Buzinificar’ o guarda-roupa é dar voz ao que poderá ser incómodo, é não ter medo de cair no ridículo, é saber rir de si mesmo. Assim, nesta passerelle a marca resgatou as células genéticas que a acompanham desde o início (SPLICE: o processo de criação do ADN) e acrescentou-lhes uma dose extra de experiência, humor e um grande ‘que se lixe’ que só chega com a maturidade. Buzina em 2023 é sinónimo de barulho através de cores estridentes, como os tons néon que formam espinhas dorsais nas costas das modelos. É ‘desvirtuar’ tecidos nobres como o mikado, trazendo para peças de caracter mundano. É continuar a criar através do material que Vera não entendia porque só servia para os forros internos, o tafetá. É transformar o conceito de mini saia numa peça de vestuário tufada e volumosa, lembrando as peças de Whim. É voltar a usar o padrão de girafas criado para a coleção Breath, pelo apreço à simbologia do animal, mas reinterpretá-lo num modo caótico, com cores que as retiram do seu anterior habitat pacifico. É prestar homenagem ao bestseller, o vestido Clarisse, mas com um twist no comprimento; é calçar as modelos com as socas do folclore tradicional português que já haviam vincado pé na coleção Cloud. É encher peças clássicas – como a camisa da coleção Untie - com laços desconstruídos, é construir através de camadas e camadas que permitem a quem veste a marca criar o seu próprio styling e explorar a identidade. Nos cabelos o piscar de olho ao lado engraçado, com o hairstyling de franjas criado a partir do próprio penteado da criadora como inspiração.

Se dizem que a cópia é a melhor forma de elogio, então e a autocópia? Esta estação, é mais uma vez sobre amor que nos fala a Buzina. O mais genuíno, desafiador e possivelmente incómodo. O que não agrada a todos, nem que quisesse. O que vasculha e analisa as memórias do passado. O que promete um futuro mais risonho. O de nós para nós. O próprio.

Terra dos sonhos: Buzina x Tous

Pensar em grande é um dos lemas da Buzina, mas sempre soube que chegaria mais longe fazendo-o em conjun[1]to. É por isso que na edição em que tudo é maximizado a marca entra na passerelle acompanhada da etiqueta de acessórios cujo motor maior é a autoexpressão. Com pilares de sustentação que assentam na ousadia, bom humor e criatividade, as criações Tous circundam na mesma atmosfera que as da Buzina e respiram do mesmo ar. Com uma lufada de ar fresco injetada a cada nova coleção, o universo da marca espanhola concentra-se em mais do que em explicações - é sobre sensações, é sobre fazer do que se usa um espelho da nossa identidade, é sobre ser-se verdadeiramente livre. Só assim a nossa imaginação recebe permissão para sonhar sem limites e só assim seria possível chegar às peças que adornam os braços, pescoços e orelhas da coleção SPLICE. Dare do Dream é a proposta Tous para a primavera/verão 2023, peças abstratas com formas surrealistas que nos permitem brincar à descoberta da nossa identidade. Tabit, a linha que desfila na ModaLisboa Core, joga com elementos do ADN Tous como os corações - hiperbolizando-os, cria conjuntos de brincos que sobem até à nuca como se conseguissem ler os pensamentos e envolve os antebraços em pulseiras de dimensões XXL, prontas para tomar o mundo com pulso firme.