“Quando fores mãe vais ver”. Eis uma frase gasta pelo tempo, mas de validade ilimitada. A maternidade muda a vida dos adultos. Pais e mães. Quem pensa que está preparado para a falta de sono e de liberdade, o cansaço e a alteração de rotinas, está bastante enganado. O Huffington Post pediu a um grupo de psicólogos que enumerasse as queixas mais comuns dos seus pacientes que acabam de ser pais. Os resultados são elucidativos:
“Não gosto de ser mãe/pai. Tenho saudades da vida antiga.”
“Claro que os pais recentes tinham expectativas irrealistas sobre a chegada de um bebé. Muitos acreditavam que a sua vida se manteria quase igual e que jamais teriam de lidar com uma coisa horrível chamada ‘birras’”, diz a terapeuta Tara Griffith, uma das especialistas contactados pelo Huffington Post. “Não há como entender o que é ser mãe ou pai até acordar com um filho nos braços. E por mais gratificante que seja esse papel, também é extremamente difícil e imprevisível”, sublinha a terapeuta. “Alguns recém-pais estão em processo de terapia para resolver a sensação extrema de culpa que carregam por não estarem a apreciar o seu novo papel. Isso parece um pequeno segredo sujo, já que há um mito sobre a maternidade e a paternidade, como se ter um bebé só trouxesse sentimentos de amor e alegria incondicionais. É fundamental desmontar esses sentimentos e lembrar os pais que qualquer mudança importante também pode ser desconfortável e perturbadora”. Tara Griffith defende que é fulcral “não ter medo de pedir apoio e de partilhar sentimentos com as pessoas mais próximas”. Com o tempo, “a vida vai voltar à normalidade”, assegura.
“Os outros pais parecem melhores do que eu.”
“Oito por cento dos pais da geração millenial dizem que a comunicação social projeta uma imagem dos outros pais que faz com que eles se sintam desadequados”, afirma Liz Higgins, terapeuta e fundadora de um centro de aconselhamento. “Há tantas formas ‘certas’ de ser mãe, tantas questões em aberto – desde o tipo de biberão que se escolhe até à amamentação em público – que os novos pais ficam perdidos”. A especialista acredita que esta geração é contra as opiniões do seu círculo mais próximo – incluindo a dos próprios pais – e a influência dos media.
“Estou preocupado porque me sinto perdido.”
Muitos pais lutam contra a mudança que dizem sentir desde que os filhos nasceram. “Mais as mulheres do que os homens, mas há uma imensa maioria que admite lidar mal com as mudanças radicais na sua vida, temendo perder a própria identidade”, defende Shanna Donhauser, terapeuta familiar e fundadora da Happy Nest
“E se eu não me envolver o suficiente?”
“Sou procurada por muitos homens preocupados com o seu desempenho como pais, sobretudo no que toca às emoções, mas também no que se refere às tarefas de cuidado com o bebé”, conta a especialista em saúde e relacionamento mental masculino, Justin Lioi. “Alguns nunca tomaram conta de um bebé, fosse irmão ou primo, mas eles querem evolver-se e partilhar a responsabilidade com a sua parceira”. No entanto, estão tão preocupados em não ser um fardo, que fazem muitas coisas erradas. “No início, podem cometer algumas asneiras, desanimar e recuar. Algumas mulheres não compreendem e rotulam estes pais de preguiçosos”. Isso deixa-os tristes e por vezes fá-los acreditar que não são tão importantes para os filhos como as mães.
“Será que estou a fazer mal?”
“Quando as mulheres se tornam mães, são dominadas por diversas emoções: preocupação, esperança, força, responsabilidade”, explica Gwendolyn Nelson-Terry, terapeuta matrimonial e familiar. É muita carga? Sem dúvida, mas o que todas realmente querem é “fazer as escolhas certas para os seus filhos”. “Trabalho com elas no sentido de ganharem confiança nas suas capacidades; ajudo-as a entender que errar é normal e tento fazê-las compreender – bem como aos pais – que não há ninguém perfeito”.
