Um peito mais bonito, um nariz equilibrado, uma silhueta mais harmoniosa, um rosto mais alisado... A lista é longa. A cirurgia estética pode conseguir tudo isto e muito mais! Mas tem uma ideia clara e realista dos seus objetivos ou a vontade de melhorar o seu corpo está bloqueada por receios que não a deixam dar o passo decisivo? Se alguma destas dúvidas a inquieta, chegou o momento de dar resposta às suas perguntas e tranquilizar os seus medos.
Há mais de um século Oscar Wilde dizia que "a beleza tem tantos sentidos como o homem tem estados de ânimo". De facto, a motivação para uma pessoa se submeter a uma operação de cirurgia estética é muito pessoal e subjetiva. Contudo, existem inúmeros fatores externos que podem influenciar a decisão. Nos últimos anos, o culto do corpo e da imagem tem desempenhado um papel importante neste processo.
O aspeto jovem e dinâmico que a sociedade atual parece exigir como condição sine qua non para triunfar está a despertar a necessidade de aperfeiçoamento físico num número cada vez maior de pessoas. Ivo Pitanguy, cirurgião plástico brasileiro, considerado o pai da cirurgia estética, defendeu essa mesma ideia. "Na nossa sociedade, o culto do corpo está sobrestimado por culpa do marketing, que vende a imagem da juventude e da beleza", disse.
O boom que se regista
O problema é que esta chamada ditadura da beleza pode, muitas vezes, influenciar negativamente a autoimagem corporal, que no fundo é o que leva alguém a submeter-se a uma intervenção de cirurgia estética, fazendo com que, em Portugal, à semelhança do que já aconteceu noutros países, se esteja a verificar "um boom de pessoas em idade muito jovem a requererem cirurgias estéticas inadequadas".
Foi assim que o descreveu há uns anos, em declarações à edição impressa da Ultimate Beauty, o presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Plástica Reconstrutiva e Estética, Horácio Costa. Na opinião deste especialista, "embora a cirurgia plástica tenha uma carga subjetiva muito grande, a base do sucesso neste tipo de intervenções é avaliar bem os casos que devem ser operados".
A gestão das expetativas
Não há dúvida que pode melhorar a sua imagem graças à cirurgia estética, mas é fundamental ter uma ideia clara e realista dos objetivos que pode alcançar, bem como das limitações e dos riscos que lhe estão associados. São muitas as mulheres ou os homens que se submetem a uma operação pensando que assim recuperarão o seu parceiro ou que essa juventude renovada poderá competir melhor no momento de conseguir um emprego.
Ocasionalmente, isso até pode acontecer, mas não deve fundamentar a sua decisão unicamente nessa expetativa. Tenha muito claro que, antes de decidir se lhe convém submeter-se a uma intervenção cirúrgica para melhorar a sua imagem, deve fazer um autoexame pessoal ponderado do seu caso. Analise as vantagens e inconvenientes de um ponto de vista realista e o mais objetivo possível.
As 10 questões que importa (mesmo) fazer
Também é importante que se informe de forma rigorosa sobre eventuais riscos, o pós-operatório e os resultados estéticos que pode esperar, assim como avaliar as alternativas à cirurgia e o grau de felicidade real que a intervenção lhe pode proporcionar. Uma equação que é necessário fazer e que exige alguma ponderação cuidada. Antes de decidir entrar na sala de operações, há uma 10 questões que se deve colocar:
1. Qual a sua expetativa?
Seja franca consigo mesma. Se tem 57 anos e pretende aparentar 17, certamente vai dececionar-se. "É muito difícil competir com a natureza", alerta José Amarante, entrevistado para a edição impressa da Ultimate Beauty na condição de diretor do Serviço de Cirurgia Plástica Reconstrutiva Estética e Maxilo-Facial do Hospital de São João, no Porto.
O mais importante, na opinião deste especialista, é a pessoa "identificar o que não lhe agrada na sua imagem corporal do ponto de vista pessoal (e não de terceiros) e conversar com o cirurgião plástico para, em conjunto, avaliarem as possibilidades de mudança", sublinhou em declarações à revista.
2. Quer fazê-lo por si mesma ou influenciada por outra pessoa?
Se alguém a pressionar para fazer uma operação, não ceda. É você que vai passar pela cirurgia e vai viver com o resultado daí resultante o resto da sua vida. A cirurgia estética pode fazer com que alguém mais do que o paciente se sinta satisfeito, mas é um imperativo ético que a cirurgia seja um desejo do paciente e não de outra pessoa. A reconstrução da mama após mastectomia é paradigmática desta premissa.
