Todos temos a mania de que sabemos mais e melhor que os outros, especialmente no que diz respeito à educação dos filhos. Conseguimos ver a léguas os erros crassos que os coitados e ingénuos pais cometem para com as suas crias, conseguimos decifrar vontades e prever resultados com tanta clareza que até nem percebemos como é que os progenitores de tal criança não conseguem ver a asneira enorme que ela está a cometer.
Todos temos uma opinião a dar. Até sermos pais.
Uma das coisas que mais me incomoda é quando terceiros começam a tentar educar os meus filhos, ignorando por completo a minha presença ou a do pai, como se por momento fôssemos invisíveis.
Incomoda-me, não porque considere que os meus filhos são o exemplo vivo de uma educação briosa, que tenham modos exemplares e que repliquem os desejados melhores comportamentos de qualquer aprendiz de uma escola britânica interna de boas maneiras. Não, não são o exemplo, mas são bem-comportados, e quando não são, estou cá eu para decidir se (ou não) os irei educar à frente de terceiros.
A educação cabe ser dada pelos pais, e pode-se prolongar até aos avós, pois em muitos casos até passam mais tempo com os netos do que os pais.
São os pais que melhor conhecem a criança e sabem quando chamar à atenção ou não. Não considero apropriado chamar à atenção ao meu filho à frente de muita gente, pois vou envergonhá-lo, e esse não é o meu objetivo. Prefiro fazer isoladamente, quando ele estiver sozinho, e assim falar calmamente com ele. Portanto, se eu, mãe, não o faço, também não gosto que outros o façam por mim, só porque consideram imperativo ouvir um "obrigada" tímido e cabisbaixo, naquele preciso momento, naquele segundo crucial, com uma audiência vasta e atenta.
Muitas vezes, os pais optam por ignorar certas falhas em que os filhos tropeçam em público. Optam, deliberadamente, ou porque consideram que aquele não é o local indicado, ou porque a criança já está a demonstrar melhorias naquele departamento e não querem desmotivá-la, ou porque sabem que tal irá conduzir a uma birra e preferem então deixar passar aquele instante em branco e mais tarde revisitar, ou porque isto ou aquilo.
Não importa, são razões e decisões dos pais, e não de terceiros. Obviamente que não estamos a falar de grandes demonstrações de má criação, nem de faltas de respeito enormes que envergonham qualquer um, mas sim de "pormenores" sobre os quais nada se ganha ao identificá-los alto e bom som.
Sim, eu mãe, também não ouvi o tal "obrigada", e não, não me deu otite selectiva neste ultimo minuto que passou. Sim, eu mãe, também reparei que faltou algo no fim da frase, que normalmente até sei que não costuma faltar, mas hoje é aquele dia deixo terceiros terem a oportunidade de educar o meu filho, portanto vou fingir que não ouvi.
Sim, por favor, interpelam em minha defesa, pois estão combalida e não consigo educar mais o meu filho.
Ironias à parte, faço aqui um apelo. Quando sentirem a vontade súbita e incontornável de educar uma criança à frente dos seus pais, parem e pensem. É algo incrivelmente difícil de ignorar? É uma falta de educação tremenda e sentimo-nos insultados? Ou é um pormenor, um “por favor” esquecido, que nem sequer vale a pena referir? Um " obrigado" que embora não tenha sido verbalizado mas comunicado pelo sorriso e pelos gestos. Pensem, é assim tão imperativo ?
Marta Andrade Maia
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