A meteorologia já não é o que era e os verões dos últimos anos, com temperaturas médias abaixo do normal, são exemplo disso. Em contrapartida, tal como sucedeu nos outono e no inverno dos últimos anos, as estações intermédias apresentam-se, por vezes, com valores superiores aos que seriam esperados para a época. Que essas alterações influenciam e afetam a nossa vida não há qualquer dúvida mas será que também interferem com o cliclo de crescimento e queda do cabelo?
Em entrevista à Ultimate Beauty, publicada na edição impressa da revista, uma conversa que agora recuperamos, o dermatologista Miguel Trincheiras assegura que não e comenta alguns dos (novos) tratamentos anti-queda disponíveis.
Que fatores são, em primeira linha, responsáveis pela queda de cabelo?
A queda de cabelo é um fenómeno fisiológico, com uma queda de cerca de 50 a 100 folículos por dia e com um tempo de crescimento ativo de cada um de cerca de cinco anos. O que significa que todo o cabelo que temos hoje no couro cabeludo já é todo diferente daquele que tínhamos há cinco anos atrás…
Agora, há fatores que podem aumentar pontualmente a percentagem de cabelos em fase de queda e, aí, contabilizamos todos aqueles que alteram o metabolismo geral, como por exemplo alguns medicamentos, doenças que alterem o estado geral, cirurgias, um parto, anemia e/ou stresse…
De que forma as alterações climatéricas que temos vindo a sentir, com verões com menos calor e temperaturas altas em meses como outubro, se refletem no ciclo de vida do nosso cabelo?
Tanto quanto se sabe, e até porque não há estudos prospetivos nessa matéria que necessariamente teriam que ser muito prolongados, não há uma relação direta entre as alterações climatéricas e o ciclo de crescimento/queda capilar.
É fácil especular que esse factor poderia ser mais um a alterar esse ciclo, uma vez que, como alguns animais, se pensa que ainda mantemos um reflexo arcaico de muda de pelagem na primavera e no outono, daí a maior queda de cabelo nessas alturas.
Que diferença existe entre a queda de cabelo habitual de determinadas épocas do ano e aquela que podemos considerar anómala? Qual é o limite que nos deve fazer atuar?
Como referido previamente, a queda normal de cabelo diária é de cerca de 50 a 100 folículos por dia. Se se tiver a perceção de que esta quantidade é superior ou que começa a existir uma visível rarefação capilar, penso que é o momento de avaliar, investigar e, eventualmente, tratar o quadro clínico.
De que forma podem os tratamentos químicos feitos nos cabeleireiros ou mesmo em casa, no caso das colorações, influenciar a queda do cabelo? As marcas garantem que as suas novas fórmulas utilizam óleos hidratantes e já não contêm amoníaco. Ainda assim, existe risco?
Os produtos capilares têm vindo, é certo, a melhorara as suas formulações e a minimizar a sua agressividade para com o couro cabeludo, embora possa existir, em casos individuais, uma particular sensibilidade a este ou aquele componente que poderá estar na origem de um fenómeno de maior queda capilar, habitualmente transitória.
É possível, no caso de uma queda de cabelo motivada por fatores externos, recuperar, pelo menos, parte da densidade capilar perdida? Se sim, como?
Em primeiro lugar, importará identificar esses fatores externos e excluí-los, tanto quanto possível, do dia a dia da pessoa em causa. Depois disso, será necessário fornecer ao organismo um suplemento de oligoelementos, vitaminas e aminoácidos para ajudar à formação e saudável crescimento do folículo capilar. Também recomendo o uso de champôs suaves e a aplicação tópica de tónicos e de soluções com moléculas estimulantes do crescimento capilar.
Que tratamentos para a queda de cabelo considera mais eficazes? Comprimidos, ampolas ou champôs?
As três vertentes são importantes e complementares umas das outras. Apenas juntaria a higiene e manipulação capilares cuidadas.
É crescente o número de mulheres com problemas de alopecia. O que está na origem deste fenómeno?
A alopécia androgenética da mulher é, de facto, um quadro que temos vindo a ver aumentar na sociedade. Os motivos para tal não são bem conhecidos mas a progressivamente crescente esperança de vida da população ajudam a entender que, na mulher e em particular após a menopausa, os fatores hormonais androgénicos tomam alguma prevalência e conduzem a uma miniaturização de alguns folículos que é o fenómeno associado à alopécia androgenética, transversal aos dois sexos.
Nos tempos que correm, deparamo-nos com inúmeros casos de pessoas que consomem determinado tipo de medicamentos, nomeadamente antidepressivos, que também contribuem para a queda de cabelo. Esse cabelo é recuperável?
Sim, a maioria dos medicamentos que interferem com a fase anagénica (de crescimento ativo do cabelo) têm efeitos reversíveis uma vez removida a sua toma. Trata-se neste caso de uma alteração funcional do crescimento capilar e não de uma alteração anatómica ou cicatricial que impediria a recuperação o futuro crescimento do mesmo.
Nos últimos meses, surgiram em Portugal tratamentos de recuperação capilar que recorrem a tecnologias com lasers e luzes LED, muito comuns noutros países. São a solução para quem pretende travar a queda e até recuperar cabelo?
Este tipo de tratamento constituem mais uma alternativa ao vasto armamentarium terapêutico de estimulação capilar. Estas tecnologias estimulam, de forma inespecífica, a vascularização superficial do couro cabeludo e melhoram as condições globais para o reponte capilar, mas devem ser complementadas pelas outras abordagens já referidas anteriormente.
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