"A mulher que toda a vida teve mamas, e que de repente se vê sem elas sofre imenso. Neste caso, a cirurgia não é para agradar a outros. Muitos maridos dizem não se importar, que elas na rua podem usar chumaços... Mas, sim, para ela própria se voltar a ver ao espelho como era antes", afirma José Amarante.
3. Você ou alguém chegado a si está a passar por um momento de mudanças importantes na sua vida?
Se for assim, é melhor atrasar a decisão de fazer uma operação até que não haja nenhum problema que possa interferir na sua avaliação. Precisa de tranquilidade para decidir livremente.
4. Encontra-se bem do ponto de vista psicológico?
É consensual entre os cirurgiões plásticos que, na maioria dos pacientes com alterações psicológicas, não se recomenda intervenção estética. Se está atualmente em tratamento diga a verdade ao cirurgião e tome a decisão apenas se for apoiada pelo seu terapeuta. José Amarante é peremtório nestes casos.
"Prefiro perder um doente do que ganhar um para toda a vida, que continua a acudir ao consultório a querer mudar mais qualquer coisa, porque não sabe bem o que quer e não está bem do ponto de vista psicológico. O que pretendemos é que os pacientes se sintam melhor e mais felizes", explica o especialista.
5. Conseguirá enfrentar o resultado se não for aquilo que esperava?
A cirurgia estética mudará o seu aspeto e é possível que possa vir a não gostar do resultado. José Amarante lembra que "não estamos a mexer numa estátua, são tecidos vivos que se adaptam de forma diferente de pessoa para pessoa". Portanto, à pergunta "Ccomo ficarei, doutor?", qualquer bom cirurgião responderá com uma aproximação, nunca com certezas.
"Embora já existam programas de computador que simulam o resultado final, não é possível assegurar como ficará exatamente, caso contrário podemos estar a dar falsas expetativas ao doente", sublinha. "O médico deve ser muito real e leal com o paciente e não criar expectativas inatingíveis", acrescenta ainda o especialista.
6. Quais são os seus verdadeiros motivos para se operar?
7. Julga que a operação vai mudar a sua vida?
Os problemas matrimoniais não se vão resolver por fazer um lifting ou aumentar o peito nem o facto de se operar lhe vai trazer o príncipe encantado ou garantir-lhe um óptimo emprego. Talvez com a operação adquira mais confiança em si mesma para os desafios futuros, mas a motivação e a força para fazer a sua vida melhor vêm de si mesma e não da operação.
"Não devemos operar uma mulher que se zanga com o marido e vem a correr aumentar as mamas para o reconquistar (da mesma forma que os transsexuais devem esperar três anos antes da cirurgia de mudança de sexo, para terem tempo de pensar se é mesmo isso que querem). São mudanças radicais com difícil retorno e que devem ser devidamente ponderadas", sublinha José Amarante.
8. Está preparada para uma eventual deceção após a operação?
Mesmo que tudo corra bem na operação, pode sentir um certo sentimento de tristeza ou depressão durante a convalescença ou notar alguma dificuldade em acostumar-se ao novo aspeto. De acordo com José Amarante, "normalmente, quem é mais perfeccionista e apenas quer fazer um retoque mínimo é mais difícil de ficar satisfeito". "Em regra, quanto maior for o defeito, mais fácil é o paciente ficar satisfeito, porque é fácil pegar num nariz grande e torto e torná-lo mais aceitável, por exemplo", diz.
9. Conhece os riscos da operação e aceita-os?
É preciso ter em conta que nem sempre as coisas correm bem ou como deseja. Está preparada para o que possa acontecer? Lembre-se que nunca há garantias a 100%. "O cirurgião deve falar dos riscos, mas sem os empolar, informando que, como em qualquer tipo de intervenção, há riscos inerentes, ainda que pequenos e controláveis", refere José Amarante.
10. Tem o apoio emocional e material de que necessita?
Dependendo da intervenção, talvez seja necessário que alguém a acompanhe ao hospital ou que cuide de si durante a convalescença. Alguém em quem possa confiar, a quem possa contar o que sente e pedir-lhe aquilo de que precisa sem que lhe responda algo como "Eu disse-te para não fazeres a operação".
Comentários