"Com grande tristeza, anunciamos que hoje, 13 de janeiro de 2025, o nosso amado Oliviero embarcou na sua próxima viagem", escreveu a família num comunicado no Instagram, pedindo privacidade. Toscani, que foi diretor de arte da marca de moda durante duas décadas, revelou em agosto que sofria de amiloidose, uma doença incurável, e que tinha perdido 40 quilos.
Uma carreira provocadora
O trabalho de Toscani ficou marcado por imagens visceralmente chocantes, usadas não apenas para vender produtos, mas também para chamar a atenção para temas sociais como a SIDA, o racismo, a pena de morte e os assassinatos pela máfia.
A sua campanha mais controversa foi em 1992, quando usou uma fotografia de David Kirby, um doente de SIDA, no seu leito de morte rodeado pela família. A campanha gerou uma forte reação negativa por parte de ativistas e um boicote à Benetton, mas Oliviero Toscani defendeu o seu trabalho.
Numa entrevista de 2016, afirmou que as empresas têm a responsabilidade de mostrar "inteligência social e sensibilidade para com a sociedade à sua volta".
Homenagem da Benetton
A Benetton prestou tributo ao trabalho de Toscani esta segunda-feira. "Para explicar certas coisas, as palavras não bastam. Tu ensinaste-nos isso", disse a marca, acrescentando: "Adeus, Oliviero. Continua a sonhar."
Controvérsia e censura
Entre 1982 e 2000, e novamente entre 2017 e 2020, Toscani criou campanhas icónicas para a Benetton. Entre elas estavam imagens de uma mulher negra a amamentar uma criança branca, um beijo entre uma freira e um padre, um recém-nascido ainda com o cordão umbilical, e preservativos coloridos num fundo branco.
Apesar do reconhecimento, várias das suas campanhas foram censuradas em Itália e França, e enfrentaram boicotes por parte de consumidores.
Outros trabalhos de Toscani também causaram polémica. Em 2007, fotografou a modelo anorética Isabelle Caro nua para uma campanha contra a anorexia, que foi exibida em outdoors durante a Semana da Moda de Milão.
Em 2012, Toscani criou um calendário para um consórcio de couro em Florença que apresentava doze pénis, após ter feito uma versão anterior com genitália feminina.
"Fotografia é um compromisso ético! Não me preocupo com a estética fotográfica", afirmou Toscani ao jornal Corriere della Sera em agosto.
Quando questionado sobre qual foto gostaria de ser lembrado, respondeu: "Pelo conjunto da obra, pelo compromisso. Não é uma imagem que faz história, é uma escolha ética, estética e política feita com o teu trabalho."
Uma vida dedicada à arte
Nascido a 28 de fevereiro de 1942 em Milão, Toscani era filho de um respeitado fotógrafo do jornal Corriere della Sera. Estudou arte em Zurique antes de iniciar a sua carreira na fotografia de moda, colaborando com grandes nomes da indústria, incluindo a sua longa parceria com a Benetton.
A relação com a marca terminou em 2020, após comentários insensíveis de Toscani sobre o colapso de uma ponte em Génova, em 2018, que matou 43 pessoas. A família Benetton era a principal acionista da empresa que geria a ponte à época da tragédia.
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