No início das relações, na fase de encantamento, tudo é fácil, sobretudo o sexo, mas, com o passar do tempo, é inevitável. A rotina instala-se. Além disso, a chegada dos filhos e o ritmo acelerado em que vivemos hoje em dia fazem com que os momentos a dois escasseiem e a vida sexual seja relegada para segundo ou terceiro plano. Agendar os encontros sexuais pode ser a solução. Pelo menos, é isso que defende Gigi Engle, sexóloga e terapeuta sexual norte-americana.

Esta reputada especialista chama-lhes "sexo de manutenção", uma espécie de panaceia para a saúde da relação, quando a espontaneidade sexual e o improviso começam a rarear numa fase em que ainda existe amor mas a chama vai perdendo fulgor. Os casais fazem hoje menos sexo. Há vários estudos científicos que o atestam. Se há queixa repetida no consultório de Gigi Engle é a falta de tempo para a intimidade e é por esse motivo que a coach não tem dúvidas.

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A todos os casais que verbalizam essa queixa sugere que agarrem numa agenda e marquem um dia para ter relações sexuais. "Pode parecer pouco sexy, mas está longe disso", garante a sexóloga e coach sexual. "O sexo é vital para a maioria dos relacionamentos, portanto tem de ser cultivado, não tem de acontecer apenas quando apetece, porque pode nunca apetecer se não nos prepararmos para isso", acrescenta ainda a especialista, em jeito de alerta. Está, no entanto, longe de ser a única profissional da área a defender esta tese publicamente. Em Portugal, também os há, ainda que não se debata abertamente o assunto na praça pública.

No livro "O melhor sexo do mundo - Os segredos mais bem guardados que vão revolucionar a sua intimidade", publicado pela editora A Esfera dos Livros em 2016, ainda disponível online, Cristina Mira Santos, psicóloga e coach sexual, também faz a sua apologia, sugerindo que, tal como quando organiza um jantar, tem de decidir uma data, combinar com os convidados, escolher a ementa, a roupa e até o tema do encontro, o mesmo deve ser feito para o sexo.

A explicação para essa teoria não poderia ser mais objetiva. "Regra geral, quando fazemos amor ou sexo, não preparamos o momento, confiando na ideia de que as relações sexuais surgem de forma espontânea e de que o que vier será bem aceite", defende a terapeuta sexual. "E, se isso é verdade, também é verdade que, para aprofundar o momento, apostar na definição de temas pode ajudar a tornar a situação mais interessante", refere ainda.

E, do mesmo modo que no jantar de amigos precisa da concordância de todos, na cama o cenário é exatamente o mesmo e exige, igualmente, dia e hora marcados. Pode optar pelo efeito surpresa mas, nesse caso, há sempre o risco de o parceiro chegar a casa e responder ao convite com o desabafo de que hoje não lhe apetece porque está muito cansado. Agendando o sexo previamente, esse risco não desaparece mas, encarado como um compromisso, é mais fácil de concretizar.

A conversa a dois que deve existir

A comunicação é essencial ao êxito da iniciativa. Gigi Engle aconselha, em primeiro lugar, que os membros do casal se sentem para arranjar um dia e uma hora que sejam bons para ambos e que, depois, escrevam a data na agenda. Não basta acordar o momento e prosseguir como se nada fosse. Ambos devem anotá-lo na sua agenda para que nada se intrometa pelo meio. Devem marcar o encontro em conjunto, pois só assim estaremos perante um compromisso mútuo.

Devem, ainda, aproveitar a oportunidade para erotizar o momento nos dias ou horas que o antecedem. Podem fazê-lo com uma troca de mensagens, com um bilhete deixado ao outro num ponto estratégico ou até com um telefonema mais picante. Para a coach sexual, isto pode levar o casal a explorar um novo terreno sexual e até a falar sobre as fantasias que possam ter e que ainda não realizaram, um tema que continua a ser tabu para muitos casais nos dias que correm.

A ciência valida a opção

Planear um encontro sexual é sinónimo de colocar a imaginação a funcionar, o que pode aumentar o desejo, acreditam muitos especialistas. Uma pesquisa científica internacional realizada na Universidade Ruhr de Bochum, na Alemanha, por um grupo de investigadores e divulgada depois pela publicação especializada The Journal of Sex Research, em 2018, corrobora o agendamento das relações sexuais. Na opinião dos cientistas, estas marcações têm vantagens.

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Depois de terem analisado 964 casais de voluntários, os investigadores do estabelecimento universitário alemão perceberam que planear antecipadamente os encontros íntimos é sinónimo de melhor sexo e que esse êxito tem tudo a ver com a comunicação. Falar sem preconceitos sobre sexualidade e preferências sexuais melhora a vida sexual dos casais. Neste mesmo estudo, no qual se analisou o grau de excitação e de inibição, bem como os traços de personalidade de cada participante, incluindo a extroversão, o neuroticismo, a empatia, a abertura e a escrupulosidade, foram feitas outras descobertas.

Concluiu-se, então, que as pessoas mais organizadas e meticulosas têm, por norma, um melhor desempenho sexual, menos receios e menos inibições, além de conseguirem ter mais prazer, do que as que não o são. As pessoas mais conscientes têm também, segundo os dados apurados pelos especialistas, relações tendencialmente mais duradouras e mais felizes porque arranjam tempo de qualidade para a intimidade e esforçam-se mais por ter uma vida sexual plena e satisfatória.

Texto: Rita Caetano