Nos meses de verão, é inevitável. O cabelo e a pele ficam expostos a inúmeros agressores químicos e ambientais. O sol, a água salgada do mar, a areia, o cloro das piscinas e até o vento agridem a pele, tornando-a mais seca e áspera, mas também mais suscetível de desenvolver manchas ou irritações. Também o cabelo, mais denso ou mais fino, claro ou escuro, sofre consequências, ficando mais seco e fragilizado e até danificado.

Os cuidados que temos após um dia de praia ou de piscina assumem, assim, um papel importante na reparação da nossa pele e no reequilíbrio da haste capilar. A exposição solar é essencial à produção de vitamina D e até pode ter um efeito benéfico em algumas doenças de pele, como a psoríase. «O sol tem efeitos imunossupressores que acalmam os sintomas das doenças inflamatórias», explica David Serra, médico dermatologista.

No entanto, o caráter benéfico dos banhos de sol tem o seu revés: em excesso, provocam vermelhidão, queimaduras e/ou manchas, e a longo prazo, envelhecimento acelerado e cancro cutâneo. «O sol promove a pigmentação da pele, induzindo o bronzeado, que nem sempre é uniforme, e podem surgir manchas de vários tipos, muito frequentes nesta altura do ano», acrescenta o especialista.

As manchas a evitar

As manchas podem ser claras (pitiríase alba, pitiríase versicolor e hipomelanose guttata) ou escuras (melasma, lentigos solares e hiperpigmentações pós-inflamatórias). Para prevenir o aparecimento destas manchas, que tendem a agravar com a idade, é fundamental aplicar um protetor solar (com FPS igual ou superior a 30), reaplicando-o sempre que necessário.

Evitar a exposição prolongada ao sol, sobretudo entre as 12h00 e as 16h00, o horário de maior radiação solar, é outro dos cuidados que os especialistas recomendam. Veja a galeria de imagens com soluções naturais que defendem a pele dos raios UV e fique também a saber quais são os 10 alimentos (saudáveis) que ajudam a bronzear.

O problema do sal, da areia e do cloro

No verão, o sol é o principal agressor da pele e do cabelo mas não é o único. Durante um dia de praia, entramos em contacto com uma série de componentes que não só deixam a nossa pele e cabelo mais fragilizados, como podem traduzir-se em danos, caso não adotemos os cuidados certos. Os banhos de mar frequentes, por exemplo, deixam a pele mais seca e sensível.

«A água salgada, quando seca/evapora, deixa pequenos cristais de sal que podem irritar a pele, sobretudo nas pregas, nomeadamente nas virilhas, nas axilas e por aí fora…», descreve David Serra. Na pele atópica, que é mais reativa, o contacto com a água salgada pode contribuir para o aparecimento de comichão. A areia da praia também pode agravar o problema.

Na piscina, depois do sol, o maior fator de agressão para a pele e o cabelo é o cloro presente na água. «É essencial para prevenir infeções, mas, por outro lado, favorece a secura cutânea», refere o dermatologista. Em ambos os contextos, na praia ou na piscina, estamos também expostos aos efeitos do vento que «aumenta a perda de água através da epiderme».

Uma situação que favorece «também a secura cutânea», refere David Serra. Paralelamente, o nosso cabelo tende a ficar mais seco e áspero, com as pontas espigadas. «Os cabelos com coloração podem perder a cor ou mudar de tom», descreve ainda o especialista.

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Duche terapêutico

Face a estas agressões, os cuidados com a pele e cabelo devem ser reforçados. Depois de um dia de praia e/ou piscina, o primeiro passo é tomar um banho reparador. «Um duche é terapêutico, após um dia de praia. Permite remover o sal, a areia, o pó, bem como o protetor solar e outros cosméticos. Acalma, proporciona conforto e prepara a pele para receber os cuidados after-sun», refere David Serra.

O segundo passo é a aplicação de um creme hidratante na pele do corpo. O momento ideal para o fazer, segundo o dermatologista, é «logo após o banho, quando a pele acaba de ser enxugada com a toalha e ainda está com alguma humidade remanescente do banho. É nessa altura que os cremes e as loções hidratantes são mais eficazes», sublinha.

Além da aplicação do creme hidratante, que deverá ser diária, o especialista sugere ainda a realização de uma esfoliação periódica, sobretudo do rosto, uma vez por semana, no caso da pele sensível, ou três vezes por semana, em peles com acne. Os pés também merecem uma atenção especial, devido à utilização de calçado aberto, como as sandálias e os chinelos. A aplicação de um bom creme de pés, à noite, é o suficiente, na maioria dos casos.

