Freud estava errado. Esta é, pelo menos, a convicção de alguns (talvez muitos) especialistas em sexologia. O pai da psicanálise, autor de três ensaios sobre a teoria da sexualidade e que defendia que a base de todas as disfunções sexuais eram problemas que tinham sido gerados na infância, acreditava que ao encontrar a causa remota dessas disfunções (em consultório, na famosa cadeira do psicanalista) era possível resolver o problema da sexualidade. Contudo, a prática veio mostrar que o método de Freud não funciona.

«Apesar de ter sido inovador, de ter dado um contributo importante e de a psicanálise ser fantástica noutras áreas, constatou-se que, em sexualidade, não interessa andar à procura no passado de uma causa psicológica para um problema do presente, pois não o resolve e pode até agravá-lo. O que interessa é resolvê-lo e, para tal, aquilo que funciona mesmo são as terapias comportamentais.  Estas são prescritas em consultório e postas em prática em casa pelo paciente ou casal», explica Nuno Monteiro Pereira.

Para o médico urologista, especialista em andrologia e medicina sexual, muitas destas terapias não só podem como são muitas vezes utilizadas, mesmo sem haver disfunção, por casais que procuram manter a saúde da sua vida sexual. Adivinha quais? Nos parágrafos que se seguem, vai ficar a saber tudo!

Masturbação

A relação que temos com o sexo dependerá, em grande parte, da relação que temos com o nosso próprio corpo, refere Cláudia Almeida, psicóloga clínica. «Se nos sentirmos inseguros e insatisfeitos, é provável que isso se reflita no ato íntimo. Da mesma forma, se vemos a possibilidade de tocar e explorar os nossos pontos de prazer como um tabu, é possível que demoremos muito mais a descobrir como gostamos que nos toquem e nos beijem. Conhecer-se é a chave para o conseguir e aqui reside, em parte, a importância da masturbação», refere.

Por outro lado, quando realizada em casal, pelo outro, «permite aos parceiros conhecerem-se melhor na dimensão sexual enquanto se satisfazem mutuamente sem a necessidade de recorrer à penetração», acrescenta ainda a especialista. Em caso de disfunção sexual, esta pode ser uma solução. «Faz parte das técnicas de terapia sexual tocar e ser tocado. Quando feita ao outro, permite um melhor conhecimento dos corpos e melhora a intimidade», refere a especialista.

No caso da mulher, a manipulação clitoriana, gentil e adequadamente feita pelo parceiro, pode facilitar o orgasmo que, sem isso, poderia ser difícil de atingir. Também pode ser indicada como um dos mecanismos para a mulher relaxar em caso de receio de penetração e impossibilidade da mesma (vaginismo). «O orgasmo através da masturbação, seja sozinho ou em casal, ajuda ainda a libertar endorfinas que melhoram o humor e reduzem o stresse. Num dia de maior tensão, esta prática pode constituir uma estratégia de relaxamento», refere a psicóloga clínica.

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Usar objetos sexuais

Um acessório erótico é todo e qualquer objeto que insinue ou que é usado com a finalidade de excitar o próprio ou o parceiro. «Há quem pense que só são utilizados por casais que não conseguem dar prazer e receber por si próprios, mas, na verdade, os brinquedos sexuais são mais um recurso de casais saudáveis que, no decorrer da sua relação, investem na qualidade da sua sexualidade e que encaram este tipo de objectos como uma possibilidade de descobrir novas sensações até então não conhecidas a dois», afirma a psicóloga clínica.

Em contexto clínico, os dilatadores, os chamados dildos, fazem parte de muitos protocolos terapêuticos, nomeadamente, em casos de vaginismo. «A mulher começa por usar dilatadores fininhos que ela vai aplicando a ela própria devagarinho e, aos poucos e poucos, vai ajudando a dilatar a vagina até conseguir atingir a penetração. É feito em casa», sublinha a especialista.

Atualmente existe uma enorme diversidade de objetos sexuais, vendidos em lojas e online, ou mesmo descobertos em objetos comuns da casa. É certo que o seu uso pode resultar para um casal e não resultar com o outro, mas o que é importante é que o seu uso seja «consensual nos dois membros do casal», frisam ambos os especialistas.

Uso de lingerie sexy

Usar uma roupa interior especial «constitui uma forma ousada e divertida de surpreender o parceiro e de mostrar que queremos agradar. Poderá ser um bom estimulo sexual para uma noite diferente e excitante», refere Cláudia Almeida. Em caso de disfunção sexual, tal também pode ser útil. «Em contexto clínico pode ser útil para estimular sexualmente o casal, particularmente se a rotina se apoderou do quotidiano e está a ser preciso refrescar o relacionamento», refere Nuno Monteiro Pereira.

