Fruto da especificidade das produções de várias populações de abelhas, selecionadas através de programas de estudo biológico dos diferentes tipos de mel e geleias reais, os investigadores de uma marca de cosmética descobriram uma associação de elementos capazes de ativar os alvos chave de autorreparação da pele.

Trave mestra do equilíbrio da flora, polinizadora e sentinela do meio ambiente, a abelha é o símbolo da vida e da alma... Esta "farmacêutica" da natureza acompanha desde tempos imemoriais a história da humanidade.

Simbolicamente nascida das lágrimas do deus solar Ré, a abelha está representada nos hieróglifos dos cartuchos dos faraós do Baixo Egito. Foi símbolo de Artemísia (deusa da fecundidade) mas também da terra prometida e da ressurreição de Jesus Cristo. Animadora da terra e do céu, tornou-se o emblema da realeza, o estandarte real do pai de Clóvis (o rei merovíngio Childerico I) e, em seguida, de Luís XII.

Inserindo-se na senda deste antiquíssimo emblema de soberania, também Napoleão Bonaparte a fez representar, a partir de 1804, no seu manto imperial e, em seguida, nos escudos de ouro dos altos dignitários.

Hoje, as mais recentes investigações vêm confirmar que os produtos da abelha (o mel e a geleia real), inseridos nas fórmulas cosméticas anti-idade, atuam na reparação e na reconstrução das microrroturas, responsáveis pela formação das rugas e pela perda de firmeza da pele.

A abelha. Alquimista da natureza
Os produtos da abelha encontram-se entre os melhores cicatrizantes do mundo. Senão vejamos: Produto natural e ingrediente universal, o mel sempre foi considerado como um símbolo de riqueza e de vida por todas as grandes civilizações. Utilizado para tratar e cuidar das feridas, ainda permanece muito presente na medicina tradicional. Famoso pelas suas propriedades medicinais, antissépticas e cicatrizantes, é também reconhecido pelas suas virtudes suavizantes.

De facto, a abelha extrai da natureza produtos, tais como o pólen e a própolis, com extraordinárias propriedades reparadoras. Experiências realizadas no meio hospitalar – nomeadamente as experiências notáveis do Professor Bernard Descottes – demonstraram que o mel da abelha possui um poder naturalmente cicatrizante.

Chefe do serviço de cirurgia visceral e de transplantes do Centro Hospitalar Universitário – CHU de Limoges, Bernard Descottes testou pensos à base de mel durante 25 anos. Cuidou mais de 3.000 pacientes, nomeadamente aqueles que não reagiam, ou que reagiam mal, aos cuidados da farmacopeia convencional, e demonstrou, desta forma, que a utilização de mel propicia uma cicatrização rápida, resultados estes que são hoje reconhecidos pela comunidade científica.

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O mel, um produto vivo
O mel é um produto natural proveniente das flores e da ação extremamente complexa das abelhas. Contém em média 80% de açúcares, mas muito pouca sacarose: esta é hidrolisada pela ação natural das enzimas (glicosil hidrolases) produzidas pela abelha e transforma-se em frutose e glicose. Trata-se do chamado "açúcar invertido", uma particularidade que confere ao mel a sua textura de ouro líquido tão untuosa.

Rico em açúcares, constitui uma incrível fonte de combustível para as células. Foi demonstrado que os fibroblastos, células da derme que garantem a flexibilidade e elasticidade à pele, apreciam muito o poder energético da frutose, que permite um crescimento celular forte e duradouro.

O seu poder cicatrizante provém do açúcar e dos seus compostos orgânicos. Por fim, possui um elevado teor de vitaminas B (B2, B3, B5), minerais (cálcio, cobre, ferro, zinco, magnésio, potássio...) e moléculas antioxidantes.

Abordagem multiparamétrica
A capacidade cicatrizante do mel e da geleia real da abelha está intimamente ligada à riqueza do seu ecossistema, à pureza do meio ambiente, bem como à especificidade genética da abelha.

