Às raparigas oferecem-se nenucos para cuidar, com direito a todos os acessórios necessários: carrinho de bebé, biberon, mudas de roupa, fraldas e por aí fora… As mulheres tendem a ser incentivadas a praticar a maternidade desde a infância. Porque é uma aprendizagem. Muito antes de serem mães já lhes foi estimulado o carinho por um recém-nascido e incutido o sentimento de responsabilidade para com o mesmo. O cenário muda radicalmente no que toca às brincadeiras dos rapazes. Talvez por isso não lhes tenha sido atribuída a capacidade de sentir o equivalente ao instinto maternal. Até agora…

A ligação entre mãe e filho ocorre a um nível tão profundo que continua a ser difícil de descrever. Mas será que os homens também partilham uma espécie de cordão umbilical invisível com os filhos? A neurociência e a sociologia dizem que sim. Os homens que assumem o papel de principais cuidadores dos filhos apresentam maior atividade nas áreas do cérebro que processam as emoções, concluiu um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, em 2014. Conduzida por Ruth Feldman, professora de Psicologia na Universidade Bar-Ilan, em Israel, a investigação sugere a possibilidade de existir uma rede nervosa sensível à função que os pais ocupam na educação dos filhos.

Ruth Feldman descobriu isso após a análise da atividade dos cérebros de 89 participantes, captada enquanto assistiam a vídeos que mostravam convívio entre pais e filhos. As 20 mães heterossexuais observadas registaram uma atividade na amígdala cinco vezes superior àquela registada pelos 21 pais heterossexuais examinados, cuja função era secundária na educação dos filhos. Isto deve-se ao facto de o cuidado paternal ser processado através do sulco temporal superior, associado à função cognitiva. Já no caso dos 48 pais homossexuais observados, ambas as zonas cerebrais se ativaram, tal como as mães.

Aprender a ser pai

Independentemente da função que desempenhavam na educação e criação dos filhos, os participantes nessa investigação registaram praticamente os mesmos níveis da hormona do afeto, a oxitocina. Estudos recentes indicam que os homens estão a mudar de atitude em relação à parentalidade, ajustando prioridades e comportamentos para estarem mais presentes no crescimento e na educação dos filhos. E os censos nacionais mais recentes revelam uma outra tendência interessante.

Entre 2000 e 2014, o número de agregados monoparentais masculinos (em que apenas o pai cuida e educa os filhos) aumentou 33%, menos 1% do que o número de agregados monoparentais femininos. Ainda assim, o número de agregados monoparentais femininos continua a ser muito superior em Portugal. Serão 360.000, face aos 60.000 masculinos. Números que indicam que, na nossa cultura, as mulheres ainda são consideradas as principais cuidadoras dos filhos.

Texto: Filipa Basílio da Silva