Costumo dizer que já sou um pouco antiga e não me lembro que as EXPRESSÕES tenham merecido uma atenção minimamente satisfatória da parte de quem de direito.

Assim sendo, fui consultar a página http://www.dge.mec.pt/expressoes-artisticas-e-fisico-motoras e lá está um velho livrinho que conheci há muitos anos, com bastantes páginas, detalhando preto no branco  o que  têm as criancinhas de fazer nos dois anos de escola que são objeto das ditas provas que abarcam quatro domínios: as chamadas Expressão e Educação Físico-Motora, Musical, Dramática e Plástica.

Só para a Físico-Motora não é pouco o que  há para treinar e aprender a fazer só com bolas e arcos. Seguem-se exercícios para perícia e manipulação: ra­stejar, rolar, fazer cambalhota, saltar, cair, subir e descer, curvar, travar e deslizar (em patins) deslocar-se , transpor, suspender e balançar, são verbos que iniciam as instruções do que há para fazer. Tudo isto em concurso individual ou estafeta e a pares. Acrescentam-se a prática de jogos infantis, as  atividades rítmicas expressivas - dança - e por fim o bloco sete, p­ercursos na natureza,  tudo para exercitar e combinar habilidades anteriores. É OBRA!

Para a Expressão Musical  é considerada a prática do canto como base e daí o trabalhar com a voz, com instrumentos, tudo isto enquanto atividades lúdicas para enriquecer  vivências sonoro-musicais das crianças; a audição ao vivo ou de gravação, o contacto com as atividades musicais da região, com as canções do património regional e nacional. E lá está enumeração do que há que fazer com a voz, o corpo, o desenvolvimento auditivo; com a experimentação construção e utilização de instrumentos musicais... É OBRA!

E por aí adiante explicitando o que há a fazer e a aprender nas duas outras expressões artísticas, a Dramática e a Plástica. É OBRA!

Na verdade todos sabemos que as referidas expressões são vias de excelência para que as crianças desenvolvam formas pessoais de expressar as emoções e o seu mundo interior, descubram interesses e aptidões que desconheciam antes, acrescentem mundo ao seu mundo. Constituem fontes de criatividade, de bem- estar, de saúde física e mental, de partilha, de vivência grupal. São claramente razões poderosas para se exigir que sejam áreas tão nobres como as outras áreas do currículo, mas não o são. Não é seguramente a prova de aferição que lhes vai dar a nobreza. Vejamos porquê.

Tal como as restantes áreas do currículo, as Expressões são trabalhadas  pelo professor do 1º ciclo dentro do horário de sala de aula, sendo-lhes destinadas, em geral, três horas semanais. Mas é preciso que se saiba que os governos anteriores foram definindo prioridades para a formação contínua de professores e contemplaram o Português, a Matemática, as Tecnologias e agora a Promoção do Sucesso Escolar. Nada que tenha a ver com as áreas em causa,  ficando em espera o tal desenvolvimento integral das crianças. Sendo que nos últimos anos todas as horas eram poucas para treinar sem descanso conteúdos gigantes para os exames, quem se poderia lembrar de que havia tanto para fazer nas três horas semanais com Expressões Artísticas e Físico-Motoras? E como fazer dentro do tempo curricular? Com que recursos?

Ainda que os professores do 1º ciclo tivessem sido tocados por alguma magia que produzisse milagres artísticos e desportivos temos de lembrar que numa mesma turma há alunos que só beneficiam do que se faz dentro do horário escolar, mas temos também entre esses os que frequentam cumulativamente as AEC e os que tiveram atividades custeadas pelos pais. E ainda alguns que beneficiaram de desporto escolar. UF!

Sendo esta a realidade, o que é preciso perguntar ao senhor ministro é O QUE VAI ELE AFERIR com estas  provas? Os resultados do que foi feito em sala de aula? Do que foi feito pelas AECs? Do que foi custeado pelos pais que colocaram os seus filhos em escolas de desporto, de música, de dança?

Se tais EXPRESSÕES estão num currículo que deverá ser para TODOS e se é esse que se quer avaliar, então está na cara que, por razões de diferente natureza, os resultados destas provas não poderão ser credíveis. Que resultados vão apresentar aos meninos de sete anos assim avaliados? E aos seus pais? Há pais que consideram a prova uma brincadeira. Brincadeira, distração?

Agora para terminar senhor ministro não se esqueça de integrar as EXPRESSÕES nos Programas de Promoção do Sucesso. São decisivas! Não sou eu que o digo, claro, são especialistas que sabem do que falam e projetos credíveis que o demonstram.

Maria de Lurdes Monteiro

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