“Estou sempre preocupada. E eu não era assim.”
“Quando uma mulher se torna mãe, o seu cérebro muda”, diz a terapeuta familiar Mabel Yiu, explicando: “A massa cinzenta torna-se mais densa e a oxitocina faz aumentar a atividades das regiões que controlam a ansiedade, a empatia e a interação social. O lado bom é que isso estimula o sentimento maternal, o lado mau é que esse imenso amor e sentido de proteção provocam ansiedade”. Mabel Yiu conta que adota práticas de mindfulness e aprendizagem emocional para levar estas mães a diminuírem os níveis de stress. “Lembre-se de que a maioria dos bebés consegue adaptar-se às circunstâncias; eles são o produto de milhões de anos de evolução humana”.
“A maternidade está a alterar a minha relação amorosa”
Um bebé é sempre muito exigente em matéria de tempo, sobretudo no que toca à mãe, que tem de amamentá-lo a cada duas horas. “É por isso natural que a intimidade emocional, física, sexual e espiritual dos pais seja ameaçada pela falta de tempo de qualidade juntos”, diz Joyce Morley, terapeuta conjugal e familiar. “Aqui o importante é ter uma abordagem prática. Por exemplo, estimulando os pais a estabelecerem uma data semanal para saírem juntos, levá-los a procurar mais apoio da família e dos amigos”. Mas não só: “A mãe e o pai devem fazer uma divisão igualitária do trabalho, incluindo tarefas domésticas, sobretudo quando ambos estão trabalham fora de casa”.
“É suposto ser o momento alto da minha vida. E não sinto isso.”
Esqueça os filmes e os anúncios publicitários. Toda a propaganda à volta da relação mãe e filho explora a ideia da mulher perfeita – que não existe, certo? Mabel Yiu deixa um conselho: “Procure sites de humor para pais que estão a passar pela sua situação. Vai ver que ainda acaba a rir”.
“Tenho medo de ficar igual à minha mãe.”
Ser mãe – ou pai – é fazer uma viagem ao passado, desta vez a desempenhar um papel diferente: o do cuidador. “Isso leva quase todos os adultos a refletirem sobre a sua própria educação e relacionamento com os pais”, explica Tara Griffith. “Na terapia, os medos ou preocupações podem surgir em pais que estão a repetir padrões familiares disfuncionais e / ou estilos parentais. Os pacientes que não têm modelos parentais positivos tendem a preocupar-se mais com a falta de ferramentas ou experiências necessárias para criar os seus filhos de maneira saudável e afetuosa. Isso pode ser particularmente preocupante para os novos pais que chegam à terapia com um histórico de trauma ou abuso”, defende esta especialista, lembrando que, “embora as nossas experiências da infância possam moldar quem somos e que pais somos, isso não implica estarmos condenados a repetir os erros dos nossos pais.”
“Não sei dizer ‘não’.”
“Após o nascimento de um bebé, a família e os amigos querem ajudar, mas devem ser os novos pais a estabelecer os limites, decidindo como querem passar os primeiros dias do filho em casa”, diz Sarah Weisberg, psicóloga e fundadora do grupo de terapia Potomac. “É completamente aceitável dizer ‘não’ a uma visita inesperada se ela a obrigar a mudar os seus planos”. Por outro lado, os novos pais recebem dicas e sugestões constantes sobre a forma de tratar o bebé. Ninguém diz que essas opiniões não são bem-intencionadas, “mas às vezes um conselho pode parecer intrusivo e até crítico. Recomendo os pais a responderem de forma assertiva, pois creio que isso os ajuda a tornarem-se mais confiantes”.
“Sinto-me tão sozinha.”
“Recebo frequentemente mães e pais que se queixam de solidão”, confessa Sarah Weisberg. “É fundamental acabar com o estigma. Os novos pais devem ser encorajados a construir uma rede de apoios forte antes e depois de o bebé nascer e a não ter medo nem vergonha de procurar ajuda profissional ou participarem em grupos de apoio para pais.”
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