Com a pandemia, também as crianças se depararam com novas rotinas, novas formas de estar com a família e muitas privações. Deixaram a sua escola, os seus amigos, a sua educadora/professora, os seus familiares (avós, tios, primos) e até aquele parque infantil onde iam depois de saírem da escola que não pode ser utilizado. São imensas as restrições que tiveram e têm de aceitar de imediato e, naturalmente, que não pode ser fácil aceitar e não ripostar. As crianças falam muitas vezes com o seu corpo e este pode ser um momento em que não é diferente. Justamente por isso pode ser relevante compreender algumas reações inesperadas, aceitando, intervindo ou pedindo ajuda.
As birras, a intensa irritabilidade e reatividade emocional, o choro frequente e a baixa resistência à frustração são algumas das manifestações mais comuns. O que podemos fazer inicialmente é observar e anotar sintomas, verificando a frequência, duração e intensidade dos comportamentos. É importante analisar se acontece apenas neste contexto de vida ou se anteriormente já haviam sido observadas. Algumas crianças já apresentavam sintomas, mas que neste período acabaram por ser tornar mais intensos.
Podemos estar perante a Perturbação de Oposição e Desafio que consiste na alteração de múltiplas dimensões, cujos sintomas principais são a criança apresentar um padrão de comportamento negativo, desafiador, desobediente, hostil com frequência e intensidade não expectável para a sua faixa etária. O descontrolo emocional e a agressividade também são comuns, incluindo por vezes violência verbal e física.
A criança tem tendência a manifestar o comportamento mais frequentemente com pessoas do seu círculo habitual, mas também o pode exibir com outras pessoas. Esta perturbação necessita de uma intervenção precoce, pois sem o treino de competências parentais e aconselhamento à família tende a piorar, influenciando toda a dinâmica familiar. O desgaste é imenso o que leva a que, muitas vezes, os pais cedam às vontades e desejos da criança e isso apenas contribui para adiar a hostilidade e a desobediência.
Na vida quotidiana, tendencialmente, o convívio social entre amigos e família do núcleo próximo é eliminado, assim como a frequência de locais públicos porque se torna desconfortável e desgastante para os pais e, muitas vezes, também, para a criança pela ausência de estrutura de atividades e rotinas. A Perturbação de Oposição e Desafio afeta todos em redor e a procura de ajuda, por vezes, acontece com o desespero dos pais, após demasiado tempo em que a criança tem um comportamento caracterizado por dificuldade em seguir regras ou instruções, sendo cada vez mais reativa, impulsiva, desafiadora e opositiva.
É indispensável ter em consideração o momento de vida da criança (instabilidade familiar, doença, perdas) e as condições da atitude de desobediência antes de julgar se estamos perante uma perturbação, pois pode ser um meio de se autoafirmar ou não entendimento das instruções ou não saber executar o pedido formulado.
Algumas possibilidades para tentar agir com uma criança desafiante e opositiva:
- Identificar os sinais;
- Conversar com a criança acerca das suas reações;
- Ajudar a criança a identificar as suas emoções;
- Ensinar formas de lidar com a frustração;
- Comunicar com clareza;
- Não reagir impulsivamente;
- Tornar-se um exemplo;
- Consistência nas regras e limites impostos;
Quando a criança conhece a autoridade do adulto, compreende intelectualmente a proibição, sabe a necessidade de respeitar os limites e as instruções, vivenciou consequências e mantém o mesmo procedimento, será relevante procurar ajuda especializada.
Sandra Helena - Psicóloga clínica e Psicoterapeuta de crianças e adolescentes
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