Os têxteis biofuncionais que pretendem oferecer benefícios para a pele são uma tendência em ascensão significativa. A tecnologia têxtil é hoje projetada com o objetivo de embelezar e cuidar do aspeto da pele, fazendo com que esta pareça mais suave e mais jovem, graças às propriedades cosméticas que compõem os tecidos.

O conforto e a regulação da temperatura do corpo são outras das funções mais procuradas. Cada vez mais os consumidores querem produtos têxteis com alto desempenho e com funcionalidades específicas (anticelulite, adelgaçante, antienvelhecimento, entre outras).

Fibras naturais vs. sintéticas
Para o vestuário que é usado bem junto ao corpo, e que passa horas em contacto com a pele, o cuidado na utilização de fibras que não provoquem inflamações é prioritário, quer as inflamações sejam cutâneas ou respiratórias. É por isso que as fibras de lã não são adequadas para o contacto com a pele, enquanto que o algodão é muito bem aceite pelas suas propriedades de condução de calor e de absorção de humidade.

As fibras sintéticas cada vez são mais utilizadas em misturas com fibras naturais, conjugando-se propriedades do toque natural com a alta performance das sintéticas.

Em situações em que não existe contacto com a pele, as lãs podem ser utilizadas pela sua capacidade de resiliência – isto é, a capacidade de voltarem à forma original após serem alongadas ao máximo –, mas também de isolamento térmico e de boa absorção de humidade, que lhes conferem uma boa capacidade de gestão da humidade e de regulação térmica.

Os algodões também oferecem boas combinações com fibras sintéticas, de que é exemplo uma nova geração de fibras à base de poliolefinas, com bom alongamento e recuperação elástica, que proporcionam funcionalidade, conforto, respirabilidade, alongamento, estabilidade dimensional e recuperação elástica.

Neste, e em muitos outros casos, podem sempre ser conjugadas propriedades antimicrobianas, de repelência a líquidos e sujidade, de facilidade de limpeza e de manutenção. Os poliésteres atuais são capazes de conferir propriedades antiestáticas, antisstress, resistência UV, elasticidade e isolamento térmico. São fibras que abrem novas possibilidades no que respeita a melhorar o conforto e a proteção, seja ela ultravioleta ou de natureza mais física.

O vestuário e a transpiração
Com a transpiração, o corpo arrefece, daí que o vestuário deva ser concebido para lidar bem com o suor que se liberta. O tecido deve permitir que a transpiração seja extraída o mais depressa possível da pele para a superfície exterior do tecido, para manter a pele seca. Caso contrário, se a transpiração arrefecer na pele, ocorre uma sensação de frio muito desagradável.

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Em suma, os tecidos devem permitir que a humidade corporal se desenvolva, porque esta é uma função fisiológica essencial, mas, por outro lado, devem gerir a perda de calor que ocorre como consequência da transpiração.

Os tecidos e as malhas, para referir apenas as estruturas mais simples e mais utilizadas em vestuário, têm diferentes capacidades de libertação de transpiração, consoante as suas próprias características de construção:

- Malhas
São geralmente mais elásticas e, por isso, de forma natural, são mais eficazes a libertar a transpiração.

- Fibras sintéticas
Ganham vantagem neste processo e o mesmo acontece com a proteção ultravioleta. Alguns estudos sugerem que o fator de proteção ultravioleta depende da estrutura química das fibras. As fibras naturais, como o linho e o algodão, têm baixa capacidade de absorção da radiação UV, ao passo que o nylon e o poliéster têm muito melhor capacidade.

Vestuário funcional
A relação da pele com os têxteis assume uma importância fundamental, visto que a pele tem uma atividade específica de equilíbrio de todas as suas funções e da própria constituição química dos tecidos humanos. No que aos têxteis diz respeito, as funções de termorregulação e antimicrobiana são, atualmente, capacidades bem desenvolvidas.

Antimicrobiano
Existem diferenças de género, idade e atividade, que influenciam a termorregulação e que devem ser consideradas no processo de desenvolvimento de vestuário, assim como os mecanismos de defesa do organismo relativamente aos micro-organismos. Estes últimos condicionados pelo uso de têxteis antimicrobianos, à base de prata, cobre ou triclosan, mas também de quitosano, para prevenção de infeções de pele e de maus odores.

Termorregulação
Um outro conceito, ainda relacionado com o conforto, é o da regulação da temperatura do corpo. O vestuário termorregulador comporta-se muito bem em ambiente quentes, mas também frios. Para esse efeito, têm geralmente membranas, que podem ser de base de poliuretano, com uma estrutura molecular que abre e fecha em função da temperatura. Soluções à base de fibras ocas que retêm ar no interior, produzindo uma barreira de isolamento térmico, também são uma possibilidade, assim como as microcápsulas incorporadas nas fibras.

Proteção ultravioleta
Um estudo de Gambicher et al. (2009), realizado na Alemanha, sobre os hábitos de proteção contra as radiações ultravioletas (UV) através do vestuário, refere que, apesar de a preferência por vestuário com proteção UV ser muitas vezes comprometida por fatores como o preço, falta de conhecimento e desejo de se bronzear, 2/3 do grupo inquirido naquele estudo tinha preferência por vestuário marcado com etiquetas indicando o UPF (Fator de Proteção Ultravioleta).

