Trata-se de uma nova realidade decorrente da evolução dos relacionamentos familiares nos dias de hoje. A ideia de um pai ou uma mãe manipular o seu filho com a intenção de o predispor contra o outro progenitor pode parecer difícil de aceitar, porém é uma situação cada vez mais frequente após um divórcio ou separação. De acordo com Eduardo Sá, psicólogo, «a alienação parental representa um processo de uma enorme perversidade, pois faz-se com dolo para um dos pais e a pretexto da vontade expressa ou sob o consentimento tácito de uma criança».
Contudo, este fenómeno, conhecido pelos especialistas como Síndrome de Alienação Parental é ainda pouco estudado em muitos países. Portugal não é exceção. «Falamos de alienação parental quando um dos pais da criança se assume como manipulador e procura instrumentalizar a criança para punir o(a) antigo(a) companheiro(a)», afirma mesmo Christel Petitcollin, terapeuta e autora do livro «Enfants de manipulateurs, comment les protéger ?», «Filhos de manipuladores, como os proteger» em tradição literal, publicado em França pela Guy Trédaniel Editeur.
De acordo com a especialista, confrontados com uma situação extrema, as crianças veem-se obrigadas a ter de escolher uma das partes. «Vão ter a tendência natural de proteger o mais frágil, logo paradoxalmente fazer o jogo do manipulador. Esta situação pode dar origem a situações dramáticas em que as crianças recusam-se a ver ou falar com um dos pais, indo ao ponto de o odiar», adverte. Para Christel Petitcollin, a ajuda do elemento do casal vítima da manipulação, que se deve manter lúcido e determinado, é fundamental para ajudar a criança.
O menino que dizia que a mãe só queria o dinheiro do pai
Ao longo da sua carreira, Christel Petitcollin já foi por diversas vezes confrontada com o problema, recordando o caso particular de um menino de seis anos que, depois de regressar de um fim de semana com o pai, disse à mãe que «ela era má e só queria o dinheiro do pai». Numa primeira confrontação, a reação seria a progenitora justificar-se perante a criança, o que a terapeuta, de todo, não recomenda. «Em vez de contestar a afirmação, ela deve dizer apenas à criança que essa é a opinião do pai e da criança e não corresponde à verdade», cortando o mal pela raiz sem alimentar mais conversas, sugere.
Tranquilizar a criança para não a culpabilizar é outra das recomendações da especialista. «A vítima da manipulação deve explicar ao filho que este tem o direito de amar os dois pais e que não é obrigado a ter de fazer escolhas», diz. «É preciso fazer compreender à criança que ela tem o direito de ficar de fora do conflito e que não tem de servir para passar mensagens», acrescenta Christel Petitcollin. Essa tarefa deve ser levada a cabo com o cuidado de não denegrir a imagem do outro.
Estas são algumas das regras de intervenção que os especialistas defendem que as vítimas de manipuladores devem adotar para lidar com o problema:
- Não recorra a argumentos para justificar as afirmações da criança. Explique-lhe que se trata apenas de uma opinião dela e que não corresponde à verdade. Não lhe dê a entender que está a servir de arma de arremesso num conflito entre os pais.
- Evite usar afirmações e sentimentos negativos quando fala do(a) seu(ua) ex-companheiro(a) à criança. Tente centrar a sua relação com ela e o relacionamento dela com o pai ou com a mãe em aspetos positivos.
- Nunca se resigne. Por mais que lhe pareça que a batalha está perdida, mantenha a lucidez e a força para não se deixar afetar pela ação do manipulador, que pode ser hábil no jogo psicológico.
- Denegrir o outro nunca é a solução. Além de afetar psicologicamente a criança, acaba por gerar uma animosidade acrescida que só abre mais feridas e não contribui, em nada, para a resolução do problema.
Texto: Luis Batista Gonçalves
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