Farmácias Portuguesas
Rodrigo chora intensamente. Esperneia. Mãos, pés, é um vale tudo. A face avermelhada não deixa dúvidas: está zangado. Muito zangado. «Ele não gosta nada de mudar a fralda», solta Ana enquanto o pai, Diogo, se apressa na muda. A fúria de Rodrigo continua. «Ana, não queres cantar para ele?».
Rodrigo tem cinco dias de vida mas, a par dos pais, é um rapaz apaixonado por música e de gostos bem refinados. A icónica balada norte-americana Unchained Melody, escrita em 1955, é já a sua música preferida. O sossego volta ao quarto assim que Rodrigo ouve a música, desta vez na voz da cantora sueca de indie Lykke Li. «Ele acalma-se sempre...», comentam os pais.
O parto estava previsto ser a 22 de Julho, mas Rodrigo Onofre Sanches de Castro Jesus quis desafiar os pais. Quinta-feira, dia 6, Ana Sanches, 31 anos, natural de Lisboa, e Diogo Onofre, de 30 anos, natural de Torres Vedras, ambos fãs de festivais de verão, assistiam, «confortavelmente sentados» no espaço Saúda, à actuação da banda britânica The XX, no Festival NOS Alive, em Lisboa, quando Rodrigo deu de si. «O meu instinto foi dar um pulo. Senti um pouco mais de água do que era normal…», conta, a rir-se, Ana. «As águas rebentaram quando estava a dar a música I Dare You, que significa “Desafio-te”. No fundo, ele acabou por desafiar-nos nesse momento», conta entusiasmado Diogo. Desafio aceite.
Ana e Diogo, casados há quase um ano e colegas de trabalho na EDP, deixaram o recinto do festival. «Só pensava para mim: “Oh meu Deus! Isto está mesmo a acontecer”. Embrulhei à minha volta a manta Saúda, que nos tinham dado no vosso espaço e saímos», conta Ana. Diogo ressalva: «não fomos para o meio da multidão ver o concerto, aí sim havia riscos». Após uma conversa telefónica com a obstetra, fazem uma paragem em casa, em Belém. «Tínhamos de vir buscar a mala da maternidade e confirmar a questão do líquido, se estava transparente», diz Ana, que ainda tomou um duche «para relaxar».
Eram 07h00 de sexta-feira, dia 7, quando Ana deu entrada no Hospital Garcia de Orta, escolhido pelo casal pois desejavam um parto humanizado. «É um hospital amigo dos bebés. Sabíamos que era um sítio onde eu me iria sentir bem e onde as nossas ideias iriam ser respeitadas. Fizemos um plano de parto e entregámo-lo com antecedência. Graças a Deus!», sublinha Ana, entre gargalhadas.
Foram 23 horas de trabalho de parto. Entre contrações e suores, não faltou algo que tanto os apaixona. «Nós sabíamos que a música ia ser uma forma de nos acalmar e levámos connosco a nossa coluna dos Minions. Foi uma grande ajuda», conta Ana. «Ouvimos Rhye, Feist e também Baby I'm Yours, dos Arctic Monkeys», enumera Diogo.
Eram 22h32 quando Rodrigo se fez ouvir ao nascer num banco de parto. «Até me vieram as lágrimas aos olhos. Fiquei surpreendido ao ver como ele era grande. Nasceu com 50 cm», revela Diogo. Também Ana irradia felicidade ao recordar o momento do nascimento. «É um alívio ver que está tudo bem. Todas as emoções possíveis e imaginárias passam por nós».
Pais de primeira viagem, descrevem Rodrigo como um bebé muito sereno. «Gosta do contacto connosco. É um bebé curioso, como os pais», diz Ana. Já o pai destaca a expressão do olhar. «Ele é muito observador. Quando abre os olhos fica muito atento a olhar para a nossa cara e para as coisas». Casal de sorriso fácil e trato doce, Ana e Diogo são hoje pais babados e festivaleiros mais completos. Os dois acreditam que nada acontece por acaso. «No final daquele dia, foi o espaço Saúda que o Rodrigo escolheu para começar esta passagem para ao pé de nós. Isso vai ser algo inesquecível», atira Ana.
Texto de Irina Fernandes
Saiba mais na Revista Saúda e www.revistasauda.pt/Pages/treshistoriasdeamor.aspx
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