Li este desabafo com alguma atenção e compreendi que muitas mulheres se sentem assim. Mas, sinceramente, não entendo como.
Tenho amigas que se queixam disto mesmo. De terem ficado com as mamas flácidas e com o rabo cheio de estrias. De já não caberem nas minissaias número 36 e de evitarem, a todo o custo, roupas que lhes marquem as ancas largas. De não terem tempo para se maquilharem, para por um simples gancho no cabelo, para até tomar um banho. Que dizem que tudo isto fez com que perdessem a sensualidade e o brilho de antigamente (ou seja, a sensualidade e o brilho que tinham antes de nascerem os filhos).
Mas uma vez, não entendo como. Eu tenho quatro filhos com idades muito próximas e nunca deixei de tomar banho. Ora aproveitava as sestas deles, ora os punha aos quatro na casa de banho enquanto fazia macacadas que os entretivessem de modo a que, atrás da cortina, eu conseguisse tomar o meu duche. Eu tenho quatro filhos com idades muito próximas e nunca vesti a primeira coisa que agarrava no roupeiro. Tanto trabalho me dá pegar num saco de batatas como nos jeans e na camisa que repousam mesmo ao lado. Além de que o momento em que eles dormem, já na noite serrada, me parece a melhor das alturas para, com calma, escolher a indumentária do dia que se segue. Eu tenho quatro filhos com idades muito próximas e nunca deixei de pôr pelo menos uma sombra para ir trabalhar. Sim, é verdade que é tempo que eles reclamam. Mas sempre lhes fiz ver que eu também preciso do meu espaço.
Eu tenho quatro filhos com idades muito próximas e sempre tive tempo para mim. E não. Não sou a supermulher, não sou diferente da minha vizinha do lado, nem tenho um batalhão de baby-sitters para me aliviarem das responsabilidades maternas. Simplesmente aprendi a organizar-me. Mesmo que fora de horas.
Também não entendo esta coisa de as mulheres acharem que a idade e a maternidade lhes tirou o brilho. Confesso que, mesmo com estrias, flacidez e um número acima de calças, não me trocava pelo que fui há 15 anos. Esta segurança, esta confiança e esta polivalência – que é precisamente a maternidade que nos traz – torna-nos mulheres muito mais bonitas e interessantes. É exatamente o facto de conseguirmos fazer muito no pouco tempo que os outros reclamam que nos torna pessoas especiais.
“Estou gorda”, “estou flácida”, “estou acabada”. Reconhecem-se nestas frases? Mas será que se reconhecem como as mulheres incríveis, vividas, experientes, maduras e fantásticas que, muito para lá do peso, das medidas ou da pele imaculada, vos torna pessoas muito mais interessantes e até sensuais?
Acredito que, a partir de determinada idade, a maioria dos homens não procura a mais bonita mulher do mundo, mas antes a mais incrível. Aquela que já não entra em depressão com a borbulha que apareceu no meio da testa, nem com as consequências de um pastel de nata comido por impulso e muito menos com a saliência de celulite que se vai notar nos jeans mais justos. Na verdade, isto é tão importante quanto os cabelos brancos, a barriguinha ou as rugas de expressão que já são evidentes no corpo do homem que se ama. Detalhes, apenas detalhes.
Porque o mais importante - aquilo que, feitas as contas, é o que faz de nós mulheres - não é como parece que somos nem como os outros julgam que somos. O mais importante é aquilo que nos esforçamos por ser.
(E, ainda mais importante que isso, que o sejamos por nós. Não apenas pelo homem que, no final de cada dia, entra em casa à espera de encontrar já pronto o jantar que vai saborear.)
Alda Benamor
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