A riqueza do ecossistema no qual a abelha recolhe o pólen imprime em cada produto uma marca floral distintiva, que lhe confere certas propriedades específicas. A pureza do meio ambiente é também essencial para os produtos que estas fabricam.

Embora se conheça a biodiversidade das espécies vegetais, a diversidade e a especificidade genéticas das abelhas são específicas e os produtos que estas fabricam não se explicam unicamente pelas espécies florais nas quais colhem o pólen. Assim, cada produto da abelha possui uma multiplicidade de parâmetros.

É o estudo dos haplótipos (conjunto dos vários genes presentes e geneticamente ligados no mesmo cromossoma), que permite aos investigadores evidenciarem a especificidade e a diversidade genética das colónias. Graças a esta abordagem multiparamétrica, que se enquadra na filosofia de biologia integrativa, os investigadores selecionam as matérias-primas, oriundas de vários produtos da abelha e de várias regiões do mundo.

Programa científico
Para compreender a subtil e complexa equação natural que determina a eficácia dos produtos da abelha nos cosméticos, os investigadores seguem um programa de seleção do mel e da geleia real no mundo inteiro, com base nos seguintes critérios: qualidade do meio ambiente, biodiversidade e propriedades genéticas da abelha.
Este programa científico leva os investigadores a rodearem-se dos melhores especialistas das abelhas e dos seus produtos e a tecerem parcerias estreitas em várias vertentes, tais como:

A origem das abelhas
Os seus tipos e os vários ecossistemas onde atuam;
A composição química
Incluindo a identificação dos compostos minoritários dos diferentes tipos de mel;
As propriedades biológicas
Tanto dos diferentes tipos de mel como das geleias reais e, em particular, da sua ação no metabolismo cutâneo.

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Reproduzir os mecanismos de cicatrização
Os investigadores de uma marca de cosmética evidenciaram que o processo de reconstrução dos tecidos, que permite a reparação das rugas e da perda de firmeza, e o processo de cicatrização têm alvos biológicos comuns. Neste sentido, o Dr. Frédéric Bonté, diretor dessa investigação, responde:

Como se produz o fenómeno de microrroturas cutâneas?
"Ao envelhecer, o tecido dérmico, que sustém a epiderme, sofre uma desestruturação mais ou menos elevada, na sequência dos microtraumatismos ocorridos ao nível das fibras e das macromoléculas. O tecido torna-se assim menos flexível e firme, as rugas acentuam-se. Essas fibras podem ser comparadas com as molas de um colchão: se forem quebradas, o colchão perde pura e simplesmente a sua flexibilidade!”

Qual é a ligação entre cicatrização, rugas e firmeza?
"Os investigadores interessam-se há muito pelo fenómeno de cicatrização. Ao orientarmos os nossos programas de investigação anti-idade nesta direção, verificámos que existe um paralelo entre os dois fenómenos: ao longo do tempo, a pele é agredida e fragilizada por microtraumatismos na epiderme, na derme e a nível celular”.

Qual é o objetivo dos produtos cosméticos à base de mel e de geleia real?
"O objetivo é adensar a matriz e reconstruir o tecido matricial, ao favorecer a produção de matéria, de colagénio, de tecidos de reparação e ao esticar as fibras. Esses produtos devem favorecer a migração das células para as zonas a reparar e agir nas células de forma dirigida para promover a recolonização dos fibroblastos ao nível das microrroturas, possibilitando uma perfeita autorreconstrução, onde é necessário. Cada pele tem o seu próprio sistema de reconhecimento e as células sabem onde devem ir para organizar a reparação."

Reparação dos tecidos
A verificação da existência de um paralelo entre os fenómenos da cicatrização e do rejuvenescimento cutâneo foi a descoberta que levou os cientistas a explorarem um novo campo de investigação, nomeadamente através dos estudos realizados por um eminente especialista da cicatrização e da reconstituição celular, o professor de fisiologia Alexis Desmoulière. Segundo Desmoulière, “existem 3 fases que determinam a reparação dos tecidos:

1.ª Fase: Reparação urgente
Observa-se o depósito de uma matriz "provisória", constituída essencialmente por fibrina, que serve para colmatar os traumatismos da lesão. Certas células passam a segregar fatores de crescimento e atraem os fibroblastos, para iniciar a reconstrução do tecido lesionado.