Cuidar da pele do rosto

No verão, também há cuidados específicos a ter com a limpeza e hidratação da pele do rosto. O creme hidratante continua a ser essencial, mas a sua composição poderá ter de ser diferente. De acordo com David Serra, é prudente evitar ingredientes fotossensibilizantes, como derivados da vitamina A e alguns despigmentantes, que aumentam o risco de irritação cutânea, dermatite, ardor, comichão ou descamação.

Evitar a higiene excessiva do rosto é outro cuidado a ter. «A pele do rosto deve ser limpa, no máximo, duas vezes por dia», aconselha o especialista. A limpeza ideal do rosto inclui, segundo o dermatologista, uma única lavagem com enxaguamento, que poderá ser feita, no banho, ao final do dia, e uma limpeza mais leve, pela manhã, com um produto que não implique enxaguamento, como as águas micelares ou os leites de limpeza.

Revitalizar o cabelo

Os cosméticos capilares que reforçam e protegem a haste capilar das agressões ambientais são particularmente úteis no verão e, sobretudo, para os cabelos mais delicados. É o caso dos cabelos finos, louros, ruivos, com coloração, secos e/ou já danificados. Estes são, de acordo com David Serra, os cabelos mais vulneráveis e os que mais cuidados exigem.

«Nestes tipos de cabelo, é mais fácil ocorrerem mudanças de cor e, no caso dos cabelos secos, finos e pintados, também é mais fácil danificar a haste capilar», justifica.  Os champôs que ajudam a remover o cloro e certos metais que podem alterar a cor do cabelo são uma boa opção e «o uso de produtos reparadores, como máscaras ou cremes hidratantes, óleos ou séruns, também ajuda muito a manter a haste capilar em bom estado», refere David Serra.

O uso de amaciador ou condicionador é «essencial para desembaraçar os cabelos mais compridos». A secagem deve ser suave e a escovagem não pode ser vigorosa. Evite puxar o cabelo ou esfregá-lo intensamente com a toalha e, se usar secador, a temperatura não deve ser elevada e o aparelho não deve estar muito próximo do cabelo. «Uma escova de pontas suaves que não agridam ou irritem o couro cabeludo também pode facilitar a escovagem», recomenda ainda David Serra.

Veja na página seguinte: O tipo de hidratante que deve usar

Cuidados a ter na praia e na piscina

«Passar o cabelo por água doce, antes e depois dos banhos, permite reduzir os efeitos do cloro e do sal. Usar um chapéu ou um lenço que envolva o cabelo também ajuda a protegê-lo, assim como o uso de touca (quando os banhos frequentes se prolongam por muitos dias)», indica David Serra, dermatologista.

Qual o hidratante certo para si?

O tipo de hidratante que usa deve ser adequado ao seu tipo de pele, cujas características podem mudar no verão, explica David Serra, dermatologista. Para uma pele seca «uma fórmula em creme ou um bálsamo é a melhor opção». O ideal é utilizar uma rica em ingredientes como a vaselina, a parafina, a manteiga de karité, a ureia e os óleos vegetais.

Para uma pele oleosa «deverá aplicar, à noite, uma emulsão óleo-em-água ou mesmo oil-free, ou um gel, com uma base aquosa, ou apenas um sérum. De dia, aplique um protetor solar matificante e oil-free. Pode ainda associar-se um sérum (a aplicar antes do protetor). Para uma pele mista pode combinar mais do que um produto em função das diferentes necessidades das áreas do rosto. «Na zona T, que é mais oleosa, poderá aplicar uma emulsão oil-free ou um sérum», sugere.

«Na metade inferior do rosto e pescoço, que é, geralmente, mais seca, poderá então optar por um creme mais nutritivo», diz ainda. Para uma pele sensível ou reativa, escolha uma fórmula com ingredientes calmantes como o bisabolol, a enoxolona ou estratos vegetais (aloé vera, aveia ou pepino) evitando ativos com potencial irritante, como os alfa-hidroxiácidos, os retinoides ou o ácido ascórbico.

Por que deve usar o after sun?

Não é um produto essencial, mas ajuda a manter a pele cuidada e bonita, prevenindo ainda os problemas relacionados com a pele seca, nomeadamente a comichão e a descamação. Comparativamente com os cremes hidratantes, têm texturas mais frescas e ligeiras e são compostos por ativos calmantes, regenerantes e antioxidantes, incluindo substâncias como o gel de aloé vera e outros extratos vegetais, a vitamina E e as águas termais.

Texto: Sofia Santos Cardoso com David Serra (médico dermatologista na Idealmed - Unidade Hospitalar de Coimbra)