Foi uma curiosa escolha de música para dar início à sua atuação. E provavelmente não foi inofensiva. Afinal, Rihanna não lança um novo álbum há sete anos e a última vez que tinha estado em palco foi há cinco, conforme fomos relembrados na conferência de imprensa que antecedeu o Super Bowl.

Sabemos que os artistas não são pagos para atuarem no intervalo mais famoso do mundo. Mas recebem exposição. Muita exposição. Além dos EUA, a competição é transmitida a nível mundial, em mais de 180 países. O regresso de Rihanna aos palcos foi visto por 118,7 milhões de espectadores, sendo o segundo espectáculo mais visto de sempre, atrás de Katy Perry, com 121 milhões, em 2015.

Mas vamos a outros números. Rihanna pode não ter recebido cachê, mas soube aproveitar aqueles 13 minutos a seu favor. Estamos a falar de uma espécie de Santíssima Trindade: Rihanna, Fenty Beauty e Savage x Fenty.

A artista é uma veterana, apesar dos seus 34 anos. Descoberta aos 16, a verdade é que, de acordo com a Forbes, é o seu trabalho como empresária a sua principal fonte de rendimento e não a música.

A história começa lá atrás, em 2017, quando fundou a Fenty Beauty com a LVMH (o grupo de marcas de luxo liderado por Bernard Arnault, um dos homens mais ricos do mundo, detentor de marcas como Dior, Tiffany & Co. e Louis Vuitton) e revolucionou o mundo da maquilhagem. De recordar que a marca de Rihanna foi a primeira do mundo a lançar 40 tons de base, numa clara lição de inclusão. Pela primeira vez, peles negras ou asiáticas, fora do padrão, tinham produtos específicos. Foi o início de uma mudança nas marcas de beleza que quiseram acompanhar a tendência. Urban Decay, Zoeva, Anastasia Beverly Hills, ou mesmo a Dior, são alguns exemplos. Atualmente a Fenty Beauty tem 50 tons, apenas ultrapassada pela M.A.C, com 63, e Morphe, com 60.

Em 2018 apresenta-nos a Savage x Fenty, que começou por ser uma linha de lingerie, pensada para todos os tipos de corpo, a preços acessíveis. A Savage fez aquilo que a Victoria’s Secret não conseguiu: enquanto uma continuou presa à ideia de anjos que mandavam beijos e faziam corações nos desfiles, num culto à magreza, a Savage percebeu o mercado e deu aquilo que as pessoas procuravam. Não era o sonho, ao contrário do que Ed Razek afirmou quando justificou a aposta (para a perdição) da Victoria’s Secret, mas sim lingerie sexy que qualquer pessoa, de qualquer tamanho, pudesse vestir.

No Super Bowl, Rihanna entregou-nos êxitos mas também novidades das suas marcas. E não estamos a falar apenas do gesto do minuto 8'20, em que aplicou um dos seus produtos, Invisimatte Instant Setting + Blotting Powder (PVP 32,99€), um pó translúcido que controla o brilho indesejado. Toda a sua maquilhagem, assim como a dos bailarinos, era Fenty, vendida em exclusivo na Sephora (se gostava de recriar a mesma pode saber mais aqui).

De acordo com a Launchmetrics, citada pelo site WWD, plataforma que avalia o impacto de estratégias de marketing, convertendo-as num valor monetário (conhecido como ROI - Return of Investment, em português, retorno de investimento), a Fenty Beauty, nas primeiras 12 horas após a apresentação, teve um impacto mediático de 5,6 milhões de dólares (5,21 milhões de euros).

No caso da Savage x Fenty, marca que vestiu os bailarinos que acompanharam a artista na sua performance, o impacto foi de 2,6 milhões de dólares (2,42 milhões de euros). Uma grande ironia, se pensarmos que estamos a falar do intervalo de publicidade em que os anunciantes poderão ter pagado perto de sete milhões de euros por 30 segundos. A artista teve esse retorno a custo zero.

O look de Rihanna também foi bastante comentado, sendo que as marcas a ela associadas também têm razões para comemorar. Como o macacão vermelho da Loewe que foi complementado com um breast plate, uma espécie de soutien com textura de látex, peça adaptada da coleção de Outono/Inverno 2022 de Jonathan Anderson, diretor criativo da marca. E Alaïa, responsável pelas luvas, cachecol e puffer jacket em formato edredon que muitos especulam ser uma homenagem a André Leon Talley, ex-diretor criativo da Vogue, falecido em janeiro de 2022 e grande amigo de Rihanna.

A artista que fechou o espetáculo com "Shine bright like a Diamond", brilhou. Mas um brilho que só estrelas do calibre dela conseguem ter.