2.ª Fase: Preenchimento localizado
Os fibroblastos migram para a matriz "provisória" para preencher a lesão, segregando uma matriz mais sólida, para permitir o desenvolvimento de um novo tecido denominado tecido de "granulação".

3.ª Fase: Remodelação do tecido
Os fibroblastos, que foram muito ativos durante a formação do tecido de granulação, segregam por sua vez protéases – enzimas que reorganizam a matriz extracelular. A pele desenvolve processos para que o tecido cicatrizado seja o mais funcional possível, sem prejudicar demasiado a sua flexibilidade e firmeza."

Mel e geleia real na cosmética
A utilização do mel e da geleia real como matérias-primas cosméticas tem uma influência direta na escolha do modo operatório utilizado para o seu fabrico e, por fim, na estabilização do produto acabado.

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Os métodos de formulação, de trabalho das matérias-primas e o modo operatório são revistos em função da perícia ancestral dos apicultores; incorporação dos ingredientes na fórmula à temperatura mais próxima possível das colmeias ou, ainda, solubilização dos ingredientes ativos para evitar a cristalização dos açúcares.

Esta estrutura deve favorecer a difusão dos ativos de modo a estimular os mecanismos chave do processo de cicatrização da pele (migração das células para as zonas lesionadas; reconstrução dos tecidos e remodelação dos tecidos) para ajudar a reparar em contínuo as rugas e a perda de firmeza dos tecidos.

Alexis Desmoulière esclarece
Professor de fisiologia na Faculdade de Farmácia da Universidade de Limoges

Quais são as diferenças entre a cicatrização e a regeneração?
"Uma cicatriz é o testemunho de um processo de reparação que realiza uma reconstrução aproximativa dos tecidos e, na maioria dos casos, esteticamente incorreta. Atualmente, estão a ser realizados numerosos trabalhos de investigação no intuito de reduzir a presença de cicatrizes, de modo a promover mecanismos de regeneração que permitam uma reconstrução otimizada.

Vários produtos permitem orientar a reparação para obter um tecido que seja o mais funcional possível: neste caso, fala-se mais em termos de regeneração do que de cicatrização, a regeneração depende em grande parte de um depósito e de uma reorganização harmoniosa da matriz, daí o papel fundamental dos fibroblastos. Com efeito, estas células segregam não só a matriz para preencher a lesão como também as protéases, capazes de reorganizar eficazmente essa matriz durante a fase de remodelação, de modo a obter um novo tecido que seja o mais perfeito possível."

Como se relacionam as microrroturas com as rugas?
"A ruga é essencialmente um problema a nível da derme que contém os fibroblastos e a matriz que sustém e nutre a epiderme. A derme é a sede das microrroturas que, com o passar do tempo, podem levar ao aparecimento de rugas, favorecendo progressivamente a deterioração da epiderme.

Além disso, as capacidades de regeneração da derme são inferiores às da epiderme (onde existem células estaminais que participam em contínuo na substituição normal da epiderme). Uma epiderme terá um aspeto são e agradável se a derme subjacente e a matriz que contém forem funcionais e corretamente reparadas em caso de lesão."

Como pode a pele reparar as suas microrroturas internas?
"As microrroturas são a consequência de uma deterioração dos tecidos, produzida pelas tensões internas e pelo stress, a que a pele é submetida diariamente. Provoca-se assim uma deterioração das proteínas da matriz, que perdem as suas propriedades funcionais. A pele possui naturalmente capacidades para se autorregenerar. Para tal, mobiliza os fibroblastos e estimula-os para reconstituírem uma matriz eventualmente capaz de preencher as rugas e ao mesmo tempo garantir a firmeza e a flexibilidade da pele."