«É particularmente interessante em terapias que pretendem dar confiança aos parceiros para superar disfunções de causa psicológica como a disfunção erétil e do orgasmo e o desejo sexual hipoativo», afirma ainda o especialista. O uso de peças sexy não é um exclusivo do universo feminino. «Também os homens podem ousar com roupa interior sexual e atrevida que realce os seus atributos e despolete o desejo na companheira», sugere a psicóloga clínica.

Ir para um motel

«Mudar de cenário é o ideal para casais que raramente saem do quarto, pois mexe com os vários sentidos e dá azo a experiências novas ou a uma noite mais romântica. Ir buscar o/a companheiro(a) ao final do dia de trabalho e conduzir numa direção oposta ao habitual, com uma mala já feita para uma noite a dois diferente, pode, por si só, funcionar como um preliminar que despoleta desejo sexual. O motel é um dos lugares encantados do sexo e o mais importante é que, durante algumas horas, os parceiros tenham a oportunidade de se perderem um no outro, sem interrupções, sem tarefas domésticas», afirma Cláudia Almeida.

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Como é que a ida a um motel pode ajudar a combater disfunções sexuais

«É um método útil e interessante para, em contexto clínico, melhorar a excitação e quebrar a rotina em situações de desejo sexual hipoativo e de disfunção erétil de causa psicológica», afirma o especialista em andrologia e medicina sexual. Mas, atenção, a ida para um motel pode ser encarada como uma «infração», como lhe chama Nuno Monteiro Pereira.

«A noção de clandestinidade pode ser estimulante ou não», sublinha. Por exemplo, se um deles perguntar «Como é que te lembraste disto?» e se instalar a dúvida «Se calhar é porque já cá vieste mais vezes…», o que poderia ser benéfico pode correr mal. «Se for uma estratégia aconselhada pelo terapeuta não há esse risco», adverte ainda o especialista.

Outras estratégias para casais saudáveis

«Não são úteis em contexto clínico, mas podem funcionar em casais saudáveis», afirma Nuno Monteiro Pereira. Estes são alguns dos comportamentos a que pode recorrer:

- Usar linguagem obscena

«Sendo verdade que existe quem se excite com a prática, não parece haver vantagem em contexto clínico. Mas também nada impede que seja usado, particularmente se for verdadeiramente espontâneo», defende o especialista.

- Dormir sem roupa

«Favorece a intimidade, o que pode ser importante nalguns casos, embora na maioria das disfunções sexuais seja irrelevante», sublinha, contudo.

- Tomar banho a dois

«Favorece a intimidade, o que pode ser importante nalguns casos, mas na maioria das disfunções sexuais é irrelevante e até contraproducente. Por exemplo, quando os corpos já não estão fantásticos, mais vale a intimidade na escuridão», esclarece.

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Não faça isto em casa

Se suspeita existir uma disfunção sexual, não recorra a estas estratégias «sem falar antes com um especialista», aconselha Nuno Monteiro Pereira. Estes são alguns dos comportamentos a evitar:

- Assistir a filmes pornográficos

«Pode ser estimulante para um casal, mas, em contexto clínico, a sua utilidade é duvidosa, já que pode gerar a sensação, em qualquer um dos membros do casal, de que o problema existente se deve à incapacidade própria de estimular e excitar o outro. Isso baixará a autoestima e ampliará o problema», afirma o médico.

- Vestir uma máscara e assumir uma personagem

«A presença de disfunção sexual num ou nos dois elementos do casal pode contraindicar as práticas que sobrestimulem a fantasia, porque nada garante que funcionem e, falhando, podem ser contraproducentes», alerta o especialista.

- Usar práticas dominadoras

«Para suscitarem prazer e não determinarem consequências negativas, impõem que quem as use o faça voluntariamente e tenha uma saúde sexual e psicológica muito robustas. Em contexto clínico, de casais fragilizados com a presença de problemas sexuais, por vezes graves, não devem ser usadas», afirma ainda Nuno Monteiro Pereira.

Texto: Marta Marques e Vanda Oliveira com Cláudia Almeida (psicóloga clínica na Oficina da Psicologia) e Nuno Monteiro Pereira (médico urologista, especialista em andrologia e medicina sexual e diretor da Clínica do Homem e da Mulher)