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Tendências e inovações têxteis

Atualmente, estão em curso outros processos de inovação em materiais que vão revolucionar o vestuário, e talvez não seja necessário esperar décadas para que se tornem inovações acessíveis.

A transferência da tecnologia da parte de quem a inventa para quem a utiliza é hoje muito mais rápida, e assiste-se também a uma maior partilha de áreas de competência. Identificamos assim macrotendências na investigação que, de um modo simples, podem ser ilustradas desta forma:

Tendência 1
A ciência está a responder com produtos que abrem novas possibilidades ao design de soluções inteligentes com materiais de elevada performance, com preocupações ambientais e de segurança, a par do conforto. O conceito de vestuário, por exemplo, acompanha conceitos da arquitetura e, por isso, partilha preocupações semelhantes. A proteção UV e a termorregulação são exemplos de funções concebidas na engenharia do vestuário e na arquitetura de edifícios, segundo pressupostos semelhantes para efeitos práticos comuns.

Tendência 2
Estão a aparecer novas propostas que permitem também novas abordagens à forma como nos vestimos, isto porque o vestuário deixou de ser apenas uma questão de moda, e passou também a ser uma questão de tecnologia. Já não se trata apenas de conjugar cores, mas também de conjugar funcionalidades. A revolução com origem na miniaturização das tecnologias eletrónicas criou diversas oportunidades, tais como a incorporação, ou quase fusão, da tecnologia mp3 com o vestuário. Mas começam a aparecer outras possibilidades para além do som, como a luz e a imagem.

Tendência 3
Produtos que recorrem aos nano e micromateriais para novos conceitos de funcionalização de vestuário, como a sensorização e monitorização dos sinais vitais, mas também o vestuário mais leve e mais inteligente. A miniaturização da eletrónica introduziu também avanços significativos nas possibilidades de carregar tecnologia que mede o estado de saúde de uma pessoa. Desde conhecer o ritmo cardíaco, a tensão arterial e a temperatura do corpo, entre outras. Mas a miniaturização dos materiais à escala nano tornou possível produzir têxteis com fibras à base de algas marinhas dermoprotetoras e antimicrobianas com nanopartículas de prata, mas também com microcápsulas de materiais termorreguladores.

Tendência 4
Por último, uma referência à biónica como uma nova tendência que encontra em estruturas orgânicas, presentes na natureza, novas soluções e novas formas de inovação. A biónica é o estudo dos sistemas biológicos e a descoberta de processos, técnicas e novos princípios aplicáveis a qualquer tecnologia. Este modelo é já uma realidade em várias aplicações, como na aeronáutica, medicina, robótica ou arquitetura, e é cada vez mais emergente também nas tecnologias têxtil e de vestuário. O Corbeau Marin (corvo-marinho), que inspirou o Comandante Jacques-Yves Cousteau na criação do primeiro fato de mergulho, é um exemplo emblemático de alta-tecnologia biónica.

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Cosmética têxtil
Um conceito que também emerge, é o da estreita relação entre a cosmética e os têxteis, mas também entre os têxteis e a pele, num conceito de epiderme têxtil ou de têxtil como segunda pele.

Os produtos cosméticos propõem bem-estar, beleza e o carisma da juventude, o têxtil biofuncional, como segunda pele, está a contribuir para reformular o conceito tradicional de bem-estar e de estética. O sentir-se bem, que cada vez mais é procurado, através de prazeres mais ou menos exóticos, como as massagens, a hidratação, o relaxamento, a cosmética marinha, os óleos essenciais, os extratos de plantas e os ácidos de frutos.

Tudo isto encontramos em qualquer programa de um spa, mas a grande novidade é o avanço da ciência trazer estes conceitos para a indústria do vestuário.

A panóplia de ingredientes que encontramos nos cosméticos, como hidratantes, minerais, extratos de óleos, plantas, vitaminas, entre outros, começa também a fazer parte do léxico dos industriais têxteis.

O vestuário pode agora providenciar bem-estar e benefícios de beleza através da libertação de aditivos cosméticos na pele. Assim, hoje é possível incorporar nos têxteis diversificados ativos dependendo da aplicação e do objetivo pretendido (anti-idade, anticelulite, entre outros).

Vestuário emocional
A bioenergia é uma ciência nova que tem vindo a desenvolver provas laboratoriais que confirmam dados teorizados pela medicina tradicional.

Esta ciência utiliza sistemas sensíveis que são capazes de detetar a existência de canais energéticos que percorrem o corpo, medindo os seus valores de intensidade, frequência e de comprimento de onda. Os sentimentos e as emoções provocam vibrações que ressoam no corpo e por isso já é possível observar, por exemplo, como se fixam no corpo os sentimentos de ódio ou de raiva.

É nesta linha de investigação científica que várias escolas, como o Central Saint Martins College of Art & Design, de Londres, têm vindo a apoiar os conceitos que estão a desenvolver para o Vestuário Emocional. Um vestuário que transmitirá o nosso estado de espírito, mas que também irá receber informação e transmitir conhecimentos. Será esta a moda do futuro?

Texto: Fernando Merino
Edição: Patrícia Velez Filipe
Agradecimentos: CITEVE, Vila Nova de Famalicão; Zeus Química, Matosinhos