A Abelha Negra (Apis mellifera mellifera)
Esta espécie milenar era muito comum na Europa ocidental do século XVIII. Com o passar do tempo, a Abelha Negra tornou-se mais rara devido aos produtos tóxicos, aos vírus e aos predadores. A partir de 1987, apicultores da região de Finistère, em França, preocupados com a salvaguarda e a perenidade da abelha negra céltica no seu ecótipo local, criaram na ilha de Ouessant, na Bretanha, uma reserva de apiários que protege essa estirpe de abelhas contra todo o tipo de hibridações, doenças e poluições genéticas, tal como ocorre no continente. Hoje, a ilha é povoada por 30 colónias.

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Desta forma, a abelha negra de Ouessant é uma referência de pureza do mel. Sem predadores nem doenças na ilha, as abelhas negras podem coletar tranquilamente o pólen das flores selvagens para produzir um mel com características muito específicas e reparadoras.

Em Portugal é assim…
Segundo a legislação nacional Decreto-Lei n.º 214/2003 de 18 de setembro (transcrição para a lei nacional da Diretiva CE n.º 2001/110), o mel é a substância açucarada natural produzida pelas abelhas da espécie Apis mellifera a partir do néctar de plantas (mel de néctar) ou das secreções provenientes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas das plantas (mel de melada), que as abelhas recolhem e transformam por combinação com substâncias específicas próprias, depositam, desidratam, armazenam e deixam amadurecer nos favos da colmeia.

O mel é constituído essencialmente por diversos açúcares, predominando a glucose e a frutose, assim como por outras substâncias, tais como: ácidos orgânicos, enzimas e partículas sólidas, provenientes da sua colheita, como o pólen.

A cor do mel pode variar de uma tonalidade quase incolor a castanho-escuro. No que respeita à consistência, pode apresentar-se fluido, espesso ou parcial ou totalmente cristalizado. O sabor e o aroma variam consoante a origem vegetal.

Quando comercializado como tal ou quando utilizado em qualquer produto destinado ao consumo humano, não pode ter sido adicionado ao mel nenhum ingrediente alimentar, incluindo aditivos alimentares ou outros.

A especificidade da apicultura portuguesa, essencialmente praticada em zonas silvestres (matos) e/ou sistemas agrícolas extensivos (montado de sobro e/ou azinho, soutos de castanheiro), utilizando a subespécie local (Apis mellifera iberiensis), origina produtos de elevada qualidade, isentos de quaisquer resíduos e contaminações e únicos, como por exemplo, o Mel de Rosmaninho (Lavandula stoechas), o Mel de Urze (Erica umbellata), o Mel de Alecrim (Rosmarinus officinalis), o Mel de Medronheiro (Arbutus unedo) ou o Mel de Castanheiro (Castanea sativa).

Microrroturas
As microrroturas constituem autênticos microtraumatismos moleculares do tecido cutâneo. Explicam o relaxamento da derme e originam o envelhecimento cutâneo devido à diminuição local de matéria. Provocadas pela deterioração dos tecidos produzida por tensões internas e pelo stress, sofridos diariamente pela pele, esta vai perdendo a sua capacidade de autorreparação levando a que as rugas e a diminuição de firmeza se instalem. Para lutar contra estes fenómenos, deve ser reativada a capacidade da pele para reparar ela própria essas microrroturas.

Propriedades cicatrizantes
Porque é que os produtos da colmeia são tão eficazes na cicatrização? Segundo o Professor Bernard Descottes as capacidades regeneradoras do mel, há muito conhecidas, foram evidenciadas mais recentemente em feridas "rebeldes", que não cicatrizavam com os tratamentos convencionais disponíveis. Os produtos da colmeia apresentam uma matriz complexa de substâncias capazes de agir em harmonia nos numerosos alvos que desempenham um papel fundamental nos mecanismos de regeneração cutânea.

Texto: Guerlain
Edição: Patrícia Velez Filipe
Fotografia: © Sven Weber - Fotolia.com
Agradecimentos: Guerlain, Abeille Royale; João Casaca, FNAP – Federação Nacional dos Apicultores de Portugal