É uma experiência comportamental patológica alteradora do estado de humor. Evoca-se o amor, mas na realidade não existe amor saudável, genuíno, espontâneo e honesto.
Esta designação faz parte do jargão do meio profissional que é incompreensível para a maioria das pessoas que se encontram fora desta actividade, e incoerente para alguns que trabalham nesta área. Todavia, considero mais importante observarmos o significado desta patologia que afecta milhares de homens e mulheres.
Muitos DdoA afirmam que só se sentem satisfeitos e/ou realizados em relacionamentos cujo ingrediente principal é a paixão “ardente” – as emoções falam mais alto e decidem.
É o assunto n.º 1 e central das suas vidas. Quer estejam envolvidos num relacionamento ou não. Consideram que a felicidade das suas vidas advém de um parceiro/a “perfeito”.
Todos nós, seres humanos, precisamos de criar e desenvolver vários tipos de elos/ligações com os outros ao longo da vida. Somos seres gregários. Precisamos de relações amorosas, criar vínculos, laços e de pertença.
Contudo, surge um sério problema quando esses vínculos e laços se tornam padrões disfuncionais repetitivos de insatisfação, insegurança, infelicidade e rejeição, de vergonha e culpa, baixa auto estima, isolamento, raiva e ressentimento e dependência.
Isto significa que o amor disfuncional levado a um extremo poderá conduzir ao sofrimento e à perda do controle a que podemos designar de dependência do amor. Por vezes, abusamos da palavra/conceito amor.
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Utilizamos este conceito do amor de uma forma que nada tem de saudável e construtivo. A nossa cultura/sociedade reforça a crença disfuncional de que devemos procurar a felicidade “mágica” no amor-paixão.
É possível permanecer numa relação disfuncional por um tempo indeterminado. Em alguns casos, pode levar a vida inteira.
É perfeitamente natural que a exaltação amorosa seja o tema principal na literatura, no espectáculo, na canção. Somos constantemente bombardeados, através dos média, por promessas de uma relação apaixonada que nos trará satisfação e realização.
Para onde quer que olhemos, assistimos a telenovelas, programas de televisão, revistas, romances, anúncios que apelam às nossas emoções (à imaginação, ao sonho, à sedução e sensualidade) e às relações perfeitas e fáceis.
Acompanhei um caso de uma pessoa que afirmava estar deprimida. A sua depressão era o problema que estava a afectar a sua relação recente. Não se sentia com energia suficiente nem disponibilidade para estar com o seu parceiro, por isso procurava o isolamento.
Por outro lado, o seu parceiro estava apreensivo e inseguro com este tipo de comportamento por parte da sua parceira. Mais tarde já afirmava que não se sentia feliz na relação.
Parecia que o período “lua-de-mel” da relação tinha desaparecido e que era necessário fazer o ponto da situação e, quiçá, tomar decisões difíceis. Esta pessoa parecia estar bloqueada e assustada quando se confrontava com a sua realidade.
Assumir perante si mesma, o seu parceiro e família que as coisas não estavam bem e em ultima instância terminar o relacionamento deixava-a completamente frustrada, angustiada e com sentimentos de culpa e vergonha.
O amor apaixonado é aquilo que alguém sente geralmente por um parceiro/a impossível. De facto, é exactamente por ser impossível/problema que existe tanta paixão.
Para que exista a paixão, tem de se verificar uma luta contínua, têm de existir obstáculos a ultrapassar e um desejo de obter mais do que é oferecido. Literalmente, paixão significa sofrimento e, frequentemente, quanto maior é o sofrimento maior é a paixão. A prioridade e a razão da felicidade gira em torno da conquista, da sedução, do romance, intimidade física e do sexo.
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A intensidade emocional de um caso de amor apaixonado não é comparável ao conforto mais subtil de um relacionamento estável e empenhado. Assim, se o parceiro/a finalmente recebesse o alvo da sua paixão, que tão ardentemente desejava, o sofrimento terminaria e a paixão em breve se esfumaria.
Nessa altura, provavelmente iria deixar de gostar dessa pessoa, porque a mágoa amarga e doce teria desaparecido.
A nossa tradição ocidental de amar e de ser amado é na minha perspectiva um conceito ultrapassado e disfuncional que promove a DdoA. Vivemos para a posse das coisas (materiais) e de poder sobre os outros.
Tanto os homens como as mulheres sofrem nas relações amorosas. Como o homem e a mulher são diferentes, aprendemos erradamente que as diferenças significam desigualdade, incompatibilidade, competição exacerbada e afastamento.
João Alexandre Rodrigues
Técnico de aconselhamento de comportamentos aditivos.
Formação em Inglaterra (Farm Place e Broadway Lodge) e nos EUA (Hazelden Foundation).
Consultas directas: Tm 91 488 5546
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